terça-feira, 30 de setembro de 2014
Filhos da Terra- Acácio Pereira
Mais um artigo de opinião, no jornal O Interior, do Acácio sobre o despovoamento do interior. Pode ser lido AQUI
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
estórias da Terra- Júlio Pissarra
As Calças
Era um, quente, final de tarde de Agosto dos saudosos anos 80. Terminado mais um árduo dia de trabalho a “malta” de Vila Mendo juntou-se aos tanques para uma alegre cavaqueira, saciar a sede e aliviar o calor, com a refrescante água do nosso chafariz. Nesses tempos quer fosse fim-de-semana ou meio da semana, praticamente todas as noites concluíam na discoteca da moda (“Night and Day”- Alto de Pêga).
Quem vai, quem não vai…! Eu, o meu amigo e primo Zé Gonçalves e o meu amigo (agora também Primo) Víctor Soares decidimos ir! Depois de jantar, e chegada a hora, aí vamos nós para a “noite”! A viagem realizou-se numa carrinha de transporte de gado que pertencia ao meu tio José Marques (pai
do Zé). Chegados à porta, da discoteca, deparámo-nos com um problema:
- Zé, o teu primo vem de calções, não pode entrar! – disse o Porteiro.
- Então porquê? – questionou o Zé.
- São regras da Casa! - respondeu o funcionário.
- Mas já vi aí dentro várias mulheres de calções! –disse eu.
- Mas com as mulheres é diferente!!! – exclamou o Porteiro.
- Esta é boa! Vimos de Vila Mendo, chegamos aqui, e não entramos?! – respondeu o Víctor.
Depois de duras negociações, nem com a grande influência que o Zé detinha, nesta discoteca, conseguimos entrar. Então para não prejudicar os meus amigos sentenciei:
- Entrai vós, eu vou para a carrinha dormir!
Aí o Zé foi perentório:
- Não, ou entramos todos ou nenhum!
- Vamos embora! Não estamos aqui a fazer nada! – disse o Víctor.
Aquilo que se ia tornar numa alegre noite estava-se a transformar num pesadelo. Na curta viagem para a carrinha os três amigos mostravam a sua indignação e surpresa pelo sucedido. Mas será que tudo estava perdido…?
Quando entrávamos para o nosso meio de transporte, o Víctor disse:
- Zé, por vezes os teus irmãos trazem umas Calças, suplentes, para carregar e descarregar o gado. Vê lá se há por aí algumas!
Depois de breve busca, o Zé, carregado de felicidade, exclamou:
- Olha aqui uma Calças!!! Há! Há!…e bonitas que elas eram!!! Cor bege, feitas de fazenda da primeira qualidade, vincadas e com umas elegantes pregas! Mas o desejado objeto de roupa não tinha, nesse dia, as condições mínimas para entrar no referido espaço noturno. Estava completamente amarrotado, cheio de grandes nódoas e abarrotava de sujidade seca (vulgo *M…) inerente ao trabalho que ajudava a desenvolver. Mas era o que havia…!
- Experimenta lá as Calças! – disse o Zé.
Quando as experimentei reparámos que me ficavam demasiado curtas, mas rapidamente solucionámos o problema. Fiz uma espécie de dobra, que dava o efeito de bainha, e assunto resolvido.
- Assim não me deixam entrar! – exclamei.
O Zé respondeu:
- Então não queriam umas Calças? Já as tens vestidas! Vamos embora!
Depois de muitas gargalhadas tocámos à campainha da discoteca. A porta abre-se e o Zé dirige-se, apontando para mim, ao porteiro e diz:
- Agora já pode entrar?!
O porteiro, com um sorriso de espanto perante o cenário que tinha à sua frente, não soube o que responder. Então o Víctor sentenciou:
- Não querias que o rapaz vestisse umas calças?! Aí as tens!!!
Resignado e espantado, o porteiro, não teve outra alternativa.
– Sim… agora pode entrar… mas…, senta-se lá a um canto. Pode parecer mal!
- Para me sentar a um canto prefiro não entrar! – respondi.
Entrado na discoteca assumi a postura normal que sempre tinha quando frequentava esse espaço. O Zé logo fez questão de publicitar a situação e, com o seu sorriso matreiro, dirigiu-se às minhas primas Guida e Paula que, também, diariamente frequentavam esta discoteca:
- Já vistes o vosso primo? – Não – responderam. – Mas porquê?!
- Ide procurá-lo e depois dizei alguma coisa!
As minhas primas quando me encontraram ficaram estupefactas.
- Hhááá!!! – disse a Guida. – A minha alma está parva!!! – exclamou a Paula.
Explicada a situação terminámos todos em enormes gargalhadas. Ao mesmo tempo, questionávamos o porquê de não poder aceder à discoteca com uns adequados calções e poder fazê-lo com aquelas originais Calças!
Com muita dança e saudável convívio assim decorreu uma das noites mais divertidas da minha juventude! Importa realçar que nunca mais, até hoje, me senti tão observado como nessas “porreiras” horas!
Júlio Antunes Pissarra
Etiquetas:
Estórias de Vila Mendo
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
estórias da Terra- Manuel Silva Gonçalves
O diabo que tocava o sino
Era tradição no sábado de aleluia tocar-se o sino depois da meia-noite, mais propriamente no domingo de páscoa, até de madrugada ou até que os moradores mais próximos da capela esgotassem a paciência e nos solicitassem para pararmos pois precisavam de descansar. Esta é uma manifestação de regozijo para os crentes na ressurreição de Jesus Cristo e é tradição em toda a região beirã.
Numa dessas noites, depois de termos jogado uma partida de futebol no largo da escola ao luar, pois energia elétrica ainda não havia, resolvemos ir tocar o sino ao Monte Carreto.
Claro que esta ousadia não passava de uma provocaçãozita para com os habitantes daquela aldeia vizinha!
Mas a coisa tinha de ser bem engendrada…
Devíamos ser para uns quinze malandros. Alguém arranjou uns metros de cordel de atar os fardos do feno e pelas duas ou três da manhã aí vamos nós a pé pelos trilhos e caminhos rurais. Quando nos aproximámos da capela da aldeia vizinha, vimos que havia meia dúzia de jovens locais à volta de uma pequena fogueira. Sem que nos tenham visto, escondemo-nos num terreno próximo e, pacientemente, esperámos que o grupo dispersasse e recolhesse às suas residências. Assim aconteceu. Quando se afastaram o suficiente para não darem pela nossa presença, passámos à ação. Acompanhado por dois ou três companheiros subimos a escadaria exterior que nos levava até ao sino e atámos o cordel ao badalo. Depois foi só desenrolar o cordel até passar o muro do quintal mais próximo onde tinha ficado o resto da equipa escondida no meio do centeio. Antes de regressarmos ao grupo, um de nós deu uma valente “carreirinha” do género “tocar a rebate” e depois, de forma mais espaçada e com adequada cadência, o sino tilintava o dlim-dlão cada vez que o cordel era puxado.
Aconteceu aquilo que prevíramos…
Os jovens residentes que momentos antes tinham estado à volta da fogueira começaram a regressar à capela, assim como outros residentes, para tentar perceber o que se estava a passar.
Dizia uma das raparigas: “ Isto é o diabo! Então o sino toca sozinho, é o diabo!”
Imaginam o gozo que esta cena nos deu.
Quando os pasmados moradores se aproximaram o suficiente, nós, os diabretes, largámos o cordel e fugimos para não sermos reconhecidos.
Manuel Silva Gonçalves
Etiquetas:
Estórias de Vila Mendo
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Vila Mendo nos anos 60/70- Manuel Corte
A Vida no Campo
O que a seguir descrevo reporta-se à minha memória e tempos vividos na nossa aldeia Vila Mendo.
Na generalidade todos os residentes viviam daquilo que a terra dava, com pequenas excepções; algumas famílias dedicavam-se ao comércio bovino, ovino, caprino e suíno. Todos os terrenos eram cultivados, quer para plantações (batata, feijão, hortaliças…) quer para o cultivo de cereais (milho grosso, milho miúdo e centeio). O dia era inteiramente passado no campo e os meninos de tenra idade também acompanhavam os seus pais. A vida era alegre e feliz, mesmo para aqueles que pouco ou nada tinham.
Ao romper da aurora e ao cantar do galo todos despertavam para a jornada. Cada casa albergava em comum galinhas, coelhos, vacas, porco, burro, cães, gatos… Quem não conhece o ditado “se o mal não dobra galinha não prova”. Como falei de galinhas o seu papel era pôr ovos porque só era abatida em dias de festa ou quando o seu dono estava para partir. O porco era o bem fundamental na alimentação de cada lar; para além do presunto e dos enchidos sobejamente conhecidos por todos, havia alguma carne que se guardava na salgadeira, coberta por sal e que perpassava de ano para ano.
Analisemos o que a vida mudou!..
A água dos poços era tirada a balde pelos “picanços”, que mais tarde deram origem às tão cobiçadas “noras” e só nos anos 60 se implementaram os motores de rega que deram aso às moto-bombas actuais. Curioso e digno de registo: havia quem comprasse um ou mais burros para pôr à nora na Feira de S. João da Guarda (24de junho) e que vendia após as colheitas na Feira de S. Francisco (4 de Outubro); fica outra nota: havia quem pusesse dois “cambões” na engrenagem da nora a fim de engatar dois burros, o que fazia com que se algum quisesse parar o outro obrigava-o a andar!..
Havia tarefas no campo bastante árduas e que só podiam ser feitas pelo calor ardente do verão. As ceifas dos cereais eram feitas de forma geral por ranchos (4/5 homens e 15 ou mais mulheres e raparigas) e ainda as “camaratas” de homens (12/15) em especial do Azevo-Pinhel que tinham a particularidade de cortar o centeio com foice-gadanha. A acompanhar todo este pessoal andava o proprietário que abastecia de bebida o grupo e, ao mesmo tempo, ia pondo os molhos em “rolheiros”. De seguida era feita a “carranja”, o transporte em carros de bois que iria dar lugar à meda. Ainda registo a debulha do centeio ao “mangual”, mas em pequenas quantidades. Mais tarde surgiu a debulhadora (malhadeira), máquina de extrair o grão que, à época, era uma opção maravilhosa. Antes desta, de que temos um exemplar na aldeia, surgiram com rodas de ferro e motores a diesel “Lister” para se fazerem movimentar. A palha que saía dava lugar ao palheiro (amontoado em forma de cone que persistia ao temporal, em geral por vários anos).
Na “Eira” ou “Laja” eram necessários doze a quinze pessoas que se ajudavam mutuamente, cada qual com tarefas distribuídas, sendo de salientar os “vergueiros”, quatro a cinco homens que transportavam às costas as “faixas” de palha que davam origem à formação do palheiro.
Passemos à tarefa dos fenos: os lameiros eram cortados normalmente à gadanha marca “Sol” por grupos de três ou quatro homens que levavam cada um o seu carreiro ou "eito", seguindo uns atrás dos outros. Havia sempre alguém que dava o seu jeito especial no picar da gadanha, realizado com dois instrumentos de que a maioria se recorda: safra e martelo. O efeito do corte do feno dava de seguida lugar ao “espalhar, virar, emborregar e atar”. Faziam-se molhos de três faixas para dar lugar ao carregamento, transporte e armazenagem. O carro do feno, transportado por animais, equivalia a sessenta faixas. A denominada faixa era atada com nagalhos de palha devidamente humedecida, normalmente pela manhã, a fim de se tornarem mais macios e resistentes. A “emborregar” o feno, com o chamado ancinho, eram três a quatro pessoas para um a atar.
Se hoje achamos difícil o trabalho do campo, com todo o equipamento de que se dispõe, que seria se nos reportássemos a esses tempos… e não são tão longínquos, porque aqui me reporto aos anos 60/70.
Manuel Corte
Etiquetas:
Memórias de Vila Mendo
terça-feira, 9 de setembro de 2014
sábado, 6 de setembro de 2014
Vila Mendo On Tour
Este ano o Vila Mendo On Tour vai ser para a zona de Coimbra. No dia 4 iremos a uma prova de vinhos na Anadia, visitaremos a mata do Buçaco bem como a Alta Universitária de Coimbra. Pernoitaremos na Pousada da Juventude da Lousã. No dia 5 vamos à Cooperativa do Mel, ao Castelo, e aos museus da Lousã. Iremos ainda a uma Aldeia do Xisto e faremos um piquenique numa praia fluvial.
Etiquetas:
Actividades
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
"Banho público"!..
A moda/mania do "banho público"(ou lá o que isso é) já chegou a Vila Mendo... enfim!.. Mas a causa é nobre e por isso o Rodrigo, o Telmo e o Tiago têm de ser felicitados.
Etiquetas:
Pessoas
terça-feira, 2 de setembro de 2014
Filhos da Terra- Acácio Pereira/ Tiago Gonçalves
Mais dois artigos de opinião, pertinentes, do Acácio e do Tiago na comunicação social da Guarda. O do Acácio pode ser lido AQUI no jornal O Interior. O artigo do Tiago "Emigrantes" está publicado no jornal Terras da Beira.
Subscrever:
Mensagens (Atom)