Andava na 3ª ou 4ª classe (não sabe precisar) e invariavelmente depois da escola passava por casa da sua bisavó Purificação Lopes para entretida e paulatinamente transcrever os versos, as quadras e os poemas; as lenga-lengas, as rezas e as estórias para um caderno que guarda religiosamente, mas de que já não encontra uma parte, embora a procure furiosamente uma e outra vez. Recorda com uma saudade nostálgica esses momentos... recorda a ternura e a paciência com que a bisavó esperava que ela escrevesse tudo... recorda as explicações às palavras que não compreendia e que ela aturadamente explanava... Falamos da Paula Pereira que nos deixa, hoje, "Onde vais ó Sopeira".
- Onde vais ó sopeira?
Que vais tão apressada
Para que te apressas tanto
Para ganhares pouca soldada
- Que importa ao senhor que eu vá
Depressa ou devagar?
Com esses seus elogios
Pouco pode aproveitar
E se quer saber o que eu ganho
É deitar-se a adivinhar.
- Não lhe falo com interesse
Não seja tão caprichosa
Eu sou dos mais inocentes
Dessas faces cor-de-rosa
A pena é seres bonita
E não seres mais atenciosa.
- É pena, sou assim mesmo,
E não me tenho achado mal
Guardando o melhor para mim
Que é o vaso principal
- Que mal fiz eu a essa gente
Somos todos rapazões
Segurança da cidade
E guarda dos meus patrões
Se eu não sou rapaz catito
Olha-me para estes botões.
- Eu não sou das que me iludo
De falsos botões dourados
Mal vistos de toda a gente
E do povo ameaçados-
- Oh sopeira “endiabrada”
Já me estás a decompor
A culpa tive-a eu
Em te eu contar o meu amor.
- Se esse amor não é impostor
Vamos fazer um partido
No fim de acabar o tempo
Venha então falar comigo
Que eu lá digo aos meus patrões
Que há-de ser o meu marido.
- Vamos “pregões” arranjar
E a deita-los à igreja
Para nos irmos receber
Aonde toda a gente veja.