segunda-feira, 23 de março de 2020

O Essencial

por Berta Carreira

"O essencial é invisível aos olhos" e nós queremo-lo visível e palpável e imediato.
A vida, até neste estado de calamidade, a nada nos obriga - sugestiona e pisca-nos o olho
"é hora de estares contigo".
...
E há Homens que menosprezam e, até, se riem…
Outros não entendem…
Uns fingem não entender…
E muitos fingem tudo compreender e saber...
Humanos perdidos a tentar ver, ler, analisar e aprender...
Quando esta guerra terminar
- esta batalha que nos faz discriminar a quem tanto queremos (oh, canhão horrendo e maldoso) -
quem restará?
que pedaço restará de cada Um?
que tipo de sangue correrá nas veias?
que células revitalizaremos?
que músculos acionaremos?
que língua falaremos?
que contas faremos?
que pensamentos nos inundarão?
O Covid não matará o sonho! No sofrimento, no isolamento ou, no limite, na solidão,
o sonho será sonhado, mesmo que não comamos tanto,
e alimentar-nos-á.
Enquanto o coração bater
deverá bater com esperança,
fé,
resiliência,
amistosa e pausadamente:
a um ritmo saudável - como nos dias ansiados.
Ouçamos o silêncio da Guerra mais silenciosa de todas: curiosa peculiaridade!
"Da janela do nosso quarto" podemos ainda ver o mundo (como sempre)
que belo prazer ouvir os pássaros
observar alguns transeuntes
admirar a chuva
e estar na melhor das companhias:
conceber oportunidades maravilhosas é um atrevimento (perdoem-me).
Mas
"das trevas nasce a luz"
-a história o comprova.
O Mundo continuará (demasiado) imperfeito e desigual,
como cada um de Nós,
os sobreviventes - atentos e sofridos-
poderão viver de outra maneira
reinventar-se
e contribuir ocultamente
com gestos
olhares
e
manifestos
e
ações
de paz (preservá-la é uma emergência).
E que amanhã,
ao acordar,
saibamos agradecer por mais um dia
e nos deixemos inundar pelo Amor:
única força capaz de vencer
um inimigo invisível, tão real como os sentimentos.
Este confronto (anunciado) abalará qualquer um
(de bilionários a mendigos)
todavia não estremecerá o essencial:
o sentir.
Abraço altruísta (por aqui não corremos qualquer risco).

                                               Berta Carreira

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