domingo, 8 de janeiro de 2017

Ciclo de Entrevistas- Élio Pereira Alves

Élio Pereira Alves, 27 anos, Engenheiro Civil
Habilitações: até 4º ano escola primária de Vila Mendo, 5º e 6º ano Telescola de Vila Fernando, do 7º ao 9º Escola C+S de S.Miguel, do 10º ao 12º Escola Secundária da Sé, posteriormente licenciatura em Engenharia Civil no Instituto Politécnico da Guarda, por fim Mestrado em Construções Civis também no Instituto Politécnico da Guarda.
Gosto do barulho das motas. Sempre quis ser piloto da força aérea, mas no ano de entrada no secundário acabei por desistir de ir para a academia militar, pois a exigências físicas não me permitiam (a nível maxilar e costela e etc.)
Tive oportunidade ir longe no futebol e não aproveitei, uma das coisas que mais me arrependi na vida. Fiz duas pré-épocas nas camadas jovens da académica de Coimbra, não acreditei que fosse possível, não dei o meu melhor. Como era o ano de transição para sénior… caiu tudo por terra.

Quando e onde tiraste o teu curso?
Depois de todo o percurso descrito anteriormente, posso dizer que terminei a minha licenciatura no ano 2013 no Instituto Politécnico da Guarda. Contudo achei que poderia ir um pouco mais além e ingressei no Mestrado em Construções civis que acabei por terminar em 2015. É sempre uma mais valia subir mais um patamar na nossa carreira, mas infelizmente neste momento na minha área, a nível nacional, ser licenciado ou ter mestrado não tem de todo muita importância.

No momento, qual a tua actividade profissional?
Neste momento exerço a minha profissão, como Engenheiro Civil claro, na Empresa Manuel J.A. Gomes Lda, uma empresa bastante conceituada no distrito da Guarda a nível de Estruturas Metálicas.

Que expectativas tens a nível profissional?
Estando na fase inicial da carreira, as minhas expectativas passam por permanecer na empresa onde estou actualmente. Estruturas metálicas é cada vez mais um ramo da Engenharia Civil que tem vindo a crescer. Estruturas metálicas estão presentes em todas as grandes obras pelo mundo fora. 
O meu objetivo, quer a nível profissional quer a nível pessoal, passa por ajudar a melhorar o mundo que nos rodeia. Desta forma, penso estar em condições para o fazer; a M.J.A.G. tem vindo a apostar numa equipa jovem e dinâmica para dar resposta aos muitos trabalhos que tem vindo a realizar, quer a nível nacional quer a nível internacional. 

Continuar na Guarda está nos teus horizontes?
Para já sim. Dando um pouco de continuidade aquilo que falei anteriormente, neste momento estou concentrado no meu trabalho. Tive esta oportunidade tenho de a aproveitar. 
Contudo, metendo-me eu no lugar de muitos amigos/familiares que tenho, penso que uma pessoa que consiga construir/equilibrar a sua vida fora da nossa cidade jamais pensará em regressar, pelo menos num futuro próximo. Não posso descartar a ideia de sair da nossa cidade, no futuro e no tempo ninguém manda! A cidade da Guarda está num ciclo monótono, sem grandes soluções. Isso reflecte-se na área de Engenharia civil, uma das áreas mais afectadas no nosso país. Portugal parou na construção, a cidade da Guarda não tem nenhum ponto de atracção para incentivar as empresas a investir. É triste mas é a realidade.

Como vês a actual situação política no que concerne ao emprego e futuro dos jovens?
Como jovem e como Engenheiro que sou, aquilo que eu vejo é uma "degradação" continua na permanência dos jovens no nosso país. Penso que toda a gente tem noção do actual estado do nosso país no que toca à empregabilidade dos jovens. É extremamente urgente reformular a estratégia de formação/emprego para os nossos jovens. Portugal tem qualidades e tem demonstrado que consegue formar pessoas com grande potencial e é pena que não haja condições para os segurar por cá.
Mas também é importante referir que muitos dos jovens não fazem um bocadinho de esforço para permanecerem. Não se preocupam em arranjar soluções, é sair à primeira oportunidade que lhes apareça. E com isto também queria fazer um apelo aqueles que o tencionam fazer: não pensem em deixar a nossa cidade e o nosso país só porque todos o fazem, façam-no só em último recurso.

Como vês o futuro da Guarda e do interior como tal?
Muito resumidamente e indo de encontro aquilo que já foi dito, penso que a Guarda será cada vez mais no seu futuro, uma cidade mais pobre se não conseguirem/conseguirmos inverter a situação. 
Grande parte dos jovens depois de concluírem os seus estudos não querem permanecer e isto, caso se mantenha por alguns anos, terá um grande impacto no que toca à densidade populacional da cidade da Guarda e toda a sua região.
Como grande parte de nós sabemos, a Guarda (interior) antigamente vivia da agricultura. Na minha opinião, deveria haver a curto prazo uma forte aposta neste sector para que se pudesse usufruir daquilo que é o "nosso" forte. É triste olhar em redor e ver como tudo se vai perdendo, desde destruição de florestas, terrenos ao abandono, aldeias desertificadas etc.. 
Vejo a Guarda com grande potencial para se puder investir na agricultura. Sei que não é fácil, mas há que arriscar, e quem sabe daqui a uns anos não fosse a Guarda uma cidade mais "rica" e com uma porta aberta para o estrangeiro.

Um projecto, uma ideia, um sonho, enfim… uma utopia para Vila Mendo?
Gostaria de um dia olhar para Vila Mendo e ver mais crianças a jogar à bola, andar de bicicleta, correr, saltar etc.. É uma coisa que me deixa bastante angustiado, ano após ano sentir Vila Mendo mais pobre. Vila Mendo será cada vez mais um ponto de encontro para as famílias que residem aqui na região da Guarda e um local de paragem para aqueles emigrantes que vêm passar férias a Portugal.
Era muito importante que a nossa gente não deixasse de vir com regularidade a Vila Mendo, só assim conseguiremos manter de pé a nossa terra.
Tem sido fundamental a criação de várias atividades pela ACR de Vila Mendo, já pensaram o que seria Vila Mendo sem a associação?.. É neste sentido também que tenho vindo a tentar implementar mais uma atividade anual, a realização de um convívio ou uma prova motocross. Penso que é sempre importante impor a Vila Mendo algum movimento, ou seja, sempre é mais um fim-de-semana em que teremos mais alguns jovens a dar alguma dinâmica à terra. 
Gostava de ver Vila Mendo com mais casas reconstruídas. Os proprietários deveriam repensar melhor nesse aspecto: ou fazer uma reconstrução básica para não deixar cair ou simplesmente pensarem em vender barato. Desta forma talvez despertasse um pouco mais de interesse a alguns jovens, como já aconteceu aliás, embora depois alguns tenham acabado por desistir por isso mesmo. E digo isto porquê? De que vale ter uma casa que nunca vai ser habitada e que mais tarde acabará por cair? De que vale ter uma casa numa aldeia sem habitantes?.. 
A este ritmo, vejo e tenho a certeza que Vila Mendo daqui por duas ou três décadas será uma aldeia completamente desertificada. Será esta uma situação irreversível? Precisaremos de ajuda de todos para inverter esta situação.



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