sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Ciclo de entrevistas- João Gonçalves

Nascido no longínquo ano em que o Estrela Vermelha de Belgrado ganhou a Liga dos Campeões, o João cresceu a sonhar ser arquitecto, astronauta, bombeiro e cientista, não necessariamente por esta ordem. Acabou por estudar gestão e marketing. Hoje trabalha "nos computadores", visto que já há quase 20 anos se cantava que era um emprego com saída. Adora música e cerveja e tudo o que inclua amigos sentados à mesa.

Quando e onde tiraste o teu curso?
O meu percurso académico passa por uma Licenciatura em Gestão e a um Mestrado em Marketing, ambos na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, de Outubro de 2009 a 2 de Setembro de 2015, dia em que apresentei a minha tese de mestrado.

No momento, qual a tua actividade profissional?
Estou empregado desde Janeiro de 2014 numa empresa tecnológica chamada RedLight Software, também em Coimbra. 
Actualmente a minha profissão é aquilo a que hoje se chama, no meu ramo, Project Marketing Manager. Na realidade é só um nome engraçado para um gestor de projecto que assume, paralelamente, funções de marketing. Para além de exercer funções de marketing nalguns projectos que nos são adjudicados, também sou responsável pela comunicação empresarial da RedLight Software.

Que expectativas tens a nível profissional?
Trabalhando na área de software e lidando com tecnologias novas todas os dias, as expectativas que temos e os sonhos que podemos alimentar podem ter escalas impressionantes. Neste momento estou concentrado em fazer com que a RedLight Software seja uma empresa reconhecida a nível nacional para que com isso se sigam mais e melhores clientes. A longo-prazo, sempre tive imensa vontade de criar um produto que possa ser usado por milhões de pessoas diariamente, especialmente ligado a uma área que possa trazer acessibilidade e facilidade na gestão de pequenos negócios. Mas por agora, o foco mantém-se nos clientes da RedLight. Temos desenvolvido um trabalho fantástico no que toca à satisfação dos nossos clientes, e é isso que vamos continuar a trabalhar assim como a nossa imagem. Um passo de cada vez. 

Voltar à Guarda está nos teus horizontes?
Infelizmente não está. Apesar de na minha empresa ser possível trabalhar à distância, o meu cargo implica alguma proximidade com os engenheiros de software que é algo que, estando a 150Km de distância, não se tem. A RedLight já tem escritório em Lisboa e vamos abrir um segundo escritório em Coimbra nos próximos meses. O caminho a seguir aponta para cidades que nos permitam 1) agrupar um conjunto de pessoas empregadas por área geográfica (80% dos empregados da RedLight são de Coimbra) e 2) ser um ponto estratégico para o contacto com mais e melhores clientes. Da perspectiva de uma empresa de software, a Guarda não é uma cidade aliciante. A nível de carreira, tenciono continuar a trabalhar em software pelo que é bem provável que nunca venha a exercer funções na cidade em que cresci, o que me deixa bastante triste. 

Como vês a actual situação política no que concerne ao emprego e futuro dos jovens?
Acho que é importante abordar este tema através de duas ópticas.
A óptica do excesso de formação dos jovens e a óptica da falta de oportunidades de qualidade.
Quanto à primeira óptica, a minha opinião é de que as universidades têm alguma culpa no que toca ao desemprego jovem, especialmente por manterem abertos cursos que já antes da dita "crise financeira" tinham perspectivas muito baixas de empregabilidade. As vagas não são ajustadas nem os cursos são fechados porque as universidades têm um claro interesse económico em fazer com que haja um máximo de alunos inscritos por ano. É portanto, lógico, que passados 3, 4, 5 ou 6 anos depois, estes alunos de cursos menos procurados fiquem sem emprego ou não arranjem nada na sua área porque, lá está, a área nem quando estava de boa saúde procurava pessoas novas.
No que toca à segunda óptica, esta afecta essencialmente as pessoas que, depois de terminarem o curso, encontram oportunidades para si mas não exactamente aquelas que procuravam. Falo de, por exemplo, empresas que pretendem ter um jovem com mestrado nos seus quadros mas com um vencimento de apenas €500; empresas antiquadas; empresas com aversão à inovação ou empresas que não tenham perspectivas de crescimento.
É devido a esta segunda óptica que tenho imensos amigos que emigraram. Londres e Amsterdão são as cidades pelas quais eles optam. Lá existe uma escala diferente no que toca a oportunidades e mais importante que isso, lá valorizam as pessoas. Enquanto as empresas portuguesas não começarem a dar valor aos jovens é difícil manter pessoas cá. O site ganhemvergonha.pt, conhecido por denunciar casos de estágios mal pagos ou sem remuneração de todo, continua a crescer todos os dias. 
No geral, o emprego jovem não está com boa cara em Portugal. E o problema está no distanciamento das instituições de ensino relativamente às necessidades de mercado e o próprio mercado que, generalizadamente, procura soluções ad-hoc só para poupar uns trocos.

Como vês o futuro da Guarda e do interior como tal?
A Guarda é uma cidade belíssima que têm uma posição geográfica muito interessante. A nível económico, gostava que a Guarda tivesse um papel mais importante no que toca à distribuição internacional sendo uma porta do nosso país e um ponto centralizado de acesso. No que toca ao resto do contexto do interior, vale sempre a pena reforçar a ideia de que temos todo um conjunto de características especificas para a agricultura que nem todas as zonas têm. E por isso, vejo o interior a ser uma zona dedicada a fazer crescer produtos com qualidade em vez de fazer crescer produtos em quantidade. Além do mais, a dedicação à agricultura em áreas que correm perigo de desertificação é chave para que a economia tenha espaço para crescer e para que todos os terrenos tenham um propósito e não fiquem ao abandono. 

Um projecto, uma ideia, um sonho, enfim… uma utopia para Vila Mendo? 
Uma das razões pelas quais mais gosto de vir a Vila Mendo agora que estou a trabalhar em Coimbra é para descansar e sentir o ambiente mais calmo do campo. E por isto mesmo, para Vila Mendo prevejo um futuro dedicado ao turismo rural. Infelizmente, é natural que haja cada vez mais casas a ficar vazias e é normal que a pouco e pouco, as pessoas se vão deslocando para a Guarda e até para cidades mais distantes. Mas não podemos deixar que tudo se perca, e uma maneira de reabilitar as edificações de Vila Mendo é dando-lhes um novo propósito e um novo futuro. 
Vila Mendo tem um alma que revitaliza qualquer pessoa. Podemos partilhá-la com quem a quiser conhecer.

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