sexta-feira, 31 de março de 2017

Calcetamento das ruas e saneamento

O largo da Amoreira ( Chafariz) já está calcetado.
E o saneamento vai mesmo avançar. O resto das obras começarão em breve bem como a respectiva ligação até à estação de tratamento de Vila Fernando. Óptimas notícias, portanto.

Entrevistas e sugestões

Vamos agora fazer uma pausa nas entrevistas e sugestões de leitura. Lá para Maio/Junho voltamos "à carga".

terça-feira, 28 de março de 2017

Sugestão de leitura

Carlos Fernando Varandas Nunes, para muitos é o Carlos Varandas e para a família é o Carlos Fernando. Nasceu em Moçambique em 1968, veio para Portugal em Novembro de 1974, indo viver 1 ano na aldeia dos seus Pais, o Adão. Como ele diz “ Nasci em Moçambique  mas sou do Adão",  adoptando Vila Mendo como a sua segunda aldeia.
É Profissional da Educação ( Não Docente) Formador, Técnico Superior de Higiene e Segurança, Dirigente Sindical, sendo neste momento Vice-Presidente do Sindicato Técnicos Superiores Assistentes e Auxiliares de Educação Zona Centro (desde o VI Congresso a 24 de Novembro de 2015), coordenador da formação do Sindicato. 
Mestrado em Gestão Administração Pública, pelo Instituto Politécnico da Guarda, Outubro 2013.
Pós- Graduação em Administração Pública, pela Escola Superior e Tecnologia e Gestão- IPG, Guarda 2011/2012. Pós - Graduação em Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, na Universidade da Beira Interior- de 2 anos Letivos com defesa de Trabalho 2001/2002 e 2002/2003- conferindo-lhe o CAP de Técnico Superior de Higiene e Segurança no Trabalho. Licenciatura em Ciências Administrativas, pela Universidade Fernando Pessoa – Porto,1999
Membro dos movimentos pela vida, tendo sido agraciado com a Medalha de Mérito da Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa por Dom Duarte, Duque de Bragança, em 2007.

Os Predadores- Vítor Matos

Tudo o que os políticos dos grandes partidos fazem para conquistar o poder é o que o jornalista Vítor Matos se dispôs a estudar e a colocar em livro. O autor de "Os Predadores" revela a podridão que há no PSD e PS e explica como funcionam os caciques e as redes de influência nos referidos partidos. Faz uma investigação jornalística independente, o autor da biografia de Marcelo Rebelo de Sousa... Nascido em Grândola um ano antes da revolução de 74, passou 10 meses a investigar os podres nas eleições internas dos dois partidos que têm alternado na governação do país - PS e PSD - mas há mais de uma década que vem denunciando casos que fazem perigar a democracia em Portugal. O retrato traçado em "Os Predadores", que explica "tudo o que os políticos fazem para conquistar o poder", é desanimador para quem acredita na política: há histórias de eleições falseadas, troca de votos por cargos e favores, de políticos que se perpetuam no poder com muitas manhas. Neste jogo, não há inocentes, só culpados que "estão a matar a democracia em Portugal". Leia, se tiver estômago.
Chapeladas, manipulações e outras vigarices que os políticos fazem param conquistar o poder. Na luta pela sobrevivência, são os predadores mais aptos ou os camaleões mais dissimulados que têm vantagem sobre os ingénuos e os bem-intencionados. Como Relvas fabricou Passos Coelho através de uma rede de influências e recompensas. A clientela partidária de António Costa na câmara de Lisboa.
Uma investigação jornalística sobre os vícios do poder em Portugal. Os casos relatados foram escolhidos por serem exemplares, no mau sentido, e demonstram que os partidos têm de começar a mudar por dentro, para que a democracia não seja posta em causa.

segunda-feira, 27 de março de 2017

sexta-feira, 24 de março de 2017

Entrevista a Alexandre Calçada

Alexandre Manuel Matias Calçada, nasceu a 6 de Fevereiro do ano de 1995, no Hospital de Sousa Martins, na Guarda. Filho de Manuel Gomes Calçada e Isabel Vaz Matias Calçada e, há quase doze anos, irmão de Catarina Matias Calçada. Reside no Penedo da Sé, freguesia do Marmeleiro.
Cresceu na melhor aldeia das redondezas, na casa da avó Alice e da avó Gracinda e a jogar à bola na Casa da Sagrada Família. Fez o Ensino Básico nas escolas Augusto Gil e de Santa Clara, tendo terminado o 12º ano na Escola Secundária de Afonso de Albuquerque. Atualmente estuda na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. 
Adepto do desporto e fã da cidade mais alta, não dispensa um fim-de-semana na Guarda com a companhia dos familiares e amigos.

Que motivos levaram à escolha do curso que frequentas?
No término do ensino secundário, as razões pelas quais iria escolher ou não determinado curso não eram as mais claras. Penso que alguns factores me possam ter mobilizado de forma menos consciente para esta escolha. Por outro lado, após algum contacto, não só, com o exercício desta profissão, bem como com as necessidades da população neste aspeto, fazem com que agora talvez perceba melhor a razão daquela escolha. A possibilidade de poder conhecer melhor a história de cada um, que expõe todas as suas vulnerabilidades, tentar descobrir a causa do seu sofrimento e ao mesmo tempo minorá-lo, são as razões que me motivam a continuar a estudar e a escolher este curso todos os dias.

Como é o ambiente, como são as dinâmicas da cidade onde estudas (Lisboa) comparativamente com a Guarda?
A cada uma destas cidades associo momentos da vida distintos, o que as torna difíceis de comparar em alguns aspetos. Por outro lado são cidades muito diferentes em todos os níveis: quer sociais, académicos ou culturais. Lisboa é por eleição a cidade da pluralidade cultural, da diversidade, a porta de entrada para a Europa, a cidade do turismo, do mar, do trânsito desenfreado. A Guarda são as origens, a terra, a tranquilidade, o frio, a identidade, o porto seguro.

Que expectativas tens no términus do curso?
Após o Mestrado gostava de ter a oportunidade de poder ingressar numa especialidade médica, onde pudesse adquirir as capacidades e o conhecimento necessários para cumprir os objetivos que referi. Por outro lado, num eventual futuro, conciliar tudo isto com a vida familiar sempre foi o principal objetivo.

Voltar à Guarda está nos teus horizontes? Porquê? 
Nunca encarei a mudança de cidade, para o ingresso no Ensino Superior, como um ponto de partida para me fixar definitivamente noutro local. Sempre considerei a saída da Guarda como temporária. É aqui que estão as minhas origens, onde criei os maiores laços emocionais e familiares. É aqui que estão os costumes, as tradições e a tranquilidade que sempre me mantiveram apaixonado por esta terra. É a esta cidade que devo aquilo que sou e tudo o que aprendi. Reconheço que enquanto estudante me seja mais fácil manter este ponto de vista, mas espero que todas as futuras decisões me possam levar, mais cedo ou mais tarde, de volta.

És natural do Penedo-Marmeleiro. Como vês o futuro das comunidades rurais em geral e do Penedo em particular?
Apesar de não conseguir ter uma perspetiva semelhante à dos meus avós ou mesmo dos meus pais, que puderam presenciar uma outra face da vida nesta aldeia, as suas lembranças e relatos permitem-me ter uma ideia que como tudo já foi diferente. No entanto, não é preciso recuar muito mais de 15 anos para encontrar aqui uma escola primária ou ver outras caras conhecidas nestas ruas. Muito se perdeu para além disto. O envelhecimento da aldeia e das pessoas é mais que visível, mas é com muito agrado que posso presenciar não só as visitas cada vez mais frequentes, como também o regresso de pessoas à sua terra, nomeadamente após a idade da reforma. De facto, não é isto que permitirá um rejuvenescimento significativo da população, no entanto é a prova de que o bem-estar que estas terras do interior proporcionam não é esquecido. Não é de esperar que a curto prazo se estabeleçam grandes iniciativas que sustentem o desenvolvimento económico das pequenas aldeias, por outro lado, enquanto estas localidades forem motivo de saudade, alegria do regresso, convívio nos eventos festivos e tradições, estas continuarão na memória de todos. Que no futuro deixem de ser apenas um local de passagem.

Na tua opinião, quais seriam as medidas a tomar para travar a morte lenta do Interior como tal?
Existe a necessidade de, por um lado, reter as pessoas no interior e, por outro, atrair a população para o interior. Acordar a cidade que parece congelada no tempo. A dinamização da vida cultural e a animação das cidades é uma das formas de promover a permanência da população e aumentar o fluxo turístico na região. Medidas que facilitem a criação e manutenção de um negócio e que tragam benefícios ao investimento na nossa cidade comparativamente a outros locais. Medidas que favoreçam a procura das instituições de Ensino Superior no interior do país pelos jovens, diversificando e aumentando a oferta para a formação. Que seja vantajoso estudar, investir, viver aqui. Medidas estas muito vagas para a urgência da situação, mas que podem ser o início de algo melhor.

Vila Mendo, diz-te algo?
Durante muitos anos, todas as manhãs, a caminho da cidade da Guarda, me cruzei com as placas de trânsito que indicam o caminho até Vila Mendo. Até ao momento não sou o seu visitante mais assíduo, no entanto, para o povo e visitantes do mês de Agosto do Penedo da Sé, uma passagem pela Festa de Santo André sempre valeu a pena. Ainda neste sentido, a Associação Cultural e Recreativa de Vila Mendo impõe-se como um exemplo a seguir para a dinamização das localidades vizinhas.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Momentos

No dia do "galo de cabidela" oferecido pela GMP advogados

terça-feira, 21 de março de 2017

Sugestão de leitura

José Manuel Gonçalves Monteiro (1957)- nasceu em Quinta dos Prados, Panóias e estudou nos Seminários da Guarda. Licenciado em Estudos Clássicos e Portugueses pela Universidade de Lisboa é professor na Escola Afonso de Albuquerque na Guarda tendo leccionado ainda na Escola Secundária da Sé e em várias escolas da zona de Lisboa. Tem escrito textos para jornais e revistas da cidade e publicou um livro de poesia em 2015 (A (im)perfeição dos dias); fez a biografia de Nuno de Montemor (Alma Brava, Meiga) para a Câmara Municipal da Guarda.

Maria Mim- Nuno de Montemor
Pedem-me que dê sugestões de leituras aos frequentadores deste blogue. Quase me apetecia sugerir para iniciar um autor e não uma obra. Contudo, e respeitando a vontade do dinamizador, vou falar brevemente de uma obra que já deveria estar reeditada há muito, mas, felizmente, anda por aí numa edição da Câmara Municipal do Sabugal.
O livro que recomendo é o romance, ou novela se se preferir, “Maria Mim” de Nuno de Montemor. A razão principal desta proposta é que se trata de um autor ligado à nossa região e que tem estado esquecido. Outra razão é que a acção da história se passa em Quadrazais e gira à volta de uns amores entre uma quadrazenha e um alferes destacado no Sabugal para refrear o contrabando que se fazia naquela zona. Uma última razão é que o livro está bem escrito e se lê de uma penada. 
(Foi sugerida, há bem pouco tempo, uma união de esforços das Câmaras da Guarda e do Sabugal para a reedição de todas as obras deste autor. Espero que a sugestão não tenha caído no esquecimento.)

segunda-feira, 20 de março de 2017

sexta-feira, 17 de março de 2017

Capeia Arraiana- José Carlos Lages

José Carlos Lages- Natural do Sabugal é Professor universitário e Jornalista. É administrador do blogue "Capeia Arraiana". Tem desenvolvido a sua actividade na área dos conteúdos online: Gestor de portal online, criação de páginas para internet, acessor de comunicação e imagem, fotocompositor e paginador, entre outras coisas. É director do jornal mensuário "Sabugal", chefe de redacção da revista "Media XXI" e faz serviço voluntário na Força Aérea. Confrade-fundador e vice-chanceler da Confraria do Bucho Raiano, sócio fundador na Associação dos Amigos de Ruivós e sócio da Casa do Concelho do Sabugal em Lisboa.

É um defensor e apaixonado das tradições, dos costumes e das gentes da zona Arraiana, valorizando-as e promovendo-as. Teremos todo o gosto, de um dia, o receber em Vila Mendo.

Capeia Arraiana – a importância da tradição como valorização, promoção e desenvolvimento das comunidades raianas de Riba-Côa

 O concelho do Sabugal, no distrito da Guarda, tem uma área de 822,70 km2 (muito aproximada à ilha da da Madeira) e regista «apenas» 12 mil habitantes residentes. No mês de Agosto as persianas das «maisons» dos emigrantes abrem-se para ver passar a procissão do santo padroeiro da aldeia e a população triplica com um palavreado onde se misturam - e muito - as expressões francesas com o sotaque beirão raiano. O cartão de visita do Sabugal apresenta valiosos patrimónios históricos, gastronómicos e culturais unidos por tradições como a Capeia Arraiana que personifica a alma da identidade raiana dos sabugalenses.

O rio Côa nasce na Serra das Mesas, freguesia raiana dos Fóios e saltita cristalino e gelado transpondo seixos e barrocos através da Serra da Malcata fazendo uma breve pernoita na barragem do Sabugal antes de seguir viagem para Norte em direcção ao Douro e, por influência do homem, para terras da Cova da Beira.
No seu curso natural de 135 quilómetros alimenta a criação de trutas no viveiro de Quadrazais, dá um «estejas com Deus» ao castelo dionisino das cinco quinas do Sabugal que lhe responde – Vai com Deus! - e segue determinado em direcção a Vila Nova de Foz Côa. Para trás deixa belas praias fluviais naturais nos Fóios, Quadrazais, Sabugal, Rapoula do Côa, Vale das Éguas e Badamalos que têm vindo a cativar cada vez mais utentes nos quentes e secos meses do Verão.
O Côa tem um irmão gémeo – o rio Águeda – que também nasce na serra das Mesas do lado espanhol mas entendeu passear-se por terras de Castilla em direcção a Ciudad Rodrigo. A elevação rochosa por onde passa a linha de fronteira é protagonista estratégica única à escala da religião mundial. Em determinado local, perfeitamente identificado, sentavam-se à mesa quatro bispos – Lamego, Ciudad Rodrigo, Cória e Guarda – sem que nenhum saísse da sua diocese. Uma particularidade que mereceu em tempos um estudo e projecto de capela pelo autarca José Manuel Campos dos Fóios.
O território onde correm estes dois rios designa-se Riba-Côa e integra os concelhos do Sabugal, Almeida, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel e Vila Nova de Foz Côa com um riquíssimo património histórico edificado onde se destacam os cinco castelos sabugalenses – das cinco quinas na vila sede de concelho, em Alfaiates, em Vilar Maior, em Vila do Touro e a aldeia histórica de Sortelha – os de Castelo Bom, Castelo Melhor, Castelo Mendo, Castelo Rodrigo, Monforte, Pinhel, a fortaleza amuralhada de Almeida e muitos pelourinhos que ficaram para nos lembrar a importância de algumas povoações agora praticamente desumanizadas.
Os sabugalenses, povo contrabandista e emigrante - sempre estiveram mais virados para Espanha do que para Lisboa. Como escreveu um dia o filósofo e pensador quadrazenho Pinharanda Gomes: «Não temos pruridos separatistas mas somos e sabemos que somos uma região, mesmo ignorada pela pertinaz ignorância das administrações centrais de Portugal. Somos uma região.»
O rei D. Dinis foi fundamental para Portugal e, em especial, para a região raiana de Riba-Côa. Após o Tratado de Alcanices, assinado a 12 de Setembro de 1279, entre os soberanos de Portugal, D. Dinis e de Leão e Castela, Fernando IV, o rio Côa deixou de fazer a fronteira entre os dois reinados e os marcos avançaram para Leste para as delimitações onde ainda hoje se encontram. Também por isso os sabugalenses das terras frias (entre o rio e a actual fronteira) dizem que o seu primeiro rei português foi... D. Dinis.
O Côa une e divide o concelho sabugalense em dois territórios com características climáticas muito diversas. Do lado de Sortelha as temperaturas das «Terras Quentes» são mais amenas e permitem culturas como, por exemplo, o azeite de muita qualidade. Do lado da Raia as principais culturas são resistentes à neve e às geadas que chegam cedo e «abalam» tarde.
Mas, o principal elemento diferenciador é, de facto, a Capeia Arraiana, que traduz de forma absorvente a identidade da alma do sabugalense raiano.
Desde a primeira Capeia do ano, em Aldeia Velha, com o pessoal a aquecer-se à volta das fogueiras que sobraram da passagem de ano tudo é motivo para a fiesta. O Entrudo, o domingo gordo, a Páscoa, o Santo António, o São João ou o São Pedro dão o mote para justificar o cartaz ou o alerta no final da missa domingueira.
O mês de Agosto carrega sempre o secreto apelo do regresso às origens para os que estão longe. No concelho do Sabugal faz povoar as aldeias, abrir as persianas, lotar os bancos das igrejas e encher os lugares públicos com um estranho mas familiar linguajar mesclado aqui e ali de expressões e palavras de origem francesa. Mas, para muitos dos sabugalenses é o tempo da mãe de todas as touradas – a Capeia Arraiana – espectáculo único que andou escondido esotericamente nas praças das nossas aldeias e que, agora, de há uns anos para cá parece ter perdido a vergonha e tudo faz para se dar a conhecer ao mundo. A tradição manda que as touradas com forcão, precedidas de encerro, se iniciem na Lageosa no dia 6 de Agosto e terminem em Aldeia Velha no dia 25. E que se oiça bem alto o grito: «Agarráááio»
Pelo meio dezenas de capeias, diurnas e nocturnas, encerros, desencerros, animam as férias dos que voltam todos os anos de propósito de Lisboa, de França, da Suíça ou do Luxemburgo. E, também por isso, se diz pela Raia que «onde há cornos há gente».
É a fiesta da Raia, é a fiesta dos raianos, da alma raiana. O climáx tem lugar na mãe de todas as Capeias no Festival «Ó Forcão Rapazes» realizado anualmente e de forma alternada nas praças de Aldeia da Ponte e do Soito. Nesse dia reúnem-se as equipas de Alfaiates, Aldeia do Bispo, Aldeia da Ponte, Aldeia Velha, Fóios, Forcalhos, Lageosa da Raia, Ozendo e Soito lidando com bravura pessoal e colectiva e à vez um touro sorteado ao som do apoio das respectivas claques de apoio.
Um dos mais lidos escritores raianos, Joaquim Manuel Correia, no seu livro «Memórias do Concelho do Sabugal» publicado no início do século passado diz que a coragem dos rapazes das aldeias media-se pela sua participação e valentia a agarrar ao Forcão. «Os rapazes não arranjavam namorada se não se metessem nos touros e aí daquele que se recusasse, que era homem desprezado pelas moças».
Mas... Forcão? O que é isso do forcão?
Sem forcão não há Capeia Arraiana. É esse arranjo de madeira com galhas atadas em forma de triângulo que faz toda a diferença. É uma estrutura triangular com três grossas galhas colocadas e atadas em forma de forquilha. A galha do meio divido o forcão em duas partes iguais e prolonga-se na traseira para permitir o leme ou rabiche, zona de comando onde agarram os rabejadores ou rabicheiros. O Forcão pode pesar 20 arrobas e é manejado em praça por cerca de 30 rapazes.
O historiador Adérito Tavares no seu livro «Capeia Arraiana» diz-nos que o termo pode derivar do francês «fourchette» e que «as capeias foram surgindo primeiro com uma ou duas vacas bravas que eram roubadas do lado de lá da Raia e depois com vacas emprestadas para pagar o prejuízo aos agricultores que viam as suas culturas dizimadas pelos animais espanhóis».
A Casa do Concelho do Sabugal, em Lisboa, organiza anualmente a festa dos sabugalenses na Capital. A primeira teve lugar no Campo Pequeno a 4 de Junho de 1978 e foi nesse tempo explicada assim pelos organizadores: «O nome Capeia Arraiana que demos à tourada no Campo Pequeno resultou de assim serem chamadas as touradas características das aldeias fronteiriças do nosso concelho. O termo caracteriza uma tourada em praça improvisada. Não foi concretamente o caso, mas o facto de termos trazido o Forcão conjuntamente com a realização do chamado Passeio dos Rapazes foi o bastante para que o termo se afigurasse ajustado.»
António Cabanas (texto) e Joaquim Tomé Tutatux (fotografia) publicaram recentemente um livro que tem um título sugestivo: «Forcão – Capeia Arraiana» Na página 201 pode ler-se: «Ó Forcão Rapazes! Dia de Capeia! Que excitação, que alegria no rosto e nos olhos! É como uma febre benigna que até os doentes revigora. A terra está cheia de gente, parentes e amigos que chegam de todo o país, e da França, da Alemanha, da Suíça, do Canadá e da América... Onde haja emigrante raiano, sempre se arranja as vacanças para Agosto e ele aí vem! É o apelo da Capeia, maleita para a qual não há vacina. Faz um gostinho à alma e mata saudades da família. Dois coelhos duma só cajadada...» ou ainda «A Capeia Arraiana não é uma tauromaquia qualquer. Como uma espécie de religião em que se acredita, não basta assistir, é preciso participar, ir ao encerro, comer a bucha, beber uns goles da borratcha e voltar com os touros, subir para as calampeiras, ser mordomo, ser crítico tauromáquico, discutir a qualidade dos bitchos da lide ou, simplesmente, ser fotógrafo da corrida que não deixa ninguém indiferente, corre na massa do sangue, provoca um nervoso miudinho, levanta os pêlos do peito, atarracha a garganta e perturba o sono. É um desassossego colectivo que comove.»
Bastas vezes ouvi autarcas dos municípios em redor comentar que as Capeias são uma «desculpa» para que os emigrantes voltem ano após ano e que «só era pena nas suas terras não terem um fenómeno com esta grandeza». Assim é de facto. A Raia sabugalense tem uma tradição que mexe e remexe com a vida das populações locais. Que se mantenha viva pela eternidade.

Confraria do Bucho Raiano
Outro dos factores que tem contribuído para a importância das tradições como valorização, promoção e desenvolvimento dos sabugalenses é a Confraria do Bucho Raiano que realiza anualmente um almoço no Entrudo para recordar as antigas reuniões familiares onde o bucho vinha à mesa acompanhado de batatas cozidas e grelos para festejar o Domingo Gordo antes do período de abstinência da Quaresma. O recordar desta tradição gastronómica tem aumento de ano para ano o número de participantes, bem como o número de confrarias gastronómicas de todo o País.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Momentos- o merceeiro

O apito do merceeiro traz consigo alguma agitação ao lento respirar dos dias em Vila Mendo. Trocam-se dois dedos de conversa, fala-se deste ou daquele, dão-se opiniões sobre tudo e sobre nada. Cimentam-se as relações, alicerçam-se afazeres e o tempo ganha outro significado e outra dimensão face à solidão que, por vezes, invade a existência das pessoas. 
São momentos... simples... momentos.

terça-feira, 14 de março de 2017

Sugestão de leitura

Hélder Pires- casado, 60 anos, dois filhos e duas netas e reside em Pousade.
Profissionalmente sempre trabalhou numa empresa financeira, onde foi coordenador das áreas de análise, controlo e concessão de crédito e por último no desenvolvimento de scoring comportamental. Actualmente está reformado.

Quem Mexeu no Meu Queijo?- Spencer Johnson

Tal como aconteceu com muitos de nós, enquanto tal, também agora os adolescentes se confrontam com muitas dúvidas quando confrontados com as escolhas no âmbito escolar. Que caminho a seguir, que curso, qual a preferência profissional.
Em 1998 foi editado um pequeno livro com o sugestivo titulo “Who Moved My Cheese?” em português “Quem Mexeu no Meu Queijo?”, escrito por Spencer Johnson. Tratando-se de uma parábola sobre 4 ratinhos com diferentes atitudes para atingir o objectivo (encontrarem queijo).
Trata-se de uma abordagem motivacional muitíssimo interessante que ajuda a tomar decisões e que eu aconselharia a todas as pessoas entre os 15 e os 25 anos. É um livro pequeno, barato e de fácil leitura que vendeu milhões em todo o mundo. O impacto foi de tal ordem que houve quem pensasse que a mensagem deveria ser passada a crianças, tendo-se adaptado o livro para elas, numa versão ainda mais simples e com pouco mais de metade das páginas (cerca de 60).
Leia que vale a pena, e se gostar e achar que o seu perfil será mais a inovação do que a persistência, então atreva-se a ler a réplica “Fui eu que mexi no teu queijo” de Darrel Bovey que aborda o tema da auto-ajuda numa outra vertente que, não tendo o impacto do outro livro, não deixa de ser menos interessante.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Entrevista a Berta Carreira

Berta Alexandra Neta Carreira nasceu na primavera de 1984, na Guarda.
Passou a infância na sua aldeia, o Adão, onde teve acesso ao Jardim de Infância e à Escola Primária. Seguidamente frequentou o Colégio Dr. José Dinis da Fonseca, na Cerdeira, e a Escola Secundária Afonso de Albuquerque, na Guarda. No ingresso ao Ensino Superior optou, apesar de tudo, por um curso que lhe permitisse ser professora. Licenciou-se na Universidade do Minho e fez o mestrado em Ensino do Português e do Espanhol na Universidade da Beira Interior. Iniciou a atividade profissional em 2008, na cidade natal, onde trabalhou durante quatro anos, mas atualmente leciona numa escola do Porto.

Apaixonada pela literatura, cinema, teatro, música (clássica)... Aprecia os silêncios... a tranquilidade da serra e os assomos de paz que o mar lhe transmite. Adora as boas conversas com a família e amigos, não enjeitando uma boa viagem e o contacto com pessoas de diferentes culturas.
Colaborou no último Caderno de Memórias da nossa Associação e já lhe estamos a preparar novos desafios aproveitando o facto de estar e ficar "mais entusiasta desta aldeia"...

Enquanto professora, como vês a Educação em Portugal? 
Ai, a Educação, a Educação… dá sempre uma certa nostalgia pensar que a Educação de hoje não é a mesma da nossa infância, em que éramos tão certinhos, tão obedientes e respeitadores… Mas pensar como o Velho do Restelo não faz parte de mim, até porque seria culpar a geração que está a educar (que é a influência/modelo) e não as crianças e os adolescentes. 
A sociedade de hoje é marcada pela tecnologia e, consequentemente, por um ritmo diferente do nosso tempo – muito se tem perdido, outros interesses ganham protagonismo; cabe-nos ter a necessária sensibilidade e flexibilidade para entender as novas gerações e pugnar pelos valores basilares. 
O respeito por nós próprios, o respeito pelos outros, pelas diferenças, a responsabilidade e o compromisso social devem ajustar-se às novas vicissitudes, mas têm de ser o foco da Educação, independentemente de tudo. 
Aos professores, em particular, os novos tempos exigem as mais diversificadas estratégias e uma renovação constante das suas práticas. Os meus alunos são muito diferentes dos tempos em que fui estudante, logo, não posso seguir o modelo tradicional de ensino. 
Os diversos agentes educativos têm reunido esforços para se adaptarem à nova geração, numa tentativa constante de despertar a criatividade, a imaginação e a esperança numa sociedade melhor. As crianças e os jovens de hoje têm um enorme potencial, mas nada se consegue sem esforço e exigência. 

Quais os principais problemas que detectas no sistema de ensino? 
O sistema de ensino protege, em demasia, os alunos, ou seja, com o tempo tenho sentido um acréscimo de trabalho para o professor em detrimento daquilo que é exigido ao estudante. 
O sistema de ensino vive em função de resultados, negligenciando as aprendizagens. A “cultura dos números e da nota” leva a um excesso de carga burocrática, que se agrava quando os resultados não vão ao encontro das metas estabelecidas. Cabe ao professor encontrar novas estratégias para fazer face aos resultados, os alunos nunca são chamados a refletir sobre o trabalho que (não) desenvolvem. 
Outro problema do sistema de ensino, ao que a sociedade em geral é solidária, é a instabilidade da carreira docente, condicionando a vida dos professores (como a minha, por exemplo) e a dinâmica das escolas. 
Mas vou inverter o registo da entrevista… 
No meu dia a dia centro-me mais nos pontos fortes da escola – no esforço e na curiosidade audaciosa de muitos alunos, na dedicação dos meus colegas, no carinho com que muitos assistentes operacionais tratam os alunos, sabendo o seu nome, e no esforço diário das direções escolares para fazer cumprir as sucessivas políticas educativas a que o sistema educativo tem sido sujeito. 

Leccionas numa zona populosa do litoral. Notas diferenças entre essa zona e o interior, o nosso interior, a nossa Guarda? 
Ao nível da escola, não sinto muita diferença – tenho alunos dedicados, curiosos, com bons resultados, tal como tive na Guarda, e tenho outros grupos que exigem um jogo de cintura constante, aos que tenho que incentivar em cada aula, porque a escola pouco lhes diz. Leciono há três anos no Agrupamento de Escolas do Cerco, uma escola inserida num bairro peculiar da cidade, em que há uma grande maioria de alunos com interesses muito divergentes dos escolares. Na Escola Básica de Santa Clara também contactei com estas problemáticas, mas numa escala menor. 

Faz parte dos teus planos, a curto prazo, aproximares-te da Guarda, no exercício da tua profissão, ou não? Porquê? 
Por agora o Porto preenche-me pessoal, profissional e culturalmente. A minha ligação ao norte começou desde cedo, quando fui estudar para Braga; há cinco anos tive necessidade de alargar as opções no Concurso Nacional para garantir horário anual e completo. No Grande Porto terei muito mais possibilidades de colocação do que no distrito da Guarda, por exemplo. 
Parafraseando Agustina Bessa Luís, “Vivo aqui, mas o Porto não é para mim um lugar; é um sentimento”; sinto-me em casa na Invicta, mas o meu sentimento pela cidade que me viu nascer não saiu menorizado, antes pelo contrário. À distância agudizam-se as saudades da família, dos amigos, da hospitalidade, dos sabores e até do frio e damos mais valor… São cidades muitos distintas, aproveito o melhor de cada uma… 

Como vês o futuro das comunidades rurais em geral e do Adão em particular? 
Os meus pais pensam mais no futuro da aldeia do que eu; quando morre alguém, por exemplo, comentam com tristeza a perda, denotando, também, uma certa preocupação pelo número de habitantes que tende a diminuir. 
Sou sensível à preocupação dos meus pais, que reflete a da maioria que vive nos meios rurais. De facto, é difícil inverter o êxodo rural e, inevitavelmente, o desinvestimento a que as aldeias estão sujeitas. 
No meu caso, como estou fora, não projeto o dia a dia no Adão ou noutra comunidade rural…Associo o Adão a fins de semana, a férias, a festas e a convívios, e sei que a este nível as comunidades rurais vão continuar a ser as melhores. 

Viver permanentemente na Guarda- no Adão- está nos teus horizontes? 
Para além do que já fui dizendo nas perguntas anteriores (4 e 5), sou, também, muito nova para projetar a minha vida num determinado lugar permanentemente. 

Que te diz Vila Mendo? 
Vila Mendo é a terra natal da minha avó, e dizem que sou parecida com ela, logo sou parte de Vila Mendo. 
Recordo, ainda, as festas de agosto, onde ia com os meus pais e avós quando era criança. Éramos recebidos, com entusiasmo, na casa dos primos Pissarra e Corte Gonçalves; a convivência alegre e saudável entre a família era à volta de uma mesa farta em que cada iguaria era preparada em casa na azáfama do dia anterior. 
O Presidente da Associação Cultural e Recreativa, Filipe Soares, com o Caderno de Memórias, reaproximou-me da sua capital, despertando as minhas memórias…Sou, agora, mais entusiasta desta aldeia…

quinta-feira, 9 de março de 2017

A Cegonha

Ao fundo, quase que imperceptível, a Cegonha, altiva e majestosa, dá as boas vindas aos que vêm à nossa terra. Indiferente a tudo, parece convidar-nos a entrar e a contemplar a beleza... de Vila Mendo.

terça-feira, 7 de março de 2017

Sugestão de leitura

Daniel António Neto Rocha (1982) nasceu na Guarda, mas foi em Famalicão da Serra que cresceu. Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses, e Especializado em Ensino de Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS), na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), é, actualmente, professor no Instituto de Gouveia – Escola Profissional, para além de outros afazeres que alimenta.
Publicou: Julgamento e Morte do Galo do Entrudo 2011; Julgamento e Morte do Galo do Entrudo 2012; Refracções em três andamentos (2012); A Casa da Memória (2013); O Convento (2014); Tenho uma pedra na cabeça no lado esquerdo anterior frontal ou nada disto (2014); Bloemlezing 7+7+1 (edição especial bilingue – português e neerlandês - 2015); O Convento (2.ª edição, 2015).

Título: Vamos comprar um poeta 
Autor: Afonso Cruz 
Num tempo indeterminado, numa sociedade evoluída e centrada nas tecnologias, numa época em que as relações humanas perderam a emoção, uma família decide cometer uma “loucura”: comprar um poeta. Para decorar a casa, para decorar o ambiente, para parecer bem. Até lhe arranjam um espacinho para dormir debaixo das escadas. A partir de então, a vida desta família muda e o poeta, quase silenciosamente, começa a afectar tudo e todos. 
Um livro muito interessante para qualquer público leitor, que nos apresenta a poesia enquanto agente capaz de transformar o mundo. Basta ler!

segunda-feira, 6 de março de 2017

sexta-feira, 3 de março de 2017

Entrevista a Joaquim Igreja

Joaquim Martins Igreja nasceu a 5 de janeiro de 1958 na Castanheira, concelho da Guarda. Fez a escola primária nesta aldeia com a severa professora Amélia Simões. Depois foi para o Seminário do Fundão onde esteve até aos 15 anos, tendo passado ao Seminário da Guarda. Neste só esteve um ano e picos porque se deu na altura o 25 de abril de 1974 e em dezembro deste ano o rapaz sentiu vontade de gozar a sua liberdade. Acabou o ano escolar (atual 11º) como externo no Colégio de S. José e depois candidatou-se a exames na Escola Sec. Afonso de Albuquerque. O ano seguinte não estava nos planos: foi o ano do Serviço Cívico Estudantil, um hiato nos estudos, a fazer inquéritos de terra em terra e a prestar alguns erviços na Cruz Vermelha. Em 1976/77 começou a frequentar a Faculdade de Letras e em 1981 concluiu o curso de Filologia Românica. Vivia-se uma altura de crescimento do sistema de ensino e começou logo a trabalhar após o 3º ano do curso (1979). Passou pelas escolas Afonso Domingues e Pedro Nunes (Lisboa) e Frei Heitor Pinto (Covilhã), onde fez estágio. Logo a seguir (setembro de 1984) voltou à Guarda e já não voltou a sair de cá.
Para além da atividade de professor do ensino secundário, teve ainda passagens breves por outras instituições de ensino, como o ISACE (Instituto Sup. Administração, Comunicação e Empresa) na Guarda e o IEFP-Guarda. Durante 15 anos (1997-2012) desempenhou o cargo de coordenador cultural da Delegação da Guarda do INATEL (depois Agência da Fund. INATEL).
Desde 1992 mantém na Escola Secundária Afonso de Albuquerque o jornal EXPRESSÃO primeiro, depois a partir de 2013 o Blogue EXPRESSÃO, destinados a difundir a imagem da escola onde trabalha e dar formação de escrita jornalística aos jovens alunos. Tem também mantido uma colaboração regular na imprensa regional, primeiro na Rádio F, depois no jornal Terras da Beira, atualmente no jornal O INTERIOR. Durante a sua permanência na Fund. INATEL, lançou e manteve durante cerca de 12 anos o Boletim Cultural do INATEL. 
Atualmente na Escola Sec. Afonso de Albuquerque, para além da atividade letiva, coordena o Blogue EXPRESSÃO e é professor bibliotecário. 
É casado e pai de dois filhos e nos tempos livres, para além da leitura e da corrida ou da caminhada, gosta de se ligar às atividades culturais (música, teatro, cinema, exposições), apreciando de maneira geral a programação das instituições da Guarda. Gosta imenso de viajar e, para além de gostar de ir a banhos uma semana por ano, vai dando umas fugidas ao estrangeiro quando é possível.


Infelizmente, o Professor Joaquim Igreja não conhece muito bem Vila Mendo (uma falha imperdoável, diga-se de passagem!), mas ainda vai a tempo de se redimir desta lacuna na sua caminhada existencial! Dar-lhe-emos motivos para lá ir mais amiúde!


Como professor, como avalia a Educação numa perspectiva de futuro?
A educação é um processo em que todos estamos simultaneamente a mudar. Dentro do sistema educativo já todos pensámos de maneira diferente da posição que hoje adotamos. A velocidade a que a sociedade caminha, com transformações que não imaginaríamos há poucos anos, faz que o sistema educativo se adapte, corrija o caminho, volte às vezes atrás, sem nunca sentir que se atingiu o ponto ideal. Parados, estamos a andar. 
Quanto aos atores da educação, devemos estar sempre abertos à mudança: os conhecimentos evoluem, as tecnologias de comunicação também, sendo evidente o condicionamento dos jovens atuais pela tecnologia. No entanto o essencial mantém-se, com a necessidade de uma presença mediadora entre o saber e o aprendiz. A máquina não ensina sozinha. 
A Educação não perdeu razão de ser apesar da disponibilização de tanta informação na Internet. Ensinar os jovens não é apenas coadjuvá-los, é também conseguir que eles parem e nos ouçam. A Escola, para além de ter de se modernizar ao nível tecnológico e dos edifícios, de ter que encontrar fórmulas que liguem a autonomia pelas máquinas e o rigor no uso da linguagem, terá que canalizar a imensa energia juvenil tantas vezes desperdiçada pelo laxismo das estruturas. Sendo a gestão do tempo uma das variantes essenciais, haverá sempre este ou aquele grupo que ouviremos carpir mágoas por esta ou aquela mudança. Mas se a sociedade muda, como pode a Escola parar? É a altura de a escola atual se lançar a novos desafios. 

Que diferenças (boas e menos boas) encontra no funcionamento da Escola ao longo da sua carreira? 
Os alunos eram há uns anos atrás mais dóceis, disponíveis e construtores das suas capacidades. Hoje parece que as tecnologias, o conforto e o consumo anestesiaram os jovens e lhes tiraram a vontade de aprender e de se formar. Não me parece que a escola, a família e a sociedade atual estejam a “fabricar” cidadãos responsáveis e capazes. Parece tudo envolvido numa névoa de cultura light, de “tudo já feito” e de “não me tornem as coisas difíceis”. Pedir tempo aos jovens hoje para qualquer projeto enriquecedor das suas capacidades é “roubar-lhes tempo” para os seus gadgets, a sua loucura de jogar e de comunicar a níveis estratosféricos. Os jovens, mesmo crescidos, não param de brincar e de exigir estímulos agradáveis. 
Para além da desculpabilização que o próprio sistema fomenta, também os adultos se deixaram apanhar. Os pais desculpam os filhos e não sentem autoridade para os encaminhar; os professores hesitam, punem a medo, perdoam a seguir, sabendo que o comportamento se vai repetir. A Escola não terá que ser necessariamente mais castigadora mas impõe-se levar o sistema a sério e impor regras mesmo que à própria escola lhe custe aplicá-las. Creio que sem disciplina e concentração não se aprende. E esta sociedade é a sociedade do barulho. 

Ensinar, é hoje mais difícil? 
Pela resposta anterior, pode depreender-se que hoje educar e promover comportamentos corretos é muito mais difícil, perante uma sociedade que faz tábua rasa dos valores em nome do sucesso pessoal e uma família que não se sente capaz de pedir o outro lado do conforto que dá. 
Na escola, o que sinto mais difícil é que os jovens levem a sério uma instituição que começa a ficar distante do nível da perfeição a que chegaram as fontes de lazer dos jovens. A tecnologia ultrapassou a escola e esta, por mais que tente, não chega lá, com meios reduzidos e massa humana envelhecida. A escola aparece sempre como uma força conservadora, em que o avanço tecnológico emperra, em que o ensino continua tradicional, em que aprender não consegue ser sempre agradável como um jogo de computador ou um “reality show”, em que é difícil convencer de que “aquilo” é importante. Nem que fizéssemos o pino. 
Mas não vale a pena ser muito catastrofista. O sistema, como referimos acima, há de sobreviver e regenerar-se. 

Coordena o jornal e blogue “Expressão” na Escola Afonso de Albuquerque; como avalia a importância desses e doutros meios de expressão/comunicação no agrupamento e respectiva comunidade educativa? 

O Blogue EXPRESSÃO, que existe desde 2013, é sucessor do jornal EXPRESSÃO em papel, editado de 1992 até 2012. Sempre pretendeu mostrar a escola como uma realidade viva e atuante, como um lugar em que acontecem coisas importantes todos os dias e portanto noticiáveis. Quis também ser sempre uma escola de boa escrita para os alunos que se envolveram no projeto. Hoje é mais difícil conseguir jovens que se ofereçam para recolher informação, fazer um vídeo de um evento ou manter uma coluna fixa. É muito difícil fazer cumprir prazos quando a atualidade se vive no dia a dia e é preciso fazer a notícia nas horas seguintes ou anteriores ao evento. 
O Blogue EXPRESSÃO tem um número de visualizações muito significativo, uma média de 180 por cada notícia, muito graças ao auxílio da rede Facebook que espalha as notícias e promove o Blogue. Sentimos que chegamos aos professores, a uma fração dos alunos, à comunidade em geral. Mas, dentro dos atores educativos, temos a convicção de que os pais são a fatia que mais falta conquistar. 
O Blogue EXPRESSÃO, no entanto, tem a ambição de ser influente, de fazer chegar em linguagem simples aquilo que na educação muito vezes é difícil de digerir, de ser uma plataforma formativa. Queremos ser um órgão que mostre aos professores, aos pais, aos alunos, o lado escondido da escola em relação ao qual andam frequentemente “distraídos”. Queremos pô-los a pensar. Queremos fazê-los participar. 

Foi coordenador cultural da Agência da Fundação INATEL da Guarda. O que mais o marcou no exercício desse cargo? Que condicionalismos o afetaram mais? 
Fui coordenador cultural da Fund. INATEL na Agência da Guarda, um cargo que desempenhei com gosto entre 1 de setembro de 1997 e 31 de dezembro de 2012, durante 15 anos, portanto. O cargo tinha as suas limitações tanto em termos orçamentais (verbas reduzidas) como também operacionais (o coordenador trabalhava nesta área sozinho na Agência e a tempo parcial). A própria organização da Fundação INATEL, reportando nós à direção da Agência da Guarda mas também prestando contas e recebendo orientações dos departamentos da Fundação, tornava difícil a atividade. 
No entanto confesso que foi muito agradável o trabalho de apoio às associações filiadas, nomeadamente na proximidade com os grupos de folclore, bandas filarmónicas, grupos corais e grupos de teatro amador; no esforço de criar laços interassociativos e de promover a digressão de grupos pelo distrito; na atitude formativa constante com iniciativas diversas; na construção, sobretudo para os seniores, de itinerários culturais regulares em forma de passeios culturais; na promoção da comunicação, da informação e da formação através do Boletim Cultural do INATEL-Guarda. É num cargo como este que se fica a conhecer bem o tecido associativo distrital, as suas fraquezas e as suas potencialidades. 

Mantém algum contacto com o mundo rural, nomeadamente com a Castanheira, terra natal. Como vê o futuro das comunidades rurais em particular e do interior em geral? 

Com a Castanheira mantenho um contacto regular, embora desde a morte dos meus pais as visitas sejam mais espaçadas, já que não tenho casa instalada na aldeia. Mas interesso-me por aquilo que sinto ainda ser meu, a presença dos meus pais, a alma daquela aldeia, o espírito que ali vive. Custa-me evidentemente ver a rua dos meus pais quase deserta. Custa-me ver os campos ao abandono, inclusive os que me calharam. Custa-me ver que os velhos não têm jovens e gente adulta com quem ficar e estão condenados ao Lar da 3ª Idade. 
Tenho pena de o dizer mas não vejo grande futuro para a maior parte das comunidades rurais. Não se veem iniciativas que sejam suporte de desenvolvimento económico e sem este as aldeias não vão crescer, antes minguar. Por outro lado, os investimentos, escassos que são, tenderão a ir para as cidades médias e grandes, não para as pequenas localidades, que continuarão a ser pouco atrativas. A tentação será sempre emigrar, para perto ou para longe. Há nichos de potencial desenvolvimento, mas curiosamente poucos lhes pegam com convicção, por exemplo a criação de gado, os têxteis manufacturados e os enchidos. 

Vila Mendo, diz-lhe algo? 
Confesso que só lá estive por ocasiões de funerais. Passa-se em Vila Fernando e só se houver uma razão forte é que se vira para Vila Mendo. Espero ter proximamente boas razões para ir a Vila Mendo. 

quinta-feira, 2 de março de 2017