Faleceu a última pessoa que vivia em Vila Mendo. Vila Mendo é agora uma terra sem vida, uma terra de ninguém… como a esmagadora maioria das aldeias vizinhas, das aldeias do interior, das vilas do interior, das cidades do interior.
Restam as pedras, caídas, desordenadas nas ruas poeirentas. Algumas casas ainda resistem à acção inexorável do tempo que já não passa; teimosamente, mantêm-se em pé desafiando toda a lógica da engenharia; são elas as últimas guardiãs das memórias de tantas e tantas gerações, de tantas e tantas gentes que viveram, amaram, sentiram Vila Mendo.
Não existe mais o pulsar de um único coração, o bafo do cansaço de uma única alma, o frenesim da vida do campo pautado pelo respirar demorado das estações.
Não existe o cheiro… o cheiro das memórias, dos momentos… o cheiro das histórias e das estórias… o cheiro dos lugares… o cheiro das pessoas… o cheiro da vida… Vila Mendo morreu… o Interior morreu e com isso Portugal morreu…
Ninguém vive quando o seu interior morre… Um país não sobrevive quando uma parte dele definha em agonia… lenta.
Vila Mendo morreu… Restam as lágrimas das gentes… mortas… Vila Mendo morreu… Ahhhhhhhhhhhhh! – O que foi?!. – O que foi?!.
Era só um sonho… sinistro….
Não me deixem sonhar assim… Vila Mendo… Vila Mendo não morreu… Vila Mendo nunca morrerá…