terça-feira, 31 de julho de 2018

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Entrevista a António Rodrigues

António Augusto Baptista Rodrigues, 57 anos, natural de Pousade; Professor.

1- Enquanto professor, como interpreta o sistema educativo? Defeitos e virtualidades.
O sistema educativo enferma dos mesmos males que grassam na sociedade do ano 2018: impõem-se, muitas vezes, a mediocridade e a mentira, em vez da dignidade e da competência, pois é assustadora a falta de nível dos que comandam a nação/mundo. Como virtualidades, aponto a convivência entre os colegas e a mensagem de valores que fará algum eco nos alunos. Assim o espero, a esperança é a última a morrer...e a escola deve ser o local da denúncia dos males e ser capaz de imunizar os alunos para os perigos que terão de enfrentar.

2- Frequentou o Seminário, foi lá professor. Como analisa a falta de vocações sacerdotais, nomeadamente na nossa diocese?
Será por falta de capacidade de os atuais padres convencerem? Será que também eles vão na outra onda e não na do Evangelho? Ou será uma evolução geral, em quem as pessoas preferem ser menos Homens do que seguir a mensagem do verdadeiro Humanismo, o Cristianismo?

3- O que mais o marcou(a) na sua carreira docente? 
O contacto com os alunos, quando verifico que ultrapassam as dificuldades e têm sucesso. Nada é superior a um riso de satisfação por conseguirem, o que parecia difícil.

4- Haverá futuro, tal como o conhecemos hoje, para o Interior? 
Não.

5- Que projectos considera essenciais para o desenvolvimento da Guarda?
 Projetos que permitam às pessoas ganharem cá a vida, pois muito amor ao interior que não passe das palavras ou de festas sasonais...

6-É alguém ligado à terra. Como explica, a quem não tem as vivências do mundo rural, o seu amor por ela (Pousade)?
 É que a mensagem de encantamento e de grandes vivências ainda é de gente próxima- pais e avós, mas será de pouca dura...

7- Que lhe diz Vila Mendo? 
Terra de gente unida, franca, com capacidade para em conjunto abraçarem projetos de promoção bairrista que está a dar frutos.







quinta-feira, 26 de julho de 2018

Entrevista

Amanhã, entrevista ao professor António Augusto Baptista Rodrigues.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Momentos

Manuel Marques
Pequenos momentos onde indagamos, respondemos, partilhamos, surpreendemos, rimos, reflectimos... onde simplesmente... estamos.

quinta-feira, 19 de julho de 2018

A Freguesia de Vila Fernando no séc. XVII- Baptismos (continuação)

Por Graça Sousa- Hoje, a última parte desta 1ª parte referente ao séc XVII na nossa freguesia. 

l Até 1614, parecem ter estado à frente da freguesia o Pe Sebastião da Fonseca, o Pe cura Gaspar de Morais e o Pe Fernando de Aragão. Contudo, há ainda referência aos padres Estêvão Nunes, Domingos Saraiva, Manuel Dias e Luís de Carvalho (prior de Vila Garcia).
Depois dessa data, houve três Vigários que permaneceram na freguesia por longos períodos de tempo. Alguns elementos das suas próprias famílias passaram a viver em Vila Fernando ou a visitá-los com regularidade. Irmãos, irmãs, mães, sobrinhos, primos são referidos nos assentos como padrinhos, madrinhas, testemunhas ou padres que realizavam as cerimónias.
Além dos Vigários, passaram em Vila Fernando numerosos outros padres que os ajudavam e até os substituíam quando eles se ausentavam ou adoeciam. Nesses casos, os batismos eram realizados “na presença” / “na absencia” e “de licença” do Vigário.
Vigários
Datas
Outros padres


Vig. Manuel Gouveia

.Familiares:
Pe António Borges (irmão)
Pe Manuel Borges (sobrinho) Pe Francisco de Gouveia











1614 – 1646
.Pe Francisco do Bulhão, cura de Sta Ana
.Pe António Borges, irmão do Vig. Manuel Gouveia
.Pe Luís Barbosa, da Guarda
.Pe Lázaro Gonçalves, cura de Vila Garcia, depois de Pousade e depois de Gonçalo Bocas
.Pe António Fernandes, vigário de “Casal Cinza
.Pe Domingos Cardoso, cura de S. Pedro da Guarda
.Pe Lourenço Martins, cura de Sta Ana
.Pe Manuel de Figueiredo
.Pe Baltasar de Costa, prior de Vila Garcia
.Pe Manuel da Fonseca
.Pe João …, de Maçaínhas
.Pe Manuel Borges, sobrinho do Vig. Manuel Gouveia, cura de Sta Ana, depois vigário do “Richoso
.Pe Francisco Ribeiro, morador na Guarda
.Pe Tomé Costa, morador na “Remela
.Pe Cristóvão Pacheco, residente em Vila Fernando
.Pe Francisco de Gouveia, familiar do Vig. Manuel Gouveia, residente no Marmeleiro, depois residente e “assistente” em Vila Fernando e aquele “q administra os Sacramentos nesta Igreja
.Pe Francisco Nunes Sequeira
.Pe Francisco João, natural do Rochoso
.Pe António da Costa, chantre na Sé da Guarda









Vig. Francisco de Carvalho








1646 – 1674
.Pe Francisco de Gouveia, cura do Marmeleiro e depois de Carvalhal Meão
.Pe Francisco Nunes Sequeira
.Pe Manuel Borges, vigário do Rochoso
.Pe Manuel Figueira, presbítero da Guarda e depois cura de Pousade
.Pe Diogo Viegas, cura de Aldeia Nova e depois de Mte Margarida
.Pe Marcos Gonçalves, natural de Albardo, cura de Sta Ana
.Pe Tomé Fernandes Manso, da Guarda
.Pe António Rodrigues, morador em Casal de Cinza
.Pe Francisco João, natural do Rochoso
.Pe José Dias, “com licença” do Vigário “por estar doente na cama
.Pe Rodrigo “Bontelho”, “Vigário Encomendado” na Igreja de Vila Fernando











Vig. António Tenreiro Cabral


.Mãe: Sebastiana Cabral

.Irmãos: Brígida, Eufémia, Páscoa,  António, Pe Manuel T.C.

.Sobrinhos: António e Bernarda

.Primos: Pe António Rodrigues, Pe Manuel Pires, Pe António T.C.  














1674 – 1700
.Pe Gaspar Forte, prior de S. Miguel do Jarmelo
.Pe Simão Francisco, cura de Sta Maria do Jarmelo
.Pe Manuel da Cunha Monteiro
.Pe Francisco João, do Rochoso
.Pe Manuel Antunes Isidro, cura de Vila Garcia
.Pe Diogo Pereira, prior da Igreja do Alvendre
.Pe Francisco Fernandes Teixeira, capelão no Adão
.Pe Pedro Afonso, do Rochoso
.Pe Manuel Pires, primo do Vig. A.T.C., do lugar de S. Paio, Bispado de Coimbra, capelão do Adão
.Licenciado Francisco do Rego, vice-reitor e mestre do Colégio da Sé da Guarda
.Pe Francisco da Guerra, de Pega, cura de Vila Garcia e depois capelão na Santa Sé da cidade da Guarda
.Pe Manuel Cardoso, cura de Sta Ana e depois de Vila Garcia
.Pe António Gonçalves, morador em Vila Fernando
.Pe Manuel Dias do Jarmelo, cura de Sta Maria
.Licenciado João Camelo Forte, cura do lugar das “Cheyras”, prior da Ima
.Pe Bartolomeu Dias Leonardo, vigário do Marmeleiro
.Pe Estêvão Tavares da Costa, prior de Vila Garcia
.Pe António Rodrigues, do lugar de S. Paio, primo do Vig. A.T.C. e depois capelão do Adão
.Pe Tomás da Fonseca, vigário de Casal de Cinza
.Pe António Tenreiro Cabral, do lugar de Nabais, primo do Vig. A.T.C.
.Pe Manuel Tenreiro Cabral, irmão do Vig. A.T.C.
.Pe Diogo Teixeira, da vila de Celorico
.Pe Bartolomeu Francisco de Oliveira
.Pe Pedro Gonçalves, de Vila Fernando

l Pequenas histórias
– “Aos vinte e oito de Setembro de 1656 Bautizei eu Franco Carvalho Vigro desta Igrja a Miguel o qual foi achado a porta de Dos Marques juiz da vara do lugar de Albardo com hum escrito q dizia Esta criança he filha de Miguel João moleiro de Albardo quem a achar saiba q vay por Bautizar criemna e façam christam oje 24 de 7bro de 1656 sua may he Das Glz a morgada de Villa Mendo…”. O Vigário acrescentou no fim “esta criança he ja morta”.

– Em 1657, o mesmo Vigário escreveu uma observação na margem de um assento: “esta criança era mto pequinina”.

– Em 1673, o Vigário anotou um comentário na margem de outro assento: “perdeuse a vella no caminho e a oferta não apareçeo”.

– Em 1679, o Vig. António Tenreiro registou o batismo de uma Maria, em Vila Fernando, e escreveu que os pais eram “… moradores em o lugar de Aldea Ruyva, os quais vindo ver sua tia a genrinha foi Ds1 servido alumiala em sua caza…”     (1Deus)

– Em 1689, nasceram dois gémeos em Vila Fernando: o Policarpo e a Águeda. O Policarpo foi baptizado em janeiro. À margem do assento dele, o Vig. António Tenreiro escreveu “este, e a debayxo ambos foram de hũ ventre, porém Agueda tardou des dias”.
A Águeda foi batizada em fevereiro. No assento dela, que aparece logo a seguir ao do irmão, o Vigário explicou que “… tardou des para onze dias despois q pario o menino e ja o anno passado pario outras duas crianças q tardou de hum parto a outro outo para nove dias…”

– Em 1698, foi batizada uma menina filha de pais incógnitos e o Vigário registou que “…a qual criança se esta criando no lugar de Villa Mendo em caza de Mª Frca mer de Mel Antunez que lha deram a criar da Cidade da Gda e foi baptizada por Maria Nunez, q serve de parteira na mesma Cidade…” (Quando as crianças, ao nascer, corriam risco de vida, eram batizadas imediatamente por um dos familiares ou vizinhos. Isso não substituía a cerimónia na Igreja que seria realizada logo que houvesse condições.)

___________________
           
Consultar os arquivos paroquiais é a forma de estarmos o mais próximo possível dos nossos antepassados. Podemos vê-los a nascer, ser batizados, casar, ter filhos, ser padrinhos e testemunhas, perder os seus familiares e, por fim, morrer. Por vezes, encontramos mesmo as suas assinaturas e, quando temos o privilégio de consultar livros e não microfilmes, podemos até pensar que, para escrever, puseram a mão naquela página onde nós podemos pôr a nossa. E, aí, o tempo parece sumir-se, deixando-nos frente a frente, comovidos, com alguém que nunca vimos mas que parece que conhecemos há muito… 

segunda-feira, 16 de julho de 2018

A Freguesia de Vila Fernando no séc. XVII- Baptismos (continuação)

(A segunda parte desta 1ª parte. Quarta-feira a última parte.)

l O texto dos assentos foi variando ao longo dos anos, dependendo, certamente, de quem o escrevia ou das ordens provenientes da Guarda. Na maioria dos casos, o assento, quando completo, incluía o primeiro nome da criança, a data e o local do nascimento, o nome dos pais, o nome dos padrinhos e o nome do padre que fazia o batismo e o registava. Podia ainda incluir o nome de duas testemunhas, sempre homens, que assinavam os registos. Uns não sabiam escrever e limitavam-se a desenhar uma cruz (ou uma estrela), que podia ser simples ou elaborada, a que o Vigário acrescentava o nome. Outros assinavam com o seu próprio punho, mas da forma hesitante de quem não dominava a escrita ou não via bem. Outros ainda assinavam com a firmeza de gente letrada, habituada a ler e a escrever. As assinaturas são de pessoas provenientes de vários lugares e quintas da freguesia. Ao contrário do que possamos imaginar, nesta época, muita gente parecia saber escrever.

           
  – A primeira testemunha assinou com estrela; a segunda, com cruz. O Vigário escreveu os nomes: Manuel Afonso e Pedro João.        

– A testemunha fez a sua própria assinatura com desenvoltura.

l Em 1619, houve uma cerimónia de crisma que envolveu 177 pessoas cujos nomes ficaram registados (muitas folhas adiante) no livro de batismos. Esteve presente o bispo da Guarda, D. Francisco de Castro.
Em 1687, há uma segunda lista, aparentemente de novos crismados. Como faltam as primeiras e as últimas folhas, não se sabe com exatidão quando isso aconteceu: pode ter sido em 1687 ou num ano anterior. Na lista que restou, há 401 nomes de jovens e adultos, solteiros e casados, pais e filhos. Além de pessoas da freguesia de Vila Fernando, a lista inclui também gente de Cairrão, Carpinteiro, Casal de Cinza, Gonçalo Bocas, Marmeleiro.

l Tal como já tinha acontecido no século anterior, os locais com maior número de nascimentos foram aqueles que deveriam ser os mais populosos: Adão, Albardo, Vila Fernando, Vila Mendo e Pousafoles ó/do Roto. No entanto, também a Quinta de Cima, a Quinta do Meio, o Monte Carreto e a Quinta de João Dias contribuíram de forma significativa para o número global. As restantes quintas não ultrapassaram, em conjunto, os 330 registos.


Nº de batismos


Nº de batismos
Adão
716

Quinta de Vale dos Carros
97
Albardo
589

Quinta da Caravela
41
Vila Fernando
576

Quinta de João Lopes
40
Vila Mendo
319

Quinta dos Pombais
29
Pousafoles “ó” Roto
310

Quinta de Baixo
25
Quinta de Cima
285

Quinta de Afonso Fernandes
8
Quinta do Meio
204

Queimada
4
Monte Carreto
177

Quinta da Nave “derredeyra”
2
Quinta de João Dias
148

Quinta das Lameiras
0

Nota: Mais de 50 assentos não foram aqui   incluídos por falta de informação relativamente à origem dos bebés.




Monte Sardinha
59

Monte de S. Pedro
21

Ao lermos os assentos, deparamo-nos, contudo, com algumas curiosidades.
– Na Quinta de Vale dos Carros não parecem ter nascido crianças nos últimos oito anos do séc. XVI e nos primeiros dezassete do séc. XVII, o que equivale a cerca de vinte e cinco anos sem crianças. O primeiro baptismo do século XVII data de dezembro de 1617. Embora aqui apareçam em conjunto, a verdade é que alguns registos distinguem Vale dos Carros de Cima e Vale dos Carros de Baixo.
– A Quinta de João Lopes tem 38 registos até 1637 e 2 em 1645, depois pareceu desaparecer. A Quinta do Meio tem apenas 7 registos desde 1575 até 1618. Os restantes casos aparecem após esta data. Em 1604, há um assento em que o Pe Gaspar de Morais escreveu Quinta do Meio na margem e Quinta de João Lopes no texto. Em 1618, o Vigário Manuel Gouveia fez o inverso: escreveu Quinta de João Lopes na margem e Quinta do Meio no texto. Como estes, há outros casos. Referir-se-iam os dois nomes à mesma quinta?
– A alusão à Quinta de Baixo foi rareando, com o registo de 23 crianças até 1646 e com apenas 2 durante os restantes 54 anos do século. Curiosamente, a Quinta de João Dias apresentava um número pouco significativo (18) de registos até 1645 que foi aumentando bastante até 1700 (130). Estas quintas eram muito próximas. Talvez constituíssem (ou tivessem passado a constituir) uma só.
– Só há referência à Quinta de Afonso Fernandes (8 crianças) até 1628. Depois, nada mais se sabe. Desapareceria ou seria englobada noutra? Em 1605, há um assento em que o Pe Gaspar de Morais escreveu Quinta de Cima na margem e Quinta de Afonso Fernandes no texto. Poderiam ser a mesma?
– Os quatro assentos da Queimada surgiram entre 1616 e 1624. Depois, mais nada.
– A Quinta das Lameiras, referida no século anterior, não voltou a aparecer.
– Os únicos dois registos referentes à Quinta da Nave “derredeyra datam de 1697 e 1700.
– Nalguns registos do Monte Sardinha e do Monte de S. Pedro, percebemos que estas duas quintas não pertenciam à freguesia de Vila Fernando mas sim, respetivamente, à freguesia da Sé da cidade da Guarda e à freguesia de S. Pedro também da cidade da Guarda. No entanto, os registos estão nos livros de Vila Fernando, significando assim que havia “fregueses” que, talvez por uma questão de proximidade, preferiam recorrer a Vila Fernando. As duas quintas, juntas, representam 80 crianças.
                                                                       (continua)

sexta-feira, 13 de julho de 2018

A Freguesia de Vila Fernando no séc. XVII- baptismos

Graça Maria Garcia Soares Calçada Sousa, nasceu na Guarda em 1963. As suas origens provêm de Vila Fernando, Quinta do Meio e Monte Carreto. Na infância, e sobretudo nas férias e fins de semana, Vila Fernando acolheu as suas brincadeiras (inesquecíveis) com primos e vizinhos. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas na Universidade de Coimbra e é Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Católica. É professora do 3º Ciclo e Secundário.
Recolheu as informações abaixo publicadas quando, há uns anos, decidiu investigar e construir a árvore genealógica da sua família, quer do lado paterno, quer do lado materno, recorrendo à consulta de livros, documentos e microfilmes no Registo Civil da Guarda e no Arquivo Distrital da Guarda. É o terceiro contributo dela aqui. Ficamos, expectantes, a aguardar pela 2ª parte desta investigação.
Contudo e por uma questão editorial, se assim se pode afirmar, decidimos publicar hoje só uma parte desta 1ª parte. Domingo, a outra parte. 

A Freguesia de Vila Fernando no séc. XVII  (1601 – 1700)

Parte 1 – Batismos
            Quantas crianças nasceram na freguesia de Vila Fernando no séc. XVII? Não sabemos. Sabemos apenas que foram registados 3712 batismos nos livros paroquiais. Portanto, segundo estes livros, nasceram, em média, 37 crianças por ano.
Verifica-se, no entanto, que, no início do século, houve anos em que o número de nascimentos foi extremamente baixo (1607-4; 1610-4; 1611-6; 1612-9; 1613-0; 1614-1), correspondendo a momentos em que os padres (curas?) ficavam na freguesia por curtos espaços de tempo e eram pouco cuidadosos com os registos. Há livros que perderam folhas, os assentos aparecem em número reduzido e em desordem cronológica, os textos são difíceis de decifrar e a desorganização é evidente. A partir do final de 1614, com a chegada do Pe Manuel Gouveia, mais tarde identificado como Vigário, os registos ganharam alguma ordem (basta dizer que, em 1614, houve um único batismo e, em 1615, houve 23). De qualquer forma, esses livros denotam também os estragos causados pelo manuseamento excessivo, pelo efeito da humidade e pela passagem do tempo, fatores que dificultam, atualmente, a sua consulta.

l Dos 3712 registos efetuados durante o séc. XVII, 1888 referem-se a rapazes e 1809 a raparigas. Há alguns assentos que, por não terem o nome dos bebés, nem qualquer menção específica, constituem uma incógnita: não sabemos se se trata de meninos ou de meninas.
A diferença anual entre os nascimentos de rapazes e de raparigas não é notória. Mesmo um ano atípico como 1620, em que nasceram 11 rapazes e 28 raparigas, teve logo, como contraponto, o ano seguinte, com 23 rapazes e 9 raparigas.

l O nascimento de gémeos parece não ter sido um acontecimento frequente na freguesia. Ao longo dos cem anos, há 15 registos de crianças “nascidas de hũ ventre”: três pares de rapazes, sete pares de raparigas e cinco pares mistos. Nasceram no Adão, em Albardo, em Pousafoles ó/do Roto, na Quinta de Cima, na Quinta do Meio, em Vila Fernando e em Vila Mendo.

l Os nomes mais na moda, ao longo do séc. XVII, são, quase todos, também nomes do séc. XXI.
Para rapaz, foram mais escolhidos Domingos (331), António (308), Manuel (267), Francisco (239), João (230), Pedro (68) e Miguel (64). Manuel foi pouco usado antes de 1640.
Para rapariga, os preferidos foram Maria (703), Isabel (298), Catarina (287), Ana (84), Domingas (55), Clara (50) e Teresa (43). Domingas foi pouco usado a partir de 1653 e Teresa só começou a usar-se em 1681. Maria era acompanhado de um segundo nome que os padres não costumavam registar e que, por vezes, aparecia nos registos de casamento ou de óbito.
Que outros nomes foram utilizados? André (17), Bartolomeu (16), Diogo (32), Estêvão (15), Gaspar (12), Jorge (14), José (41), Marcos (25), Matias (23), Pascoal (20), Sebastião (14), Simão (14) e Tomé (14), no caso dos rapazes; Bárbara (33), Beatriz (23), Brígida (11), Luzia (10), Mariana (11) e Páscoa (29), no caso das raparigas. Encontramos, pontualmente, alguns nomes mais invulgares: Custódio, Gregório, Ildefonso, Lázaro, Nicolau, Policarpo, Sansão, Silvestre e Xisto; Agada, Apolónia, Brazia, Inocência e Simoa.
Nem todos os nomes aparecem escritos da forma como os conhecemos hoje e, por vezes, as diferenças causam-nos estranheza. Mostram-nos, por exemplo, as regras ortográficas da época ou, muito simplesmente, a maneira como as pessoas pronunciavam as palavras. Podemos aqui incluir George, Hieronymo, Joachim, Joseph, Phelippe, Sensam e Thomas; Barbora, Briatis, Ignez, Lianor, Magdalena e Michaela.

l Para distinguir pessoas com nomes e apelidos iguais, recorria-se, frequentemente, a alcunhas. Como nasciam? Podiam surgir a partir da terra de origem do indivíduo (ex: castelhano), do local onde vivia (ex: da quelha, da fonte), da idade e do grau de parentesco (ex: o moço, o novo, o velho, o neto), de alguma característica física ou psicológica (ex: tamanhão, valente), de alguma história curiosa que nunca iremos conhecer (ex: o lacão, o genrinho).







Alcunhas
castelhano – o serra – serrano – da moreira – o richoso – o richosinho – o galego – o vasco – o barroso – o barrosinho – monte barro – o rabaço – o costa – o siqueira – o pego – da escada – do canto – do cimo – do fundo – do fundo do lugar – do cabo – do forno – do lagar – da quelha – da fonte –  da “baranda” – a carvalha – a carreira – do castanheiro – do salgueiro – das poldras – o cancela – da trincheira

a branca – o moreno – o picado – o gago – o manco – o direito – o delgado – tamanhão – o baixo – o “piqueno” – o grande –
o valente – o valentinho – o folgado – a folgadinha – o morgado – o galhardo – o rico – o chicana

o lacão – o genrinho – o mantinha – o fatinho – a cartuxa – o cravo – o chapadinho – o namorado – “perreixil” – do santo – o bicho – “ximxibre” – da casa nova – o orca – inverno – a granja – o seco – o marmelo – do remédio – o frade – o abade – o bispo – o conde – o rei – cavaleiro



















Como as profissões serviam também para identificar as pessoas, através delas, ganhamos informações adicionais sobre a freguesia.

Profissões
Tecelão – Sapateiro – Escudeiro – Pastor – Alfaiate – Tendeiro – Ferreiro – Barbeiro – Cardador – Moleiro – Azeiteiro – Carniceiro – Almocreve – Boieiro – Taverneiro – Serralheiro – Juiz da vara





Com o tempo, várias alcunhas transformaram-se em apelidos reais que ainda hoje existem.


 (Continua...)