Graça Maria Garcia Soares Calçada Sousa, nasceu na Guarda em 1963. As suas origens provêm de Vila Fernando, Quinta do Meio e Monte Carreto. Na infância, e sobretudo nas férias e fins de semana, Vila Fernando acolheu as suas brincadeiras (inesquecíveis) com primos e vizinhos. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas na Universidade de Coimbra e é Mestre em Ciências da Educação pela Universidade Católica. É professora do 3º Ciclo e Secundário.
Recolheu as informações abaixo publicadas quando, há uns anos, decidiu investigar e construir a árvore genealógica da sua família, quer do lado paterno, quer do lado materno, recorrendo à consulta de livros, documentos e microfilmes no Registo Civil da Guarda e no Arquivo Distrital da Guarda. É o terceiro contributo dela aqui. Ficamos, expectantes, a aguardar pela 2ª parte desta investigação.
Contudo e por uma questão editorial, se assim se pode afirmar, decidimos publicar hoje só uma parte desta 1ª parte. Domingo, a outra parte.
Contudo e por uma questão editorial, se assim se pode afirmar, decidimos publicar hoje só uma parte desta 1ª parte. Domingo, a outra parte.
A Freguesia de Vila
Fernando no séc. XVII (1601 – 1700)
Parte 1 – Batismos
Quantas crianças nasceram na
freguesia de Vila Fernando no séc. XVII? Não sabemos. Sabemos apenas que foram
registados 3712 batismos nos livros
paroquiais. Portanto, segundo estes livros, nasceram, em média, 37 crianças por
ano.
Verifica-se, no entanto, que, no início
do século, houve anos em que o número de nascimentos foi extremamente baixo (1607-4; 1610-4; 1611-6; 1612-9; 1613-0; 1614-1),
correspondendo a momentos em que os padres (curas?) ficavam na freguesia por
curtos espaços de tempo e eram pouco cuidadosos com os registos. Há livros que
perderam folhas, os assentos aparecem em número reduzido e em desordem
cronológica, os textos são difíceis de decifrar e a desorganização é evidente.
A partir do final de 1614, com a chegada do Pe Manuel Gouveia, mais
tarde identificado como Vigário, os registos ganharam alguma ordem (basta dizer
que, em 1614, houve um único batismo e, em 1615, houve 23). De qualquer forma, esses
livros denotam também os estragos causados pelo manuseamento excessivo, pelo
efeito da humidade e pela passagem do tempo, fatores que dificultam, atualmente,
a sua consulta.
l Dos 3712 registos efetuados durante o
séc. XVII, 1888 referem-se a rapazes e 1809 a raparigas. Há alguns assentos
que, por não terem o nome dos bebés, nem qualquer menção específica, constituem
uma incógnita: não sabemos se se trata de meninos ou de meninas.
A diferença anual entre os nascimentos
de rapazes e de raparigas não é notória. Mesmo um ano atípico como 1620, em que
nasceram 11 rapazes e 28 raparigas, teve logo, como contraponto, o ano
seguinte, com 23 rapazes e 9 raparigas.
l O nascimento de gémeos parece não ter
sido um acontecimento frequente na freguesia. Ao longo dos cem anos, há 15
registos de crianças “nascidas de hũ
ventre”: três pares de rapazes, sete pares de raparigas e cinco pares
mistos. Nasceram no Adão, em Albardo, em Pousafoles ó/do Roto, na Quinta de
Cima, na Quinta do Meio, em Vila Fernando e em Vila Mendo.
l Os nomes mais na moda, ao longo do séc.
XVII, são, quase todos, também nomes do séc. XXI.
Para rapaz, foram mais escolhidos Domingos (331),
António (308),
Manuel (267),
Francisco (239),
João (230),
Pedro (68)
e Miguel (64).
Manuel foi pouco usado antes de 1640.
Para rapariga, os preferidos foram Maria (703),
Isabel (298),
Catarina (287),
Ana (84),
Domingas (55),
Clara (50)
e Teresa (43).
Domingas foi pouco usado a partir de 1653 e Teresa só começou a usar-se em
1681. Maria era acompanhado de um segundo nome que os padres não costumavam
registar e que, por vezes, aparecia nos registos de casamento ou de óbito.
Que outros nomes foram utilizados? André
(17),
Bartolomeu (16), Diogo (32),
Estêvão
(15),
Gaspar (12),
Jorge (14),
José (41),
Marcos (25),
Matias (23),
Pascoal (20),
Sebastião (14), Simão (14)
e
Tomé (14),
no caso dos rapazes; Bárbara (33), Beatriz (23),
Brígida (11),
Luzia (10),
Mariana (11)
e
Páscoa (29),
no caso das raparigas. Encontramos, pontualmente, alguns nomes mais invulgares:
Custódio, Gregório, Ildefonso, Lázaro, Nicolau, Policarpo, Sansão, Silvestre e
Xisto; Agada, Apolónia, Brazia, Inocência e Simoa.
Nem todos os nomes aparecem escritos da
forma como os conhecemos hoje e, por vezes, as diferenças causam-nos
estranheza. Mostram-nos, por exemplo, as regras ortográficas da época ou, muito
simplesmente, a maneira como as pessoas pronunciavam as palavras. Podemos aqui
incluir George, Hieronymo, Joachim, Joseph, Phelippe, Sensam e Thomas; Barbora,
Briatis, Ignez, Lianor, Magdalena e Michaela.
l Para distinguir pessoas com nomes e
apelidos iguais, recorria-se, frequentemente, a alcunhas. Como nasciam? Podiam
surgir a partir da terra de origem do indivíduo (ex: castelhano), do local onde vivia (ex: da quelha, da fonte), da
idade e do grau de parentesco (ex: o moço,
o novo, o velho, o neto), de
alguma característica física ou psicológica (ex: tamanhão, valente), de
alguma história curiosa que nunca iremos conhecer (ex: o lacão, o genrinho).
Alcunhas
|
castelhano
– o serra – serrano – da moreira – o richoso – o richosinho – o galego – o
vasco – o barroso – o barrosinho – monte barro – o rabaço – o costa – o
siqueira – o pego – da escada – do canto – do cimo – do fundo – do fundo do
lugar – do cabo – do forno – do lagar – da quelha – da fonte – da “baranda” – a carvalha – a carreira – do
castanheiro – do salgueiro – das poldras – o cancela – da trincheira
a
branca – o moreno – o picado – o gago – o manco – o direito – o delgado –
tamanhão – o baixo – o “piqueno” – o grande –
o
valente – o valentinho – o folgado – a folgadinha – o morgado – o galhardo –
o rico – o chicana
o
lacão – o genrinho – o mantinha – o fatinho – a cartuxa – o cravo – o
chapadinho – o namorado – “perreixil” – do santo – o bicho – “ximxibre” – da
casa nova – o orca – inverno – a granja – o seco – o marmelo – do remédio – o
frade – o abade – o bispo – o conde – o rei – cavaleiro
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Como as profissões serviam também para identificar as pessoas, através delas, ganhamos informações adicionais sobre a freguesia.
Profissões
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Tecelão
– Sapateiro – Escudeiro – Pastor – Alfaiate – Tendeiro – Ferreiro – Barbeiro
– Cardador – Moleiro – Azeiteiro – Carniceiro – Almocreve – Boieiro –
Taverneiro – Serralheiro – Juiz da vara
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Com o tempo, várias alcunhas transformaram-se em apelidos reais que ainda hoje existem.
(Continua...)
1 comentário:
ótima investigação. Parabéns
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