sexta-feira, 29 de setembro de 2023

o Homem e os Pontos-de-Vista

(Publicado originariamente no jornal A Guarda na edição do dia 21 de Setembro)

Uma das características (fascinantes a priori) do ser humano é a capacidade (ilimitada, ainda que tremendamente limitada, tantas vezes) de elaborar pontos de vista do mais leviano facto até questões altamente significativas. Pontos de vista de uma objectividade e racionalidade quase que desarmantes, e pontos de vista de uma subjectividade e incoerências perturbantes- no mínimo; no meio, todo um conjunto de cogitações, observações e um sem número de contradições.
Perante uma mesma realidade, é interessante observar as formas (completa e complexamente díspares) como cada qual a justifica. E o assunto pode ser o mais corriqueiro. O enquadramento e a concordância ou não sobre determinados factos, acontecimentos leva ao surgimento de todo um conjunto de argumentário e contra-argumentário que se repete uma e outra vez, até um dos oponentes ceder por… cansaço ou condescendência… ou por terceiros, que introduzem novas temáticas- sendo quase certo que novas contendas floresçam; e outras e outras… Normalmente, depois de tanta digladiação, cada um fica com o seu ponto de vista, com a sua razão!
Ora se, no dia-a-dia, estas disputas argumentativas são quase que irrelevantes (se não levarem, como levam tantas vezes, a amuos, zangas e até a forças medidas), nas grandes questões da nossa vida individual e colectiva, são de grande pertinência.
De facto, o pensar e o querer ter sempre razão é um problema em si mesmo. Se na vida pessoal isto gera desgostos duradouros, por vezes insanáveis; na vida profissional atritos permanentes; na vida política gera conflitos imanentes, nunca resolúveis, substituídos sistematicamente num ciclo interminável de confrontação.
Os partidos políticos aproveitam bem esta lógica latente (inata?) de conflitualidade que emana da individualidade de cada qual: arregimentam uns poucos, uns tantos, uns muitos e “cegam-nos” com a sua própria razão (e intolerância) não deixando espaço mental para ouvir verdadeiramente os outros: a eterna lógica do Eu contra o Outro, o Nós contra o Eles.
O espaço mediático e imediato (e aqui já nem se inclui o desvario das redes sociais) fica intoxicado nesta logicidade e a democracia mais débil. As boas ideias que existem estão enfermadas à partida: porque elas servem logo para manifestar a excelsa, única superioridade do “nosso lado”; porque querem desacreditar e ridicularizar o “lado deles”; porque querem com isso, a todo o custo, ganhar as próximas eleições e as que se seguem e as outras e as outras… Nos entretantos de tudo isto, talvez se encontre algo parecido com o Bem-comum. Isto, mina a confiança nas pessoas, nas instituições, nas organizações, no país, na humanidade.
E voltamos ao princípio: o meu ponto de vista, a minha razão é que é a verdade, a realidade como tal.
Conseguirmos perceber (e aceitar) que os nossos pontos de vista, em matérias diversas, podem não ser os mais acertados e que podemos (e às vezes temos) mudar de opinião sem que isso nos menorize, exige um profundo e profuso trabalho intelectual e moral… de análise, de honestidade para connosco próprios, que não se afigura fácil, que é dura, mas necessária para o equilíbrio individual e consequentemente colectivo.
Ouçamo-nos! Verdadeiramente.
Pontos de Vista!..

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

domingo, 24 de setembro de 2023

Sugestão de leitura

Para quem gosta de banda desenhada, uma novela gráfica muito boa de um ilustrador e autor de excelência: Paco Roca.
A ler.

 

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Retalhos da Vida

Élio; Afonso; Júlio; Santiago
Quatro pessoas. Três gerações. O presente. O futuro... que é presente.
Retalhos da Vida... em Vila Mendo.

 

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Gentes de Cá

João; Guilherme; Cristina; Acácio Pereira; Amândio Marques

 

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

o Homem e o Bom-tempo

(Publicado originariamente no jornal A Guarda na edição do dia 7 de Setembro)

Estamos num tempo de apressamento. Sempre num afã por novidades (supostamente novas), por concretizações impossivelmente possíveis.
Rodopio de pensamentos, corrupio de acções e lamentos, quando não tormentos e padecimentos.Preocupados por tudo e com tudo, temos medo… medo do Nada!
Desse nada que é silêncio, que é solidão (não abandono, mas encontro); que é escuta e introspecção, logo descomunicação. Desse nada que se pacienta, mas não se tormenta. De um nada que é… Tudo!
Um tudo que não repele, acolhe; que não separa, congrega; que não negativiza, ampara; que não diz mal, orienta; que não impõe, propõe e dispõe.
De facto, temos medo de nós próprios; temos medo de estar connosco mesmos: medo de nos ouvir, de nos questionar e de não querermos saber (d)as respostas; (d)essas respostas… puras, profundamente duras. Esse não-querer-saber que nos aprisiona numa (ilusória) liberdade de acção, de comunicação, de presença; que mais não é do que uma ausência de nós mesmos… de um paradoxal apagamento de nós próprios, submergidos que estamos na “sociedade do cansaço” e que apesar disso não quer, não pode aquietar-se. Uma sociedade que quer estar sempre em relação, numa relação de expectativas (impositivas), de consumo, de dominação, de controle, de vigia… e sem que nos apercebamos que a proximidade que estabelecemos a todo o momento com o outro, nos afasta mais e mais… porque o não toleramos nem à sua diferença; porque o invejamos e, às vezes, imitamos; porque não conseguimos pôr-nos no seu lugar (talvez porque nem sequer saibamos o nosso lugar).
Sabemos tudo, opinamos sobre tudo, criticamos tudo (e todos) como se tivéssemos soluções instantâneas, eficazes, quase que mágicas, e o Outro soluções de inutilidade. Enclausurados em pontos de vista ilimitados (mas profusamente limitados), construímos a (nossa) realidade como verdade total. E a sociedade fica espartilhada em realidades díspares, em verdades ímpares.
Este espartilhamento conduz, por sistema, a uma conflitualidade latente, presente em todas as dinâmicas da sociedade- a razão assiste-me a mim e aos meus (quando os há); tu e os teus sois desprovidos dela (sempre, ou quase)!
Num tempo de excesso de informação, de comunicação, deixa de haver mediação (crucial) dos media tradicionais- não há filtros, não há ponderação; tudo se pode dizer, nada se pode dizer; tudo se pode ouvir, nada se pode ouvir. Esta cultura de confrontação criada, não deixa espaço para o bom-senso, para o bom-tempo. Um tempo de que todos necessitamos para suportarmos e configurarmos as agruras (e as virtudes) da existência individual e colectiva. Um tempo de paragem, de análise profunda de quem fomos, de quem somos, de quem queremos ser. De modo a que consigamos interagir com o Outro de forma produtiva e valorativa, sem o desprezar e menosprezar, para que a humanidade seja um… Nós- verdadeiramente transformativo.
Precisamos de silêncio. Precisamos do silêncio… verdadeiramente significante.
Precisamos do Bom-tempo!


quinta-feira, 7 de setembro de 2023

sábado, 2 de setembro de 2023