domingo, 17 de março de 2013

Feiras em Vila Mendo? Eis, ainda, a questão!..

Sendo estritamente pragmáticos, não podemos afirmar taxativamente a inexistência das feiras mas… não podemos afirmar, taxativamente, que as houve. Resumindo: a dúvida permanecerá; haverá os que continuarão a dizer que sim e haverá os que dirão que a hipótese será um tanto remota, e encontrar-se-ão argumentos para cada uma dessas visões, sendo até que a “fé” desempenha aqui um papel, muitas vezes, importante: o querer acreditar a todo o custo inviabiliza, não raras vezes, uma análise despretensiosa e descomprometida.
Posto isto, uma pequena nota: estar mais de acordo com uma visão do que com outra, não significa gostar mais ou menos da nossa terra, aliás, será até um pretensiosismo pois “essa coisa de gostar” não será propriamente mensurável e comparável, julgo. Tentar esclarecer uma questão, na busca da verdade, parece-me um acto de coragem e honestidade intelectual que deve ser fomentado e apoiado em todas as situações e circunstâncias da nossa vida pública e privada. Até porque no caso concreto da existência ou não das feiras, esta procura da verdade não traz qualquer prejuízo pois… nunca houve qualquer benefício por se falar, e falar, e tornar a falar delas em Vila Mendo, nem isso diminui as suas gentes, pelo contrário: o querer saber a verdade só enobrece a nossa aldeia enquanto comunidade de pessoas sérias, honestas e verdadeiras, penso.
Agora que balizei, perceptivelmente espero, os pressupostos da minha análise e da análise que deve ser feita por todos aqueles que querem debater, de forma séria e desapaixonada, este tema, vou, sucintamente, ajudar a pensar alguns dos argumentos a favor e contra da realização das feiras em Vila Mendo.
Na minha, modesta, opinião o argumento mais forte a favor é, paradoxalmente, o único que não pode ser verificável: a tradição oral. De facto, os mais velhos referem que “já os antigos falavam dela” e lembro O Sr. Zé “Casona” que faleceu há dois/três anos e que teria hoje 100 anos, o qual referia isso mesmo. E aqui podemos perguntar: Se não houve feira porque é que esse registo oral chegou como chegou até aos nossos dias? De qualquer modo, a ter havido feira esta não chegou ao séc. XX, nem ao XIX, nem à segunda metade do séc. XVIII, pois nos inquéritos mandados fazer pelo Marquês de Pombal a todas as paróquias do país a seguir ao terramoto de 1755, e mais precisamente em 1758 a 22 de Maio, o padre de Vila Fernando, Policarpo da Cruz em relação a Vila Mendo só menciona o número de fogos (casas) e a existência de “uma capela do Apóstolo de Santo André aonde se diz missa para administração de sacramentos”. Ora se por essa altura houvesse algum tipo de feira na nossa aldeia, por certo isso seria mencionado dada a importância de tal.
Quanto ao facto de a feira aparecer em vários livros de história, isso, penso, deve-se ao facto de os diversos autores terem por base a mesma fonte: Alexandre Herculano que se enganou ( e aqui não há dúvidas) no foral de Castelo Mendo ao dizer que era de Vila Mendo; foral esse onde vinha a autorização da criação das feiras realizadas três vezes por ano e com os benefícios e privilégios conhecidos.
Quanto aos vestígios, considero que para haver aquele tipo de feiras tinha de haver necessariamente infraestruturas permanentes e duradouras, que não chegaram até nós ou... não existiram. Quanto a isto cito outra vez o Sr. Zé “Casona” que afirmava que os antigos diziam que na construção da Sé tinham vindo buscar muita pedra a Vila Mendo.. Seria, não seria?.. Não temos como verificar objectivamente. Ainda relativamente aos vestígios, penso ter lido uma teoria no jornal A Guarda, há uns anos, de um colaborador do referido jornal que escrevia sobre assuntos históricos, em que afirmava que Vila Mendo teria sido destruída nas invasões francesas, daí a não existências de vestígios. Seria, não seria?.. Contudo esta teoria será, porventura, mais fácil de investigar.
Quanto à confluência de caminhos, à existência dos baldios, ou a existência de uma tradição de negociantes/comerciantes, são argumentos válidos, com certeza, mas que podem ser transferidos e aplicados a centenas de outras povoações onde, por certo, se conjugam estes requisitos e não há registo de qualquer feira…
Termino como comecei: não podemos afirmar taxativamente a inexistência das feiras mas… também não podemos afirmar, taxativamente, que as houve! E perante isto, o que se pretende é que, vendo os indícios, cada qual retire as suas próprias conclusões, sem qualquer tipo de dramatismo ou paternalismo exacerbado em relação à nossa Vila Mendo que é de todos os seus filhos.
Espero ter contribuído para ajudar a pensar melhor esta questão, pese embora não dar uma resposta cabal e objectiva a esta problemática. No campo dos desejos tenho uma certeza: TODOS gostaríamos que a resposta fosse: SIM, mas…
Feiras em Vila Mendo? Eis, ainda, a questão!..

3 comentários:

Manuel Silva Gonçalves disse...

A análise desapaixonada!

Luis Filipe, assumiste claramente o papel de moderador que já estava a tardar.
Parece-me que compete a cada um de nós continuar esta investigação, eu não deixarei de o fazer.
Um abraço.

Anónimo disse...

Obrigado, Filipe,
Gostei do tua honestidade e na forma em como apresentas a questão. Sinceramente estava a pensar em pedir-te para retirares todos os meus comentários sobre o assunto, pois, embora tenha saído de Vila Mendo há 33 anos e seis meses, sinto orgulho por essa pequena terra que me viu nascer e pouco mais, uma vez que, a partir dos nove anos, só nas férias grande me servia de poiso. Nunca foi minha intenção (provo-o pelo 1.º e-mail que te mandei) ser causa de discórdia,... apenas conhecer um pouco mais sobre a nossa terra. A tua análise é no fundo, para mim vilamendense (e não aquele senhor)a forma correta de colocar a questão.
Relativamente à destruição pelas tropas francesas, é orgulhosamente simpático pensar que uma pequena aldeia sem defesas naturais, nem muralhada, terá tido a coragem para enfrentar o maior exército do mundo ocidental à época... e por vingança destruíram-na... mas penso que eles, ao passarem por Almeida (onde foram obrigados um enorme atraso) seguiram a passo apressado por outro corredor em direção a Lisboa via Bussaco.
Um abraço
Zé Domingos

Anónimo disse...

análise ponderada.....