Há uns tempos largos, Miguel Esteves Cardoso no Público intitulava a sua pequeníssima crónica diária de “Não te metas nisso!” e dissertou sucinta, mas brilhantemente, sobre aquilo que ele designa o “conselho mais português de sempre”.
De facto, se nos detivermos um pouco, quem nunca proferiu já esse tão douto conselho?!. Quem não iniciou ou finalizou uma conversa desta maneira tão eloquente!! Quem não utilizou todo o seu arsenal argumentário para convencer alguém a “não se meter nisso”?! Quem não deu por finda uma temática, uma simples palra, desta forma, ou (na sua versão mais suave) desta maneira: “deixa lá isso”?!. Seja o neste “isso” o que for: do assunto mais importante e decisivo, até ao mais básico e inócuo- dá para tudo! Se o “não te metas nisso” pode pressupor uma explanação mais ou menos aturada das imprudências “disso”; o “deixa lá isso” configura uma quase preguiça de quem não quer dar grandes justificativas sobre tal aconselhamento: o conselho basta por si próprio e não são precisas delongas!..
No fundo, são o mesmo, e se umas vezes são genuínos porque se pensa realmente que o outro não vai beneficiar nada com “isso”; tantas vezes servem para mascarar uma certa inveja maldizente, quando o “isso” é algo benéfico para outrem, e tal nos remói; outras tantas servem para disfarçar a impaciência de que estamos assolados com a presença, ou pelo menos com o assunto do interlocutor.
Este “conselho-amigo” (tão português, tão guardense, tão vilamendense… tão identitário?) teria evitado, por certo, tantas desgraças, tantas tristezas e agruras, tantos males e lamentares se fosse acatado!.. É que nunca se dá ao engano porque nunca falha, e vem- não raras vezes- seguido, a posteriori do acontecido, do invariável e sobranceiro: “eu bem te avisei… para não te meteres nisso”; e em jeito de conclusivo remate e de impossível rebate de tão sabidos pareceres- incompreendidos e incumpridos- ainda proferimos a derradeira sentença: “bom. olha. agora… não ligues a isso… deixa lá isso”!!! E pronto. Que estas sapientíssimas palavras são para ser escutadas e rematadas… para bem dos outros… e de nós próprios, diga-se de passagem!
E na esfera destes aconselhamentos, ainda há o proeminente, quase sempre presente: “eu preferia não me meter nisso"! Quando o outro teima, por todas as artes e manhas, envolver-nos de alguma forma e feitio nas questiúnculas dele; e à falta de prosápia que valha para o convencimento de que a nossa envoltura não será do melhor remedeio, atiramos- qual flecha lancinante- o tal “preferia não me meter nisso”. Assunto arrumado. Para provável amuo e arrelia de alguém mais ou menos conhecido, mais ou menos considerado. Nada que uns copos bem bebidos, refira-se e sublinhe-se, não ajudem a resolver, se for o caso… que a vida são dois dias e o carnaval são três!..
Mas… e vale a pena metermo-nos Nisso?!.
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