quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Isaurinha- recolha popular

 Andava na 3ª ou 4ª classe (não sabe precisar) e invariavelmente depois da escola passava por casa da sua bisavó Purificação Lopes para entretida e paulatinamente transcrever os versos, as quadras e os poemas; as lenga-lengas, as rezas e as estórias para um caderno que guarda religiosamente, mas de que já não encontra uma parte, embora a procure furiosamente uma e outra vez. Recorda com uma saudade nostálgica esses momentos... recorda a ternura e a paciência com que a bisavó esperava que ela escrevesse tudo... recorda as explicações às palavras que não compreendia e que ela aturadamente explanava... Falamos da Paula Pereira que nos deixa, hoje, "Isaurinha".

No dia 31 de Março
Óh dia tão fatal,
Mataram-se dois amantes
Por os não deixarem casar

Começaram de crianças
Na escola a namorar
Da idade de quinze anos
Tratou de a enganar

Seu pai assim que soube
Que a tinha enganado
Foi metê-lo na cadeia
Da polícia acompanhado

Eram dez horas da noite
Isaurinha à cadeia estava
- “Arrombem-se essas grades
E dêem-me para lá entrada"

Manuel assim que a viu
Começou logo a chorar
Chamou pelo carcereiro
Que se queria confessar

- “Vai-te embora Isaurinha
Que já está a amanhecer
Olha que se o teu pai o sabe
Sepultura te vai fazer”

- “Manuel se tu morreres
Eu também me hei-de matar
Ficamos os dois numa campa
Os caixões de par a par”

Tinha um pai tão cruel
Que aos pés dele a fez deitar
- “Antes te quero ver morta
Do que tu com o Manuel casares”

Ela foi-se para o seu quarto
Foi-se a pôr logo a pensar
Deitou-se da janela para baixo
Em pedaço foi ficar.

Sua mãe quando o soube
Estava ao cimo da rua
- “Isaurinha minha filha
Triste sorte foi a tua”

Chora a mãe de Manuel
Causa pena e dá dor
- “Manuel era o meu filho
Isaurinha o seu amor”

Pais e mães que tenhais filhas
Nisto podeis reparar
Em vos falando em casamentos
Deixai-as logo casar

Sem comentários: