sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Entrevista a Manuel Gonçalves

Manuel Gonçalves
, nascido em Vila Mendo, bacharel com o curso Magistério Primário e licenciado em Educação Física. Os quarenta anos de atividade profissional docente no ensino público iniciaram-se em 1981 no Ciclo Preparatório TV (CPTV) no concelho de Ponta Delgada e prosseguiram nos diferentes ciclos de escolaridade obrigatória em escolas dos concelhos de Sesimbra, Almada, Barreiro, Moita e Seixal. A atividade docente foi interrompida durante 4 anos em que exerci a tempo inteiro as funções de dirigente sindical. 

Enquanto professor, como analisas o atual estado do sistema educativo?
Nos últimos 15 anos, trabalho na escola sede de um agrupamento de escolas de vanguarda onde são testadas/experienciadas as novas ideias para a Educação: contratos de autonomia, projetos de toda a ordem, novas práticas/metodologias pedagógicas, … O início de cada ano letivo provoca-me sempre essa expetativa: o que há de novo, desta vez?
Portanto, para uma questão tão abrangente e complexa onde se pretende a opinião sobre a eficácia das políticas educativas nos diferentes graus de ensino, dir-te-ei de forma muito sucinta a expressão que melhor caracteriza o sistema educativo “em constante mudança”. 
A problemática presente vai mudar a Educação, nomeadamente o papel do professor enquanto tal? 
Curiosamente, iniciei a docência no CPTV, a designada telescola, como referi no início e, por vezes, em virtude dos tempos que vivemos devido à pandemia, interrogo-me se não acabará de igual forma com o E@D (Ensino a Distância). 
Não creio que na escolaridade obrigatória o papel do professor deixe de ter a importância que a sociedade reconhece porque as aulas síncronas terão sempre um caráter de excecionalidade e meramente circunstancial. Noutros graus de ensino, no secundário e, particularmente, no ensino superior prevejo que as aulas não presenciais ganhem especial preponderância. 

Uma mudança que implementarias (já) na Escola?
-Uma semana de formação para os EE,s, de frequência obrigatória, no início de cada ciclo de escolaridade. 
-As literacias digitais, financeira e educação para os valores seriam prioridades curriculares a considerar. 

Há muito a viver na zona de Lisboa, que imagem tens da Guarda, agora? 
A cidade da Guarda, enquanto capital de distrito, apesar da interioridade sofreu, no meu entendimento, dos mesmos problemas das cidades do litoral: cresceu mais do que devia contribuindo sobremaneira para o despovoamento das aldeias do concelho. Descaracterizou-se. 

O interior, as comunidades rurais; como vês o seu futuro? 
Para fazer um trabalho em Sociologia do Desporto, li há muitos anos a obra 3ª Vaga, de Alvin Toffler, escrita há cerca de 60 anos, onde o autor preconizava que o escritório do futuro era a própria residência. 
O teletrabalho e a imigração são janelas de oportunidade para o interior, para o repovoamento e fixação das comunidades rurais.

Onde te imaginas daqui a 10 anos?
Se houver saúde e disponibilidade financeira, imagino-me em qualquer parte do planeta, em viagem…

Uma pessoa que te tenha marcado na tua via aquando da tua juventude? 
Os meus pais. 

Uma memória de infância?
A realização de TPC,s nas escadas de uma casa na Rua do Zé Velho porque a professora me mandou para casa. 
E, como já escrevi noutras memórias, o pior dos exemplos da classe docente- a horrível professora que tive na primária. 

Que te diz Vila Mendo? 
O lugar onde nasci e cresci dentro de um agregado familiar onde se cultivavam valores; a luta pela sobrevivência generalizada da população residente nas décadas de sessenta e setenta; um lugar para voltar. 

Nota: 
Só a insistência do Luís Filipe me levou a responder a esta entrevista. 
O apreço que tenho e mais uma vez expresso pelo trabalho inigualável desenvolvido pelo agora ex-presidente da ACRVM não me permitiram outra saída para o ultimatum que me fez: “ Ou a entrevista sai até ao dia 14/10, ou então esquecemos”.

1 comentário:

Ana Isabel Fonte disse...

Penso que nas medidas educacionais a implementar nas escolas falta acrescentar uma semana dedicada aos docentes e aos alunos sobre com trabalhar na plataforma tecnológica selecionada pela escola para possibilitar aulas verdadeiramente síncronas.
Com "velho" que sou, também gostaria que tivesses relembrado mais vivências passadas no nosso Vila Mendo.

Um abraço

Zé Domingos