sexta-feira, 7 de junho de 2024

o Desporto e a Guarda e o NDS

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 30 de Maio)

A vida é feita de múltiplas dimensões, de inúmeras realizações, de um sem fim de suposições; tantas vezes contradições. Realizamo-nos em realizações efectivadas: às vezes tentadas e não conseguidas, e não cumpridas! Podemos até, e em instância última, realizarmo-nos em fazer nada (porque o nada já é antes de ser), porque o nada pode ser alavanca e impulso e desejo e sonho futuro que começa agora; nesse nada criativo e auspicioso; nesse sonho futuro que já é passado quando alcançado. Realizamo-nos quando Somos com o Outro.
E o desporto faz-nos ser no outro. Enleva-nos. Transcende-nos. Praticado ou só (como se fosse pouco) assistido empodera-nos, faz-nos crer que os limites estão aquém das capacidades humanas numa vertigem de superação contínua, esperando-se respeituosa. No desporto podemos alcançar o melhor de nós e esperar o superlativo dos outros.
Particularizando, a Guarda conta com um sem número de clubes (associações) que praticam as mais diversas modalidades; umas mais visíveis e massificadas, outras nem tanto. Todas ocupam o seu espaço e importância. Importância que se destaca (e mede) no impacto valorativo na formação global das crianças e jovens. Importa pois apoiar os clubes e as diversas modalidades que aportem um espírito consentâneo com os valores da tolerância, do respeito, da solidariedade, do importar-se com o outro, mesmo que adversário, que desembocam num valor mais abrangente: a fraternidade. E o Desporto na sua essência é fraterno (se o é tantas vezes na prática, é outra questão).
Na Guarda (e em todo o lado) os clubes têm de ter esta visão, logo esta missão de promover uma competitividade fortemente… competitiva, mas profunda e profusamente fraterna. A nossa comunidade e sociedade precisam de gente bem formada, bem orientada na liberdade, na crítica reflexiva, no profundo respeito pelo outro- que começa no profundo respeito por si próprios.
Cabe então ao poder político (local) apoiar fortemente esses clubes que acrescentam, que são mais-valia, seja monetariamente, logisticamente, seja também com o proporcionar espaços condizentes e condignos à respectiva prática. E aqui há muito a fazer; seja nas modalidades de pavilhão ou outras, seja em relação ao desporto mais popular, o futebol. Neste caso, a Guarda não pode ter quase só um campo sintético como o do Zambito: é muito pouco, é querer muito pouco, é não dar, ou pelo menos não reconhecer muito valor a tantos e tantos que estão envolvidos no futebol de formação (note-se a exemplo: a equipa de juvenis do NDS está a participar no campeonato nacional, o Zambito é, por diferença, o pior complexo de todas as equipas!). Pergunta-se: que imagem a Guarda dá de si? E a pergunta primeira: que imagem a Guarda tem de si?!. Urge resolver esta situação que devia estar rematada há décadas (outros resultados desportivos teriam sido alcançados, certamente).
A talho de foice, a formação (também a distrital) no futebol deveria ser canalizada para um único clube sénior (guardense), bem estruturado, superiormente dirigido, com pensamento estratégico de longo prazo: inusitado a nossa cidade não ter um único clube nos nacionais; e mesmo o distrito só teve um representante este ano, que já desceu…
Se existem clubes, e mais uma vez das diversas modalidades, que merecem nomeação e reconhecimento e simpatia, o facto de estarmos mais ligados a uns do que a outros leva-nos a referir aqueles que conhecemos melhor, porque acompanhados com maior proximidade, porque empática e emocionalmente ligados: o NDS (Núcleo Desportivo e Social).
De facto, o NDS tem sido uma referência, ao longo dos anos, em diversas áreas mormente na área da formação no futebol. É justo reconhecê-lo e referenciá-lo como um clube que já deu muito à pólis através dos ensinamentos e valores que transmitiu às contínuas gerações de jovens desde os seus alvores. Aos seus dirigentes, treinadores, colaboradores (apesar de muitos se não conhecerem) antigos e actuais: Obrigado. Aos pais que acompanham os seus filhos, uma saudação, frisando em concreto os pais que este ano têm acompanhado (e convivido) o campeonato nacional de juvenis: um sentido Bem-hajam. A estes atletas a exaltação da sua tenacidade, perseverança e sentido de equipa… que não desiste, persiste e insiste… apesar de tudo.
Ainda e outra vez a talho de foice: a propósito do despropósito da conduta de alguns pais/familiares de muitos e diversos clubes, ressalvar a pertinência de uma análise substantiva a todo o seu comportamento nefasto, deprimente e surreal, por vezes. Temática a merecer reflexão- grave e laboriosa.
O Desporto é (deveria ser) competição, mas ainda e sempre e acima de tudo Fraternidade verdadeiramente… fraterna.

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