segunda-feira, 16 de julho de 2018

A Freguesia de Vila Fernando no séc. XVII- Baptismos (continuação)

(A segunda parte desta 1ª parte. Quarta-feira a última parte.)

l O texto dos assentos foi variando ao longo dos anos, dependendo, certamente, de quem o escrevia ou das ordens provenientes da Guarda. Na maioria dos casos, o assento, quando completo, incluía o primeiro nome da criança, a data e o local do nascimento, o nome dos pais, o nome dos padrinhos e o nome do padre que fazia o batismo e o registava. Podia ainda incluir o nome de duas testemunhas, sempre homens, que assinavam os registos. Uns não sabiam escrever e limitavam-se a desenhar uma cruz (ou uma estrela), que podia ser simples ou elaborada, a que o Vigário acrescentava o nome. Outros assinavam com o seu próprio punho, mas da forma hesitante de quem não dominava a escrita ou não via bem. Outros ainda assinavam com a firmeza de gente letrada, habituada a ler e a escrever. As assinaturas são de pessoas provenientes de vários lugares e quintas da freguesia. Ao contrário do que possamos imaginar, nesta época, muita gente parecia saber escrever.

           
  – A primeira testemunha assinou com estrela; a segunda, com cruz. O Vigário escreveu os nomes: Manuel Afonso e Pedro João.        

– A testemunha fez a sua própria assinatura com desenvoltura.

l Em 1619, houve uma cerimónia de crisma que envolveu 177 pessoas cujos nomes ficaram registados (muitas folhas adiante) no livro de batismos. Esteve presente o bispo da Guarda, D. Francisco de Castro.
Em 1687, há uma segunda lista, aparentemente de novos crismados. Como faltam as primeiras e as últimas folhas, não se sabe com exatidão quando isso aconteceu: pode ter sido em 1687 ou num ano anterior. Na lista que restou, há 401 nomes de jovens e adultos, solteiros e casados, pais e filhos. Além de pessoas da freguesia de Vila Fernando, a lista inclui também gente de Cairrão, Carpinteiro, Casal de Cinza, Gonçalo Bocas, Marmeleiro.

l Tal como já tinha acontecido no século anterior, os locais com maior número de nascimentos foram aqueles que deveriam ser os mais populosos: Adão, Albardo, Vila Fernando, Vila Mendo e Pousafoles ó/do Roto. No entanto, também a Quinta de Cima, a Quinta do Meio, o Monte Carreto e a Quinta de João Dias contribuíram de forma significativa para o número global. As restantes quintas não ultrapassaram, em conjunto, os 330 registos.


Nº de batismos


Nº de batismos
Adão
716

Quinta de Vale dos Carros
97
Albardo
589

Quinta da Caravela
41
Vila Fernando
576

Quinta de João Lopes
40
Vila Mendo
319

Quinta dos Pombais
29
Pousafoles “ó” Roto
310

Quinta de Baixo
25
Quinta de Cima
285

Quinta de Afonso Fernandes
8
Quinta do Meio
204

Queimada
4
Monte Carreto
177

Quinta da Nave “derredeyra”
2
Quinta de João Dias
148

Quinta das Lameiras
0

Nota: Mais de 50 assentos não foram aqui   incluídos por falta de informação relativamente à origem dos bebés.




Monte Sardinha
59

Monte de S. Pedro
21

Ao lermos os assentos, deparamo-nos, contudo, com algumas curiosidades.
– Na Quinta de Vale dos Carros não parecem ter nascido crianças nos últimos oito anos do séc. XVI e nos primeiros dezassete do séc. XVII, o que equivale a cerca de vinte e cinco anos sem crianças. O primeiro baptismo do século XVII data de dezembro de 1617. Embora aqui apareçam em conjunto, a verdade é que alguns registos distinguem Vale dos Carros de Cima e Vale dos Carros de Baixo.
– A Quinta de João Lopes tem 38 registos até 1637 e 2 em 1645, depois pareceu desaparecer. A Quinta do Meio tem apenas 7 registos desde 1575 até 1618. Os restantes casos aparecem após esta data. Em 1604, há um assento em que o Pe Gaspar de Morais escreveu Quinta do Meio na margem e Quinta de João Lopes no texto. Em 1618, o Vigário Manuel Gouveia fez o inverso: escreveu Quinta de João Lopes na margem e Quinta do Meio no texto. Como estes, há outros casos. Referir-se-iam os dois nomes à mesma quinta?
– A alusão à Quinta de Baixo foi rareando, com o registo de 23 crianças até 1646 e com apenas 2 durante os restantes 54 anos do século. Curiosamente, a Quinta de João Dias apresentava um número pouco significativo (18) de registos até 1645 que foi aumentando bastante até 1700 (130). Estas quintas eram muito próximas. Talvez constituíssem (ou tivessem passado a constituir) uma só.
– Só há referência à Quinta de Afonso Fernandes (8 crianças) até 1628. Depois, nada mais se sabe. Desapareceria ou seria englobada noutra? Em 1605, há um assento em que o Pe Gaspar de Morais escreveu Quinta de Cima na margem e Quinta de Afonso Fernandes no texto. Poderiam ser a mesma?
– Os quatro assentos da Queimada surgiram entre 1616 e 1624. Depois, mais nada.
– A Quinta das Lameiras, referida no século anterior, não voltou a aparecer.
– Os únicos dois registos referentes à Quinta da Nave “derredeyra datam de 1697 e 1700.
– Nalguns registos do Monte Sardinha e do Monte de S. Pedro, percebemos que estas duas quintas não pertenciam à freguesia de Vila Fernando mas sim, respetivamente, à freguesia da Sé da cidade da Guarda e à freguesia de S. Pedro também da cidade da Guarda. No entanto, os registos estão nos livros de Vila Fernando, significando assim que havia “fregueses” que, talvez por uma questão de proximidade, preferiam recorrer a Vila Fernando. As duas quintas, juntas, representam 80 crianças.
                                                                       (continua)

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