sexta-feira, 10 de outubro de 2025

a Guarda e as candidaturas autárquicas

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 25 de Setembro)

Tentar analisar as candidaturas autárquicas à Câmara da Guarda com traços de não parcialidade afigura-se complexo e com poucos, ou nenhuns, laivos de completude. Aspirar à imparcialidade absoluta é, no mínimo, inglório (no máximo despropositado). As convicções e as percepções; as suposições e as motivações; as ambições emanadas das nossas imperfeições; o conhecimento e as afinidades mais ou menos próximas- independentemente de intencionalidades- conduzem-nos (até inconscientemente e quase que imperceptivelmente) ao deixar entrar nas nossas boas graças Este ou Aquele; Isto ou Aquilo (e o seu contrário, também)
Portanto esta tentativa de análise-equidistante enferma duplamente: primeiro, da sua quase impossibilidade que advém da sua natureza própria; depois, pela consciência dessa mesma impossibilidade… Ainda assim, arrisca-se um pequeníssimo exercício de uma análise muito geral com alguma profundidade (!) em contraponto a uma análise muito específica que seria, por certo, superficial… outros o farão, decerto, melhor. E é um exercício de mais perguntas do que respostas em que talvez, no máximo e por essa - e só por essa- via, se tentam dar à compreensão (ou pelo menos à reflexão) algumas incompreensões.
Quando se olha para as diversas candidaturas e ao sem fim de candidatos a qualquer coisa, aquilo que nos sobrevém ao pensamento é: porquê estas pessoas? Porquê estas e não aquelas? Que critérios, que nuances determinaram a sua escolha, e que critérios foram determinantes para a escolha de quem escolhe? No fundo, quem escolhe os escolhidos e quem escolhe o que escolhe (na suposição que que é o cabeça de lista que opta pelos demais)? Foram decisões pensadas e previstas e planeadas de acordo com uma visão estratégica e estruturante para a Guarda?
De facto, e tirando o actual Presidente da Câmara Sérgio Costa de quem já se sabia da sua intenção de se reapresentar a eleições, as candidaturas, presume-se, desenhavam-se muito diferentes há tão somente três meses atrás. E há seis meses as conjecturas ainda seriam outras, e antes o mesmo. Parece que- de forma transversal- foram feitas e preparadas sem o tempo que este tempo (da cidade) exigiria. Talvez tenham sido estes os designados, face às circunstâncias e às urgências… Fica a sensação de que numa fase anterior (ou até posterior!) muitos dos candidatos seriam outros: calharam a ser estes!
É este calhar (de que não nos podemos livrar sempre, é certo!) que neblina a nossa Guarda e a sua afirmação e o seu despontar como comunidade verdadeiramente comum… uma comunidade que caminha a passos largos para algum tipo de polarização que não augura futuros fáceis pelos presentes já extremados no nós os bons e sabedores, vós os maus e insipientes; de que as redes sociais se alimentam vorazmente, deixando-nos um pecúlio de intolerância patente e maldade latente.
Os políticos que são agora indicados para tentarem ser eleitos nas eleições, deixaram e deixar-se-ão ser escolhidos, portanto resta-lhes só (que é muito) trabalhar para o bem-comum: simples. complexo. doído. desafiador. recompensador. Os outros políticos não são inimigos; são apenas adversários (e basta). Trabalhem- e trabalhemos todos- em genuína cultura democrática e não maldizente nem fortemente adjectivadora… Esperança utópica? Quiçá! Mas é a esperança que confirma a nossa presença no mundo. A vida, sem esperança, é? E que elites esperamos- para tal? As elites na Guarda são? Operam? Na sombra? E outras indagações afloram ao pensamento sem que as respostas se deixem entrever…
Nota: o Acácio Pereira de Vila Mendo, portanto um Vilamendense e amigo de sempre, é candidato a presidente à Junta de Freguesia da Guarda. Uma palavra de reconhecimento, independentemente dos resultados próximos. Que seja exemplo do atrás aludido.

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