sexta-feira, 26 de julho de 2024

a Política da Impolítica e a Guarda

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 18 de Julho)

Falamos aqui de impolítica (e a bem ver devíamos falar de impolítico, distinguindo entre o político e a política…) não num sentido, muito específico e estreito, a partir de um (pretenso, ou não) esgotamento das categorias políticas modernas, que se tornaram um tanto ou quanto incapazes de dar voz e soluções a perspectivas radicais genuínas (algumas, pelo menos) que germinam ainda agora e a todo o momento nas sociedades - mais propício a uma análise de teoria ou filosofia política – nem num sentido da negação da política como tal- atitude apolítica ou antipolítica- (até porque poderíamos explorar, esmiuçar o conceito como a negação da negação da política…); mas num sentido mais… convencional e compreensível: a impolítica como a face mais oculta e negativa da política, mais incívica e prepotente e impolida, portanto mais contrária ao bem-comum.
Feita esta enquadrativa achega (que não chega), quando olhamos para o “teatro político português” (não como força de expressão, mas numa perspectiva bastante literal) percepcionamos (embora as percepções sejam tantas vezes erradas e erróneas) todo um emaranhado de acções, inacções, contra-acções e contracções (!) … contrárias e contraditórias sobejamente.
Qual o objectivo último da democracia? O Bem-Comum. Qual o objectivo último daqueles que (ainda) sustentam a democracia, portanto os partidos políticos? Aqui a resposta já não sai tão expedita: em tese, o tal bem-comum. Mas é essa a interpretação que os cidadãos fazem da prática dos partidos, das suas políticas e dos seus políticos? Tirando os férreos, fervorosos e fundamentalistas apoiantes partidários (aos quais a razão sempre lhes assiste) a resposta parece óbvia: não. A política- tal como se nos apresenta, agora- assenta numa lógica de poder, agressiva e inibidora; beneplácita para os seus, intolerante para os outros.
No fundo, há uma questão (porque é mais do que uma mera pergunta) que todos fazemos (ou devíamos): o que é que os partidos esperam uns dos outros? E sem querermos ser redutores ou simplistas ou injustos- o pior!
De facto, num vislumbre superficial à complexidade da situação política portuguesa, o que esperam os partidos da oposição, do governo? Que tudo corra mal; uns para voltarem ao poder, outros para aumentarem as votações e representatividade, logo a influência. O governo esperará que a oposição seja ineficaz para cimentarem a sua governação e duração. Vivemos pois na lógica do quanto pior, melhor. Não interessa o bem-comum, interessa o bem dos partidos. O país que aguarde, como sempre. Mais uma das muitas contradições com que nos deparamos pessoal e socialmente e já aqui analisadas anteriormente.
Esta lógica ilógica é transportável para a nossa GUARDA. Tudo isto (no que concerne ao ambiente político) parece aqui ganhar uma expressão maior, como que exponenciando uma Identidade do Ser Português em que os traços mais soturnos, mais desabitados dela, ganham uma dimensão que nos incaracterizam enquanto comunidade- de um Portugal: o queixume inconsequente, a inveja maldizente, a crítica inoperante e desdizente mesclados com um anonimato pravo (e parvo) mais ou menos anónimo; a ânsia de regressos e salvadores, sabedores e continuadores; o tear de alianças e inventanças; as forças vivas que parecem não ter viva força e o parecer haver forças-outras; a governação e a oposição em antinomia e a Guarda em relativa anemia (como o interior e como todo o país, diga-se). Um frenesim triste e pungente. O bem para a cidade parece não importar tanto, só o suposto (porque interesseiro e egoísta) bem pessoal e de alguns colectivos contará…
Do executivo municipal à oposição, dos críticos aos acríticos, dos comentadores aos indiferentes, dos influenciadores aos influenciados, dos cidadãos com responsabilidades aos mais comuns todos precisamos de parar, pensar, reflectir para depois inflectir o Caminho que, às vezes, parece ir na direcção da indireccionalidade, ancorado numa imediatez, num pragmatismo como simples gestão sem compromisso (ontológico) das práticas discursivas.
A práxis da impolítica (nesta, e só nesta, perspectiva de análise) será isto: acreditar no pior, esperar no pior, ver o pior, desejar o pior e, corolário, fazer o pior.
a Guarda aguarda.

Nota: Um abraço evocativo e sentido ao filho de Vila Mendo e amigo Tiago Gonçalves. 4 anos, hoje. Por certo, haveríamos de falar abundantemente sobre o acima referido.

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