sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Vozes da Terra- Padre Carlos Fonte

Sou um cidadão de Vila Mendo. Nasci 5 de setembro de 1959, filho de Joaquim Gonçalves da Fonte e de Prazeres da Silva Terras. Tenho dois irmãos: o José Domingos e o António Terras e duas irmãs: Maria dos Anjos e Joaquina Clara.
Os meus pais sempre nos educaram no respeito, na delicadeza para com os outros e a saber conviver condignamente com as crianças da nossa idade. Quem levou a nossa educação mais a sério foi a minha mãe, já que o meu pai foi para a França quando eu tinha dois anos, de onde regressou quando tinha 11. Depois fui para o seminário de Vila Viçosa e mais tarde para Évora. Ordenei-me sacerdote a 14 de dezembro de 1985.
Da minha infância recordo-me de uma Sra. Augusta. Um dia ao pôr-do-sol eu e outras crianças andávamos a brincar, nisto sentimos um carro a passar, coisa muito rara nesse tempo. Fomos todos a ver quem era. Era o Sr. Doutor, o médico de Vila Fernando, que vinha consultar a Dª Augusta. Eu, como lareto que era, metia a cabeça e os olhos em tudo para ver. Passados uns momentos vejo duas mulheres, (não digo o nome com respeito às pessoas) com um candeeiro a petróleo a irem à sala de estar. Abriram uma gaveta onde vi tanto dinheiro, coisa que nunca tinha visto até aqui. Eram vários molhos de notas. Pegaram numas notas e pagaram ao médico. Com esta admiração, falei disto à minha mãe.
A Sª Augusta morreu e dizia-se por todo o lado que o sobrinho Valdemar tinha roubado a tia, pois não havia dinheiro nos bancos nem em casa. Eu penso que a minha mãe teria contado a alguém o que se tinha passado comigo. Certo dia, vinha com as vacas uma dessas mulheres, que tomavam conta da D. Augusta, esperavam-me a mim mais a minha mãe. Ela perguntou-me se era verdade ter visto tanto dinheiro na casa da Sª Augusta. Eu respondi que sim, que era verdade. Parti rapidamente para o largo da escola já que os meus colegas andavam a jogar a bola.
À noite veio a outra mulher à nossa casa, enquanto a minha mãe fazia a ceia, a fazer a mesma pergunta à qual respondi que sim. Essa pessoa disse à minha mãe que eu estava a mentir com quantos dentes tinha na boca e pediu-lhe para me bater, ao que minha mãe disse não, se dizia a verdade, porque havia de bater no filho.
Passados uns longos anos zangaram-se entre elas, e veio-se a saber que era verdade. Pois uma ao chegar a casa disse para o marido: "J” trago aqui 20 mil escudos da tia Augusta". Ora, isto multiplicado por quatro, era uma grande soma naquele tempo.
Isto só serve para dizer e acentuar a forma como a nossa mãe nos educava e como era e é importante  a Verdade.
Recordo o jogo do "Fito". Duas pedras na mesma direção, e outras duas no lado oposto. Jogava-se com duas equipas dois de cada lado, quem derrubasse primeiro tinha o prémio de ser levado às cavalitas para o outro lado oposto e continuava assim o jogo.
Recordo o jogo "aí vai alho", eram 4 ou 5 de cada equipa, um encostava-se a uma parede e os 4 “amochavam”, enquanto os outros pulavam para cima até se contar uma certa quantia de números, senão se conseguia começava-se tudo de novo, se aguentavam trocavam-se as posições.
Aos domingos depois da missa ou jogávamos à bola com outra terra vizinha ou entre nós. Também íamos para a ribeira aos peixes ou simplesmente nadar, na ribeira ou nos tanques do Dr. Crespo.
Vila Mendo deve orgulhar-se de si mesma: é muito solidária, a entreajuda era constante entre todos principalmente na tira das batatas, nas malhas do centeio ou no recolher do feno. É uma terra pequena do concelho da Guarda mas onde existem pessoas formadas em vários serviços: só falta haver um Primeiro-Ministro e um Presidente da República!
Tenho muito orgulho de pertencer a esta terra.
Agradeço a todos pelo que têm feito por ela. A todos o meu muito obrigado.

                                                                P. Carlos Fonte

4 comentários:

Júlio Manuel Antunes Pissarra disse...

Mais um bonito contributo para melhor conhecermos Vila Mendo.
Gostei, Sr. Padre.

Anónimo disse...

É verdade. Vila Mendo tem pessoas formadas em variadissimas áreas

Anónimo disse...

É verdade Snr Padre, Vila Mendo é uma terra que eu tb gosto muito, pelas suas gentes, pelo bairrismo acérrimo de quase todos, pelos boms momentos que já lá passei. mas permita-me discordar quando diz que só falta ter um primeiro-ministro e um presidente da Répública; aí é que Vila Mendo perderia o prestigio que ao longo de tantas decadas conquitou, pois no que respeita a politicos valha nos o ALTISSIMO.A dias

Júlio Manuel Antunes Pissarra disse...

Tem razão Sr. Padre. Não devem existir, no nosso país, muitas aldeias com um nível tão alto de formação académica, para já não falar na cívica. Temos Licenciados nas áreas da Educação, do Direito, da Gestão, da Teologia, da Medicina, da Fisioterapia, da Engenharia, etc.