A Grécia está num dilema quase que existencial: ou
aceita (como parece) as condições dos países (amigos!) e vai sofrer muito, ou não
aceita e vai sofrer… muito. Portanto a alternativa ao sofrimento é… o
sofrimento.
Questões técnicas à parte, o que está em causa é o
modelo civilizacional de uma Europa com princípios e valores comuns. Lenta e
paulatinamente, apercebemo-nos que a União Europeia é uma construção artificial
ancorada em alguns princípios económicos e pouco mais. A Política e a visão
estratégica de uma Europa forte, unida, solidária, portadora de transmissora de
valores para o mundo estão completamente subalternizadas à simples (mas
complexa) Economia, de uma forma pura e dura. É o primado da economia que,
paradoxalmente, se vai anular e definhar com o tipo de ajuda que se vai “dar” à
Grécia. Pela terceira vez, se vai impor a mesma receita para o mesmo mal e,
pela terceira vez, já sabemos como vai acabar esta situação.
Esta ajuda, pelo que se vai sabendo, vai servir para
pagar os juros da dívida anterior aumentando a própria dívida. Ora se não há
investimento e consequente criação de riqueza como é que os gregos vão pagar
essa mesma dívida? Não vão! Não podem! Não conseguem! Ora se os líderes
europeus sabem, melhor do que ninguém isto, porquê continuar a batalhar e a
insistir nas mesmas medidas? Provavelmente, porque não querem a Grécia no euro,
para não dizer na União. E isto é grave; isto será o esfrangalhar do Projecto Europeu
e a volta aos nacionalismos exacerbados que, ao longo da história, têm
dilacerado e levado a Europa a um sem número de conflitos. Se a Grécia sai
empurrada, preparemo-nos, Portugal será o próximo da lista…
Apesar de tudo isto, a Grécia tem grandíssimas
responsabilidades na realidade a que se chegou e tem a sua parte por fazer: tem
um sistema fiscal obsoleto, precisa de fazer uma reforma da segurança social e
do sistema de pensões, a corrupção e o clientelismo é prática corrente. Há
estado a mais na sociedade e um estado que gere mal, pelo que seriam úteis algumas
privatizações (ainda que não em sectores estratégicos e nunca a preço de saldo).
Enfim… será necessário uma reforma a fundo do estado para ser mais eficiente e
menos burocrático. Era aqui que a União Europeia, se fosse uma verdadeira
União, fraterna, solidária, deveria empregar os seus esforços, acompanhando e
aconselhando os gregos sobre como fazer as reformas estruturais que
necessariamente seriam duras e difíceis, mas nunca humilhantes e inatingíveis. A
par disso, os juros dos empréstimos deviam ser substancialmente reduzidos e o
tempo para pagar aumentado (parece que nesta matéria houve algumas melhorias). Resumindo:
com esta ajuda, a Grécia vai empobrecer cada vez mais e nunca conseguirá pagar
a dívida e o desenlace, a médio prazo, será a saída do euro e quiçá da União…
empurrada.
Mas o Syriza (aquela mescla de partidos de esquerda
que só terão em comum o nacionalismo como tal) e Tsipras ainda vão surpreender
ao estilo do que fizeram com o referendo: vão receber ajuda imediata para
restabelecer a liquidez dos bancos, receber algum dinheiro da ajuda
propriamente dita e irão anunciar que já não querem pertencer mais ao euro (e à
União?!.) É só uma suposição e um exercício de pensamento, mas não estranhemos
se tal acontecer: e o Projecto de Integração, de Construção Europeia estará
acabado ou, pelo menos, completamente alterado e radicalizado… O “Grexit” dará
lugar ao “Portugalexit”, ao “Reino Unidoexit” e a outros “exit´s”… e a Europa e
o mundo será um lugar mais perigoso para viver…
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