espécie de ensaio- 2ª parte do texto publicado no pretérito dia 5 de Fevereiro
“Como começar a alterar isso: valorizando, reconhecendo e assumindo o ontem; pensando e fazendo o hoje; antecipando o amanhã…”
Obviamente que este processo não é algo repentino que mude por artes mágicas. Contudo este é o caminho, difícil por certo. É um processo individual, antes de mais, que começa nos pequenos “quês” do dia-a-dia, mas que ancora em elites formadas e informadas que sejam farol e guia nestes tempos conturbados.
Se analisarmos bem (numa escala macro), e não querendo ser injusto perante diversos actores ao longo da história de Portugal, quem é que valorizou, reconheceu e assumiu o ontem, pensou e fez o hoje e antecipou o amanhã? Parece claro! D. João I, Infante D. Henrique e companhia como o início dos Descobrimentos (ainda se pode chamar tal?!.). De resto, e sem querer ser simplista, parece que foi, e passe a expressão, “pontapé na bola, xuto para a frente e fé na providência.”
E estamos onde sempre estivemos, dependentes de um qualquer milagre: o comércio das Índias, o ouro do Brasil, as colónias africanas, os fundos europeus… sobrevivemos sempre à espera que algo aconteça: não porque se tenha capacidade de prever e planear em conveniência, mas numa lógica de desenrascanço (onde somos realmente bons, diga-se) que chega para sobreviver mas não (talvez) para Viver.
Como País, existiremos por muitos mais séculos, sem dúvida- que o milagre do nosso surgimento já será eterno- de desenrascanço em desenrascanço iremos perdurar; importa saber a que custo e com que dificuldades e sofrimentos nos iremos deparar “para que fosses nosso oh mar”…
De qualquer modo, as elites que nos governam e governaram emanam aquilo que somos enquanto povo, mas primeiramente enquanto indivíduos e ao responsabilizá-los- por si só- estaremos a fazer aquilo que é uma das características (quase que inatas) dos portugueses: os “queixumes” combinados com uma pitada de intriga e mesclados com uma boa dose de inveja. De facto, esta “nobre” arte de nos queixarmos (por tudo e por nada) poderia ser (e é também muitas vezes) uma forma de crescimento enquanto nação, na perspectiva de conhecermos e lutarmos pelos direitos que nos assistem, na perspectiva de podermos alterar para melhor a comunidade, a sociedade, o mundo em que vivemos.
Todavia, este lado profícuo dá lugar a um queixume maldizente em que se diz mal de tudo e todos numa lógica de oposição- Eu contra o Outro- Eu que sei e tenho solução para tudo, contra o Outro que nada sabe e tudo faz mal; são as conversas de café, de rua, de tantos e tantos momentos, contínuas e corriqueiras e, não raras vezes, mal intencionadas. Paradoxalmente, estas queixinhas são alimento de coesão entre pessoas, entre grupos, entre comunidades, entre o próprio país e a sua identidade: aquilo que poderia ser visto como negativo e nefasto (que é), torna-se um elo, uma afinidade entre indivíduos. Convertemo-nos em arautos da desgraça e nessa desgraça mantemo-nos unidos numa identidade- a de Portugal. Naturalmente que uma identidade forjada em tais princípios (outros há, por demais superlativos) não pode trazer grandes benefícios (a não ser a existência dela mesmo) porque essas queixas, esse desfilar e destilar de problemas (culpa dos outros, claro) não pressupõem nenhuma acção transformativa para se corrigirem e alterarem: diz-se por dizer, não para fazer, porque quem tem de fazer e mudar é o Outro. E quando misturamos as queixas e o maldizer a um certo poder de decisão obtemos aquilo a que vulgarmente se chama de burocracia: tudo é bloqueado nuns quaisquer níveis de definição, provocando a exasperação daqueles que querem resolver situações da sua vida. Assim, é recorrente a inacção dos serviços (públicos) que numa aparência de grande azáfama e volume de trabalho acabam por suspender decisões de forma rápida e útil por pequenas questiúnculas que só servem para atestar o ego (narcisista e invejoso, por vezes) da suposta importância de quem decide; os pequenos poderes instalados na hierarquia da administração (pública, maioritariamente) são profundamente paralisantes e castradores de uma verdadeira simplificação de procedimentos e consequente transformação de mentalidades que permitam um salto daquilo a que denominaria de modernidade-operante que nos permita (enquanto povo) Viver e não sobreviver nos solavancos da história…
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