sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Dezembro


por Berta Carreira

dezembro: tempo que é tempo, como janeiro será

Que dezembro seja bondade, dádiva, generosidade, gratidão, simplicidade, sorrisos, ternura e união, mas que a um de janeiro não apaguemos as luzinhas; que a dois de fevereiro não nos esqueçamos da família e dos amigos; que a três de março saibamos enfrentar, com paciência, resiliência e fé, algum obstáculo que possa surgir, como os pais do Menino Jesus; que a quatro de abril sintamos o coração repleto de amor como na noite de consoada; que a cinco de maio saibamos criar e reutilizar, à semelhança do que fazemos com a decoração para a quadra natalícia; que a seis de junho façamos um balanço positivo de nós, tendo a humildade para agradecer aos Outros, como os Reis Magos; que a sete de julho saibamos estar sozinhos (e aconchegados) como numa noite de inverno; que a oito de agosto não nos falte a convivência, a alegria do final de ano, e o descansar inerente ao dia de ano novo; que a nove de setembro não pensemos apenas em dezembro; que a dez de outubro não estejamos aborrecidos pelo frio; que a onze de novembro partilhemos a capa como São Martinho; que a doze, a treze, a catorze, a quinze, a dezasseis, a dezassete, a dezoito, a dezanove, a vinte a vinte e um, a vinte e dois, a vinte e três, a vinte e quatro, a vinte e cinco, a vinte e seis, a vinte e sete, a vinte e oito, a vinte e nove, a trinta e a trinta e um não nos esqueçamos de dizer "Bom dia, Dia", melodiosamente. E que nos meses de menos dias não deixemos o essencial por fazer e por dizer. E que as horas dos mais longos não nos saturem, culminando em desperdícios de tempo.
Sejamos natal em cada nascer do sol. Sejamos luz em cada anoitecer. Iluminados, pelo sol ou pela lua, hora a hora, dia a dia, mês a mês, cumprimos os valores de dezembro. Cada segundo determina o pulsar da existência. Não aos dias contra relógio. Sim aos momentos que nos preenchem independentemente do tempo e da hora e da companhia e do local.
Parece-me que poderíamos viver sem o dia de Natal, mas seriamos uns meros sobreviventes sem os valores tão evocados nesta época. Esperar pelo último mês do ano para a renovação é uma expetativa falaciosa. Afinal não é dezembro que muda o humano - é o humano que tem vindo a mudar o dezembro num louco frenesim que está a contagiar o ano inteiro.
Lautos os que fazem do quotidiano natal. Dezembro é, tão somente, uma oportunidade de renascer entre infinitas que se têm durante o ano. 
O agora é luz, do amanhã nada se sabe.

1 comentário:

Anónimo disse...

bonito texto