sexta-feira, 1 de março de 2013

estórias da Terra- Manuel da Silva Gonçalves

Depois da intervenção dos militares na casa da escola, ou casa da professora, após o 25 de Abril de 1974, criámos o Clube da Juventude nesse espaço. Esta experiência foi mal sucedida porque nessa época não se conseguiu reunir as condições e apoios para que o projeto tivesse pernas para andar.
No entanto, passaram-se ali alguns serões agradáveis e recordo, particularmente, mais dois episódios: 
A galinha decepada que caminhava
Recordo-me de uma noite em que, depois de um jogo de “lerpa”, o Adérito para pagar as dívidas foi buscar uma galinha à capoeira dos pais para fazermos uma patuscada. Eu e o Jorge Pereira ficámos com a tarefa de matar a pobre da galinha. Saímos do salão e fomos matá-la num dos terrenos que ladeiam o largo. Segurei-a com as duas mãos, enquanto o Jorge lhe agarrou na cabeça e cortou o pescoço. Para não me sujar com o sangue larguei-a e, para espanto nosso, o animal começou a andar… parecia fugir ao destino. Claro que nós fugimos para o lado contrário e fomos para o salão relatar o insólito acontecimento.
Só a fomos buscar depois de uma grande galhofa e a pobre da galinha acabou por ser cozinhada mas de tão rija, estava verdadeiramente intragável. Devia ser a mais desdentada da capoeira!
Patifaria
Noutra noite, depois do fecho, decidimos colocar todos os carros de bois e carroças que estivessem na via pública virados de lado, isto é com uma das rodas no ar. Para disfarçarmos a autoria da brincadeira nem os dos nossos familiares escaparam.
Na manhã seguinte a pacata aldeia acordou em verdadeiro alvoroço. Só podia ser coisa de gente estranha à aldeia diziam.
A sra. Maria afirmava “os nossos não foram pois até nos colocaram o arado de madeira em cima do portão”; a minha mãe retorquia “ai os meus também não porque os nossos carros também estão virados”.
A estratégia resultou!
Devo acrescentar que fomos cuidadosos e, para além do incómodo, não causámos prejuízo a ninguém.

                                                                             Manuel da Silva Gonçalves

5 comentários:

Júlio Manuel Antunes Pissarra disse...

Entre outras, também já tinha ouvido, à Malta da tua idade,relatar estas divertidas e saudáveis estórias.
P.S. - Também é do teu "Tempo" a estadia, em Vila Mendo, dos Militares. Podias explorar esse tema, porque são igualmente relatadas situações bem engraçadas dessa época.
Abraço.

Anónimo disse...

O pessoal de vila mendo é mesmo atravessado!!!

Anónimo disse...

Manel,obrigado
Mais uma que estava no nevoeiro da memória.
A "revolta dos carros/carroças" aconteceu porque era preciso alterar o uso e abuso tradicional dos nossos pais em estacionar na via pública, complicando a vida aos condutores de veículos ligeiros. A mensagem foi entendida à exceção do avô do Júlio, o sr. Manuel Domingos, pelo que na noite seguinte, em vez do carro de bois virado, tiraram-se-lhe as rodas que rolaram pela canada dos Campos. O único comentário azedo do dito sr. : "só quero que as chavetas apareçam!!!". Uma brincadeira que "preparou" o estacionamento das "voitures das vacanses". A brincar também se educa.
Um abraço, malta
Zé Domingos

Anónimo disse...

belas estórias dum tempo que já não volta mas que é bom recordar...

Anónimo disse...

vila mendo no seu melhor