(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 13 de Fevereiro)
Desde sempre (provavelmente para sempre) o conhecimento humano e o seu avanço, as conquistas técnicas, estéticas, científicas e todo um conjunto de coisas extraordinárias de que dependemos enquanto civilização, foram feitos à custa de uns poucos. A esmagadora maioria das pessoas- antes, agora- não contribuem com quase nada para tal. Limitamo-nos a ser receptores (de algum modo passivos) e a beneficiar da brilhantez de uns quantos ao longo da história da humanidade.
E porque é que isso acontece? Qual o papel da natureza e da cultura em tal? Quais os papéis (e quais as combinações desses papéis) da herança genética, dos factores económicos, sociais, geográficos na composição das capacidades humanas? A educação pode fazer com que muitos outros possam aceder e produzir um nível mais elevado de conhecimento, mas até que ponto? O “politicamente correcto” em que vivemos assolados, quase que atolados não nos deixa ter um debate sério e profundo sobre tais questionamentos.
O certo é que só a elite das elites chega ao limiar do desempenho superior e transforma verdadeiramente o mundo enquanto civilização: para o bem, tantas vezes para o mal. A maioria dos seres humanos irá escolher as telenovelas e sucedâneos em vez de Ésquilo, Kant ou Pessoa, ou… Irá sacralizar o futebol, os “influencers”, as redes (in)sociais e suas figuras mediáticas e medianas até aos píncaros; e o pensamento profundo, diferenciador e revelador será visto como algo distante, risível, senão ameaçador…
(Numa catástrofe hipotética em que toda a humanidade fosse atingida e em que se perdesse todo esse de legado de conhecimento, tecnológico por exemplo, que seria de nós? Conseguiríamos nós, pessoas comuns, recomeçar e aportar conhecimento a partir do quase nada?)
De facto- embora agora noutra dimensão, mais perceptível e mais nossa- também Portugal tem as suas elites. E são elas que nos conduzem e nos conduziram até aqui. São elas as responsáveis por estarmos como estamos (bem ou mal é outra questão). São elas que, apesar de serem autodestrutivas em e entre si, promovem e operam desenvolvimento do país. Sem elites as sociedades seriam inconcebíveis face à natureza humana. Quer queiramos quer não, beneficiamos dos que estão no poder, dos que fazem poder (embora muitas vezes soframos com esse domínio, infelizmente).
Esta análise não desresponsabiliza a maioria dos cidadãos “normais” nas suas virtudes, defeitos e papéis; e até na coragem para aguentar essas mesmas elites; em instância última, estas germinam do todo que é a sociedade. E se as elites moldam a população em geral, também esta os pode moldar e condicionar a eles… para melhor (?)…
E na Guarda? Existem elites? Em que áreas se destacam? Conseguimos dar-lhes nomes? O que fazem? Fazem? Como operam? Operam? Na penumbra? São transformativas? São limitativas (até com elas próprias)? Na Guarda, as elites são?!.
Indagações. somente. (tudo)isso.
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