quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Opiniões- por Tiago Gonçalves

(Artigo publicado no jornal Terras da Beira da pretérita semana)

Notas sobre os resultados das Eleições

Realizadas as eleições e (quase) terminado o apuramento dos resultados finais existem um conjunto de notas e ilações a retirar dos atos eleitorais. Ilações que dizem respeito aos resultados, à mensagem que os eleitores deram e ao futuro que nos espera. É sobre a interpretação destas 3 questões que me tenciono pronunciar.
1 – Entre os vitoriosos da noite de 4 de Outubro destaque para a coligação Portugal à Frente que venceu as eleições de forma clara apesar de todas as dificuldades que o país viveu ao longo dos últimos anos. Foi o primeiro caso de vitória de uma coligação que apoiou o Governo em funções no período de assistência financeira o que não deixa de merecer elevada nota de destaque. O Bloco de Esquerda teve uma subida incrível. Outro partido dado como morto teve o seu momento de glória pela mão de um conjunto de mulheres que parecem querer e poder atingir um estatuto próximo do anterior líder Francisco Louça. Refiro-me especialmente a Catarina Martins (enorme prestação durante a campanha) e a Mariana Mortágua (excelente prestação na Comissão de Inquérito ao BES). O PAN é o novo partido representado no Parlamento. Conseguiu o salto que é tão difícil de dar para os pequenos partidos e terá agora uma grande responsabilidade. Veremos se está à altura.
O grande derrotado da eleição é o Partido Socialista e, muito pessoalmente, o seu Secretário Geral António Costa. Chegou ao poder imbuído da missão de conseguir para o PS uma enorme vitória por oposição à “vitória de pirro” do seu antecessor nas Europeias. Fruto de uma conjunto de erros inenarráveis consegue uma verdadeira proeza que é perder as eleições contra uma coligação que suportou um dos Governos mais desgastados da história democrática. Não lhe resta outra saída que não o abandono da liderança (até pela forma como a atingiu) só faltando saber quando se efetivará. A CDU julgava ter conseguido mobilizar o descontentamento para si contando com um PS errático e um BE quase morto. A desvalorização do papel do BE revelou-se um tiro pela culatra e a CDU ficou num resultado abaixo do esperado. Por fim, o Livre e o PDR são outros dos grandes derrotados pois, apesar de terem tido bastante espaço mediático e terem conseguido comunicar com os eleitores as suas propostas, ficaram fora do Parlamento.
2 – A mensagem dos eleitores é simples: não querem Governos de maioria absoluta, querem um travão à governação sempre que necessário, desejam consensos e diálogo, rejeitam a crispação do ambiente político.
São marcas da nossa tradição política. Habituámo-nos a governos de maioria absoluta quase parecendo que a inexistência de maioria absoluta é, por si só, um convite à instabilidade governativa. É claro que os governos ficam mais vulneráveis mas tal não tem, necessariamente, que originar problemas ao país. Haverá que encontrar soluções no quadro parlamentar que garantam essa estabilidade. O PS terá que perceber que foi escolhido não para governar mas para limitar a ação da governação. É por isso importante que, como já se disse, trace as suas linhas vermelhas; mas tem também que se convencer que não foram as suas propostas aquelas que mereceram o voto maioritário dos portugueses.
3 – O futuro próximo irá exigir de todos os atores políticos elevado sentido de responsabilidade e grande capacidade de negociação. Como já uma vez escrevi nesta coluna “A política é a arte do possível” e talvez hoje seja um bom dia para recuperar essa afirmação. 
A constituição do futuro Governo (onde se espera que imperem figuras mais políticas que técnicas e abertura a independentes em algumas pastas) e a votação para Presidente da Assembleia da República serão os primeiros momentos aos quais deveremos estar atentos para saber com que poderemos contar. 
Já em breve inicia-se outra campanha, desta vez para a Presidência da República, que neste contexto de fragmentação da Assembleia da República ganha maior importância. O Presidente da República que saia dessas eleições pode e deve ter um papel fundamental na promoção de consensos em relação a matérias essenciais da vida do país. Se o conseguir será certamente um dos mais bem sucedidos no cargo da nossa história.
                                                                                             Tiago Gonçalves

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