segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Reditos

Exausto de si mesmo
e do excesso de sentir

Maria Teresa Horta. (Eu Sou a Minha Poesia)

domingo, 16 de fevereiro de 2025

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

realidade(s). o perceber (d)o mundo

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 30 de Janeiro)

A realidade o que é? A realidade é? A realidade, o mundo poderão ser uma construção da nossa consciência, como que um assombro subjectivo: tal como as cores que estão em nós e não nos objectos? Que diálogo se estabelece (e cada um estabelece) entre a visão ávida de surpresa e a consciência eternamente insatisfeita e em alerta pela percepção? Que barreira, que cortina inultrapassável separa cada ser humano das percepções que os outros indivíduos obtêm dos mesmos objectos, das mesmas coisas, do mesmo mundo (da mesma realidade?)?
E poderíamos continuar com outras perguntas tais que originariam respostas mais (se as houver!). Talvez como certo, só uma ténue certeza de que a realidade se estrutura de múltiplas realidades, portanto de novos e surpreendentes e inusitados pormenores que vamos encontrando à medida que estamos expostos à Coisa-mundo…
((Abrindo aqui um grande parênteses – e quase como um despropósito que adveio agora alardeadamente ao pensamento e não se desassoma - particularizando e reflectindo na realidade política, poderíamos quase classifica-la como: a realidade do (real) fingimento. Da política nacional à política local assentam muito no fazer de conta. Muitos dos políticos fingem que se interessam pelos cidadãos e fingem tão completamente que se convencem (e convencem tantos) que o seu interesse é substantivo e substancial; colocando-se num estado em que a ficção e o real se entremeiam de tal forma que se tornam quase indissociáveis- actores em potência, ou de facto, ou!..
Os cidadãos, nas suas profusas (infelizmente não muito profundas) análises à polis já não fingem tanto e censuram sem piedade as muitas ficções e enredos que se lhes apresentam; de forma geral, pois quando em contacto directo com os eleitos ou candidatos, os sorrisos e os cumprimentos desdobram-se em reverências… Muitos dos políticos acham, de algum modo, o comum dos eleitores inferiores, uma maçada necessária! Estes acham aqueles hipócritas, no mínimo. Portanto, estão todos em estreita comunhão… na dissimulação.
E a realidade (alocada à verdade!) vai-se desconstruindo numa miríade de percepções de percepções. de impressões. de sensações. Normalmente negativas e catastrofistas.
Ainda assim, neste contínuo exercício de fingimento nem todos se envolvem ou deixam envolver e é por isso, se calhar, que ainda não vivemos num quase simulacro da realidade e da realidade de si, enquanto sociedade e enquanto indivíduos; ou vivemos?!.))
Fechando agora o grande parênteses, talvez a realidade ou as realidades nos advenham da experiência do que se passou, do que aconteceu “lá fora”, no mundo, e evocada “cá dentro”, na consciência, se estabeleça uma troca, uma interacção permanente entre a consciência do Eu e o pensar o Mundo… Será que é o Ver que dá origem ao Perceber (entendido como o trazer, o passar do “lá fora” para a consciência) que possibilita o Pensar?
Talvez o reflectir- que analisa demoradamente e em silêncio as coisas a partir de um eixo, de um centro interior primordial- seja profundamente subjectivo, e nessa subjectividade, qualquer reflexão, seja improvável transmiti-la ao outro; como se os olhos e os “olhos” do pensamento formem em si mesmos uma certeza última, sólida, diferente e, tantas vezes, oponente da do outro; e impossível de deslocar para fora de si essa “verdade” vivida e (re)confirmada no mais íntimo do ser: uma visão pessoal, individual da presença no mundo e da evidência do mundo que traz, e faz, prova (ontológica) do Ser. da Existência. da Realidade como tal… não se podendo transferi-la para um outro. Talvez.
O eu (entretecido) no mundo que se exprime e consubstancia a partir do Eu-mundo?
(e a Guarda- e Vila Mendo- e a realidade de si?)
Indagações. somente. isso.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Reditos

No tear do tempo tecemos a manta (de retalhos) da vida- Goethe (Fausto)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Expressões



José Domingos

Duas pinturas do nosso conterrâneo e amigo Vilamendense.

 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

momentos

(Victor Soares- Chichorro)
estralejo 
entoado 
ressoa 
(d)a 
panela e 
entranha-
se 
o Tom 
dos sabores,
os saberes 
dantes.
dantes 


 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Sugestão de leitura

Há livros que guardamos para mais tarde ler. Porque sabemos (às vezes vamos ao engano!) que vão ser fonte de prazer. E ficam; e ficam até ao dia em que o acontecer... acontece. 
O livro de contos (muito ligados às pessoas daqui) do nosso Joaquim Igreja (Castanheira/Guarda) vale a pena ser lido (a talho de foice, será que é comum na nossa cidade os professores- de português, pelo menos- abordarem e darem a conhecer livros ou autores da Guarda?).
Uma escrita límpida, rica mas sem artifícios desnecessários. As palavras no sítio certo: se houver sítios certos em literatura... Quase que poderíamos dizer que é num exercício de decifração do mundo, do mundo das nossas gentes; do mundo de nós próprios.
Chegamos ao fim de muitos destes contos e... queríamos que não acabassem já: o que diz muito.
São contos que... são, também, nossos; já não pertencem ao autor, e sem referir e destacar este ou aquele em específico- isso caberá a cada um dos leitores- alguns mereceriam uma narrativa mais longa que constituíssem e dessem corpo e alma e voz a um novo (e esperado!) livro; outros há que poderiam passar para o domínio teatral...
Uma vez aqui chegados (e passe a pretensão) uma observância: compreendendo o simbolismo e a significância do título, este poderia ser mais marcante; mais duro; talvez mesmo mais cru!.. (Simples aparte, este) 
Recomenda-se vivamente.   



 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Reditos

 "A nossa própria existência é um acto de leitura contínua no mundo, um exercício em decifração, em interpretação..." George Steiner

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Respiros

Às vezes, duvidamos o caminho. duvidamos o outro. duvidamo-nos. E a dúvida pesa no peito. e assoma a angústia. por não saber. o saber do Fim...

 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Chichorro: Um Hino à Vida em Vila Mendo

por Daniel Lucas
(Publicado originariamente na edição do Jornal O Interior da pretérita semana)

(De forma inesperada e até surpreendente, Daniel Lucas discorre belissimamente sobre Vila Mendo e as suas gentes. Obrigado. Amigo.)

Teve início mais uma temporada dos “Festivais de Cultura Popular”, com Vila Mendo no palco principal, acolhendo a tradicional e encantadora Festa do Chichorro.
Em Vila Mendo, quando a palavra “chichorro” ressoa na boca dos nativos, não se fala apenas de um petisco. Fala-se da vida, de histórias e estórias, de forças silenciosas. O chichorro é mais do que uma iguaria: é um pedaço da alma daquele lugar, um manjar que transcende gerações e carrega consigo o pulsar da terra e o espírito dos que, com mãos calejadas, souberam preservar as raízes. Cozinhado na banha da gordura, nas panelas de ferro, no fogo, o chichorro guarda em cada pedaço o calor da terra e o carinho de quem o prepara. Apresenta-se como uma verdadeira experiência sensorial, crocante por fora, com aquela textura dourada que chama a atenção, e suave por dentro, revelando uma suavidade que se desfaz na boca. O sabor é fantástico, rico e intenso, um convite a saborear cada pedaço com o cuidado de quem aprecia o melhor que a tradição pode oferecer.
A sua origem é simples, como tudo o que é profundo. É um prato que surge da tradição da matança do porco, uma prática ancestral que não se limita a uma mera refeição, mas que se transforma num ritual, na comemoração da vida. O “chichorro do redanho”, nascido da gordura das massas gordas do animal, é o pilar dessa iguaria que se torna, na sua simplicidade, um símbolo de resistência e de ligação às origens. É um testemunho de camaradagem. Feito na partilha, com sabedoria e é o elo invisível que une as gerações. Em cada prato servido há uma passagem de conhecimento, um gesto de união que vai além do prato em si. É um legado, uma herança, como se cada pedaço trincado não seja apenas alimento para o corpo, mas uma promessa de preservação, de continuidade e uma oferta de aconchego para a alma.
Na Festa do Chichorro, a “capital” transforma-se. A Associação Cultural e Recreativa de Vila Mendo, com o apoio da autarquia, organiza um encontro que não é apenas gastronómico, mas culturalmente emocional. Não se trata apenas de degustar, mas de festejar a época e partilhar o que de melhor se tem. É um momento em que, com o chichorro na mesa, o tempo parece pausar. Não há pressa, não há urgência. Apenas as mãos que servem, os sorrisos trocados, os olhares que se cruzam. Entre debates sobre estratégias políticas do futuro próximo, o humor leve sobre o Benfica que voltou a perder e as histórias que se entrelaçam, como se a própria terra quisesse contar, em silêncio, tudo o que se passa e passou.
Saborear o chichorro é como abrir uma antiga caixa de música, onde a bailarina gira num movimento repetido, por vezes desafinado, mas irresistivelmente desafiador, evocando memórias e sentimentos que trazem à tona a presença viva de quem já partiu. É impossível não pensar nele(s) – nas mãos que tanto fizeram, nos risos que preenchiam, na dedicação que transbordava em cada pequeno gesto. Cada pedaço deste prato é como uma chama de uma vela que se acende, suave e persistente, a lembrar-nos que a vida que deixaram continua em nós. Não estão fisicamente à mesa, mas é como se estivessem, no sabor que nos envolve, no aroma que nos transporta, nos olhares cúmplices, nos sorrisos que ainda se trocam e nas gerações… O que fica não é só um prato, mas uma herança emocional que une um legado de vida que nunca se apaga, mesmo quando alguns dos seus protagonistas já não estão aqui para partilhar e servir mais uma vez à mesa.
A verdadeira grandeza da Festa do Chichorro está naquilo que representa. Encontra-se na amizade, na tradição, no cuidar. Ensina-nos que é na simplicidade reside a verdadeira riqueza da vida. O chichorro, como na vida, não se dissipa, atravessa gerações, num abraço hospitaleiro, numa memória que nunca morre, mas que se perpetua, dando-nos esperança… Esperança de construir pontes que liguem o ontem ao amanhã.
Ao meu amigo L.S; a ti; aos que estão! Com amizade.

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Prémio literário

Pela Junta de Freguesia da Faia (Liliana Brás)

 

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Reportagem

 Reportagem da Beira Alta TV AQUI - Festa do Chichorro.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Sugestão de leitura

Poesia de uma expressividade, de um minimalismo radical; profundamente hermética, quase (ou mesmo, por vezes) que imperscrutável e talvez, e por isso mesmo, de uma beleza... crua. Pura e dura.
Um poeta marcado intimamente pelo holocausto: até ao fim.  
São poemas... do silêncio... do tempo. Do silêncio das palavras. Do silêncio entre as palavras...

Nos Rios

Nos rios ao norte do futuro 
lanço a rede que tu, 
hesitante, lastreias 
com sombras 
escritas por pedras.
 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Respiros

Paira-me aquela pregnância infusa de que o fim é o Caminho. 
e Vila Mendo é já ali e é sempre além.


 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

balanço(s)?

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 02 de Janeiro)

Nestas alturas do ano é (ou parece ser) habitual, quase que obrigatório, um certo tipo de balanço, um apuramento do que de bom ou nem tanto se passou individual e colectivamente e em diversos domínios (que não se vão abordar aqui). Uma súmula daquilo que foi (ou pensamos que foi) e do que queremos (queremos?) para o amanhã.
Mas estas análises, primeiramente individuais (quando as há) sujeitas às pressões dos momentos e das modas, raramente se arquitectam em profundidade e tornam-se somente (ainda que seja alguma coisa) um conjunto de propósitos a cumprir; sem se cumprirem porque quase nunca reflexionados no e a partir do Silêncio-estrutura…
Como se aquele que foi e que fez aquilo tenha deixado de o ser, e passe a ser um-outro nos desígnios a que agora se propõe (e quase nunca impõe). Como se o eu-do-passado desse lugar a um eu-do-futuro (melhor, com certeza!). E o eu-do-presente fica… impresente, indistinto, invisível, desamparado pelo ontem esquecido, enca(n)deado pelo porvir milagroso.
Um balanço balanceado de trás para a frente; da frente para trás; e de novo de trás para a frente; e de novo… e nunca Aqui. parado. e nunca aqui reflectido verdadeiramente. Um balanço que pressuporia mudança efectiva e afectiva na realidade e na realidade de si, mas que não tem carácter e marca de duração; portanto um balanço de hesitação, de oscilação que não quis (ou pelo menos não pôde, não soube), que quer e não sabe se pode, se sabe; ou se quer mesmo.
Se os balanços pessoais são atreitos aos balanceamentos enleados e conjunturais, os colectivos são-no por (quase) natureza ainda mais. Perspectivamos as comunidades, a sociedade, o país pelos olhos de quem balança e balança, e nunca pára para olhar tudo (o possível) e assim apreendermos o todo (ou um pouquinho do todo, pelo menos, o que já seria muito). Vemos a realidade a partir da política e das desgraças (que se entrecruzam demasiadas vezes), que nos chega através da (des)informação e do seu excesso e do seu excesso em imagens…
E ficamos presos nessa realidade fortemente ideologizada, tremendamente enviesada, largamente direccionada, estupidificadamente recepcionada, amplamente idealizada; quase sempre descontextualizada. E o balanço enferma a priori: Vila Mendo a acabar; a Guarda a morrer; o país na decadência; o mundo no abismo; a Transcendência, por vezes… E quase tudo (e isso também) pode ter um pouco de verdade, mas também possui um pouco (muito) de inverdade… E a posteriori, voltamos ao mesmo porque o balanço… é um contínuo balanço. De momentos. De instantes. De fuga.
Se calhar, devíamos deixar de fazer os balanços (deixá-los para as economias e para as contas- certas) e fazer verdadeiras reflexões: profundas, demoradas; no silêncio e a partir do silêncio de nós mesmos; para depois termos a pretensão e o arrojo de ler os demais, as demais coisas e a Coisa-mundo como tal.
É só uma ideia- meia abalançada!.. Já agora, balancemo-nos para um ano bom.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

“É preciso tanta porcaria por causa dum…”

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 19 de Dezembro)

Num destes dias gélidos- como se a adjectivação quisesse demonstrar uma absoluta extraordinariedade, que não é- portanto, num destes dias frios passando-se na rua/travessa entre o largo dos correios e o jardim, um varredor de ruas no empunho de um pequeno sacho tentava arrancar as ervas entre a parede da escola Augusto Gil e os paralelos; afazer custoso e minucioso este. Por entre o estalido do metal no empedrado, curvado e compenetrado ouve-se dizer: “É preciso tanta porcaria por causa dum…” e rematou a frase tal como a tinha iniciado: de rompante. Não olhou. Nada disse mais. Cabisbaixo, continuou. Tal como o andante.
Em que pensaria? A quem se referiria? Que torrente de pensamentos o atulhariam para deixar que eles escorressem para o linguajar? Que situação o atormentaria? Seriam os chefes ou os colegas ou os amigos ou a família ou alguém que passou, ou tantos outros ous?!. Se calhar, pela tonalidade ouvida nesse instante, o tormento não fosse muito: uma espécie de “enfim”, de quem já deixou passar e de pensar a questão, e agora já está noutros propósitos. Talvez as pessoas simples (ousadia esta de achar da simplicidade dessa pessoa) nas suas despretensões não se atormentem tanto como uma boa parte de tantos outros. Como se aquela inquietação momentânea se quedasse nisso mesmo, como se a varresse, a arrancasse dos seus pensamentos e dos seus lamentos. Se calhar porque a vida também é simples se a fizermos simples, se a despirmos das complicações das gentes ditas complexas (ou antes complicadas?). Aquela pessoa que pareceu admirada com a “porcaria” que alguém supostamente fez, quando ela passa a vida a varrer a porcaria nas ruas; talvez porque as pessoas simples dão mais valor às atitudes censuráveis das outras gentes do que à sujidade física; talvez ao contrário das pessoas complexas que se enojam com a porcaria, mas não tanto com as acções prejudiciais aos e dos demais; talvez…
Talvez aquela pessoa tenha pressa de deixar de pensar naquilo, tenha pressa de perceber, de resolver essa “porcaria” e não tenha pressa da vida. Da vida simples, despreocupada mas importada, real mas ainda assim sonhadora… Ao contrário das pessoas complexas que se enovelam de pressa na vida. Como se ela- a pressa- tivesse um efeito profundamente transformativo na realidade. Como se ela- a pressa- as fizesse pular por cima da própria sombra e as tornasse um outro eu, num outro eu… Talvez porque se achem perdidas delas próprias no emaranhado de pensamentos caóticos que as atormentam e cuja substância (se a houver) e significação desconhecem ou não encontram; fazendo com que estejam continuadamente a pensar sem pensar e a pensar numa coisa outra, num mundo outro, numa vida outra. Talvez a humanidade se (re)encontre nas pessoas simples e a inumanidade nas pessoas complexas. Talvez a tentativa de destrinça entre pessoas simples e complexas seja um absurdo retórico e maniqueísta, sem sentido e desprovido de qualquer razão ou lógica. Talvez precisemos simplesmente de nos questionar se “é preciso tanta porcaria por causa dum… “ Talvez.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Gentes de Cá

António Júlio; Manuel Joaquim; Maria do Carmo; Manuel Corte; Luís Filipe Soares; Sara Soares; Andrea Soares