Quem é o Padre Ângelo?
Uma pessoa de 31 anos que se colocou e, todos os
dias, coloca ao dispor de Deus para servir aqueles e aquelas que estão ao seu
redor. Uma pessoa que tem como ideal deixar-se seduzir todos os dias pela
Palavra de Deus e vive-la todos de coração e braços abertos. Uma pessoa que
acredita que a vida sem palavras sentidas e pensadas não é vida verdadeira. Uma
pessoa que acredita que as obras valem mais muito e que o amor vence tudo. Uma
pessoa que, apesar de por vezes abrandar no sorriso, quer aprender todos os
dias a sorrir e a ser e dar esperança aos que precisam e a procuram. Uma pessoa
que tem como Mestre o Senhor Jesus.
Como foi o despertar da tua
vocação?
Não foi um “clik”. Foi um conjunto de circunstâncias
que fez descobrir e aumentar a fé, solidificar as decisões e continuar a
descobrir os caminhos. A família teve e continua a ter um papel fundamental,
mas também todos os que são desafiadores da vocação como tsunamis devastadores
e como águas tranquilas.
Sendo
um Padre novo, de que maneira pensas que as pessoas te olham? O que achas que
elas esperam de ti?
Respondo de coração aberto. Houve tempos em que
tinha uma preocupação extrema com o que os outros pensariam de mim, mas neste
momento não tenho esse pensamento e muito menos essa preocupação. Sei que se
espera muito do padre. Que o padre seja isto ou aquilo e que seja desta maneira
ou daquela. Que seja à imagem e semelhança de cada um. E esta é a maneira que
eu não me quero tornar: a imagem e semelhança de cada um e da vontade de cada
um. Por opção eu quero ser a imagem e semelhança de Deus e seguir a Sua
vontade. E é isto que todos devem esperar de mim. Que eu siga a vontade de
Deus. Se alguma vez eu não o esteja a conseguir fazer quero que, no espírito da
correção fraterna dos cristãos, alguém tenha a humildade de se aproximar de mim
e dizer-me.
O que é ser padre hoje, tendo em
conta que a sociedade apresenta sinais evidentes de uma laicização galopante a
todos os níveis? Aliás, faz sentido ser padre hoje? Faz sentido “carregar essa
cruz” que é levar a Boa Nova, a mensagem de Jesus a um mundo que às vezes,
parece, não estar receptivo, pelo contrário?
Ser padre faz sentido sempre. Ser padre é estar
disponível para servir e para amar a todos.
Um amor que se faz doação e que se faz orientação na vida. “Dar-se por
amor” compreende-se. Aceitar orientação segundo o amor de Deus, já não se
aceita tanto. Talvez, digo eu, esteja aqui uma das causas da laicização: não
aceitar o amor de Deus. Fruto provável de uma ignorância religiosa a que as
comunidades foram votadas durante décadas. Sabe bem iniciar caminhos novos de
anúncio, em que se redescobre a essência do ser cristão e de Deus que se revela
em Jesus e se torna presente no Espírito Santo. Esta é a cruz que vale a pena
“carregar”, mas que ainda poucos cristãos não estão entusiasmados a pegar e
levantar bem alto.
Qual
a tua perspectiva em relação a alguns temas polémicos como o celibato dos
padres, a ordenação de mulheres ou o uso do preservativo?
Porque são polémicos deixo-os para serem
tratados noutros ambientes e para que as minhas palavras escritas não sejam mal
interpretadas. Digo simplesmente: são orientações e todos somos livres de as
aceitar ou não. No assunto que me diz respeito eu aceitei-o e tenho-o aceitado.
Foi a minha opção.
Quais
as tuas expectativas em relação ao Papa
Francisco?
Um homem que usa palavras simples e
diretas para que todos compreendam a essência da beleza de Deus e do que é a
religião. Não tem medo de tratar as coisas pelo nome. Pelo que parece, é de uma
“frescura” e “acutilância” de palavras que agrada muitos e não agrada alguns.
Neste ainda curto espaço de tempo do pontificado os seus gestos têm mostrado
que a aproximação e a simplicidade são os melhores meios de comunicar o amor de
Deus e não há que ter medo disso.
Muitos
pensarão que o papel do padre é “dizer missa” e pouco mais. Achas que isso não
resultará (à parte da falta de vocações) de uma falta de estratégia diocesana
no que concerne à pastoral como tal, e isto não será consequência da não
realização de um sínodo diocesano, há tanto desejado, que pense, oriente,
balize e concretize toda a acção pastoral e não só?
Uma questão muito pertinente, tendo em
conta o serviço que ocupo na diocese enquanto coordenador pastoral da zona
centro. Muitos e muitas reduzem a atividade do padre a celebrar a missa e senão
há missa é sinal que “o padre não faz nada” ou então “já não temos na terra”.
Isto é fruto de uma falta de abertura dos padres a fazerem outras atividades e
falta de coragem (ou vontade) de consciencializar as comunidades para uma
Igreja que se reúne para a Eucaristia, mas também para muitas outras coisas:
catequese, caridade, convívio, e mais recentemente para os grupos bíblicos.
Desde 2007 que foi lançado o desafio que
cada Arciprestado tivesse um Conselho Pastoral Arciprestal. Este Conselho é
constituído por um representante leigo de cada paróquia que, em diálogo com os
representantes das outras paróquias e os padres do arciprestado, programam e
orientam a pastoral do Arciprestado. O primeiro CPA criado foi o do nosso
Arciprestado do Rochoso cuja representante da nossa paróquia é a D. Maria da
Graça Amarelo. Já se reuniu por 9 vezes. Neste momento a Diocese já tem mais
alguns criados e o programa pastoral a ser debatido brevemente para os próximo
anos pastorais de 2013 a 2017 vai contemplar esta estrutura, bem como o
Conselho Pastoral Diocesano (no qual o nosso Arciprestado tem um representante
eleito de entre os representantes de todas as paróquias). No ano de 2017 vai
haver Assembleia de representantes onde serão refletidos e apresentadas
orientações pastorais concretas para a Diocese. Estas Assembleias de
representantes terão a preparação anterior de 3 etapas concretas em que todos
os intervenientes vão revisitar documentos do Concílio Vaticano II. Não para
lembrar, mas para insuflar o espírito do Concílio nos tempos de hoje.
Se me perguntam se esta estratégia
chega? Não sei. Mas já é alguma coisa
para que se tomem algumas decisões pastorais que comprometam a Igreja enquanto
Igreja Diocesana.
Focalizando
a tua acção e o exercício do teu ministério na Paróquia de Vila Fernando, o que
aspiras, com o teu apostolado, conseguir com estas nossas gentes?
Na nossa paróquia,… nas nossas gentes,…
a minha única aspiração é conseguir mostrar quem é Deus e o que faz o amor de
Deus no coração da humanidade. Penso que na vida de alguns e algumas isso tem
sido conseguido. Mas não há fórmulas mágicas. Se todos nos deixarmos mais
inebriar pela Palavra, depois conseguiremos conviver melhor uns com os outros.
Este é o caminho!
Como
vês a Paróquia de Vila Fernando, logo a freguesia em termos políticos,
económicos, culturais, sociais e associativos? Qual o teu relacionamento com a
sociedade civil da freguesia?
Nunca entrei por caminhos políticos nem
vou entrar agora. Mas a nossa freguesia padece de ter muitos lugares (anexas) o
que faz com que haja uma desfragmentação e uma certa “desunião”. Não em tom de
crítica destrutiva, mas construtiva, seria melhor haver um espírito de unidade
entre alguns e entre todos. Vivemos na mesma terra e só na unidade é que
crescemos em sabedoria, cultura e sociedade.
Que
projectos seriam, na tua óptica, importantes para o desenvolvimento da
freguesia? De que maneira a Igreja, que tu representas, pode ajudar?
Vila Fernando está a três passos da cidade.
Isso há uns tempos atrás significava mais do que agora, mas ainda significa
alguma coisa hoje. Diria duas coisas que poderiam ser pensadas a curto prazo e
que acho já estarem a ser dialogadas: habitação e qualidade de vida.
A comunidade cristã está de portas
abertas, como sempre esteve, para acolher, dialogar e viver em prol da
dignidade da vida humana.
Que
te diz Vila Mendo?
Uma das localidades da freguesia que
demonstra ter uma grande vitalidade através de um conjunto de pessoas que
mantém a sua ligação afetiva à terra que os viu nascer e crescer. Vila Mendo é
sinónimo de movimentação, paixão pela terra e de tantas outras coisas que andam
sobre “rodas”… Mas também é sinónimo de fé. Não posso esquecer que um dos
testemunhos de fé mais impressionantes que já conheci até hoje, foi em Vila
Mendo.
Como
te imaginas daqui a 30 anos?
Não imagino
Queres
deixar uma mensagem aos teus paroquianos?
Nunca percam a esperança. Deus sorri sempre para
vós. Quando as forças estão em alta é Ele que voz mantém em cima, quando as
forças estão em baixo é Ele que vos tenta levantar do fundo do poço.
Confiem n’Ele. Sejam verdadeiros uns com
os outros. Em tudo e sempre coloquem o vosso coração e a felicidade brotará
espontaneamente.