Estamos num tempo de um mediatismo assoberbado em que o imediatismo orienta o compasso da actuação política… Tudo é para ontem; o hoje já é passado e o amanhã quase (embora na realidade, no ontem nada ou pouco se tenha feito; o hoje já é quase amanhã e o amanhã ainda não é hoje!), gerando-se assim percepções de grande dinamismo que de transformação real pouco têm, imperando a lógica de que “o meu lado faz quase tudo bem, o teu lado quase tudo mal”!
É nesta lógica-ilógica que também vive a Guarda (politicamente): o Eu contra o Outro; os Outros contra Nós. O caso recente da Cultura torna-se revelador disso mesmo: “antes é que era boa e a partir de agora vai ser má”- dizem uns tantos; “agora é que vai ser boa, antes era má”- referem outros. Para uns o fim, para outros o princípio. Estas simplificações tendem a ser estreitas conceptualmente e é nisto que as tribos partidárias garantem a “legitimidade a existir”: o confronto numa perspectiva de conflito…
Tenta-se uma análise (muito sintética, mas esperando-se de alguma profundidade) à contenda.
A cultura na Guarda, ao longo dos últimos anos, tem sido referência e é justo que se reconheça e se diga (o que não quer dizer que não tenha reparos, porque os tem). Este escrutínio já pode começar a ser feito; não devemos (talvez) fazê-lo ao que ainda não foi implementado. Objectivamente, temos de aguardar pelo novo (se é que vai ser novo) posicionamento cultural da Guarda para se retirarem conclusões balizadas. Tudo isto a propósito do cancelamento do apoio da DGArtes.
Importa aqui lançar um conjunto de questões que nos podem ajudar a enquadrar a questão geral (fora de quezílias partidárias, ou até ideológicas):
1- A cultura na Guarda, ao longo do tempo, tem acontecido com o apoio da DGArtes?
2- Que encargos (cumpríveis) esse apoio exigia em si mesmo?
3- Que grau de dependência/independência acarretava no âmbito da programação (TMG)?
4- Porquê de tanto tempo para se assumir uma posição quanto à candidatura?
5- A cultura na Guarda resume-se ao TMG?
Tentando responder (escrutinar) estas perguntas poderemos ficar esclarecidos e sossegados (talvez).
Interessa, ainda assim, afirmar dois pontos: Analiticamente, era possível assumir-se a candidatura à DGArtes? Era; e seria um caminho- válido. É possível não a ter concretizado? É; e é (será) outro caminho- válido.
As opções políticas assumem-se, bem como as suas consequências (cientes de que se poderão perder oportunidades e possibilidades…).
Importa, sim, ter uma estratégia global na área que envolva uma dinâmica sinergética e condutora entre os vários espaços culturais (com as escolas, IPG, instituições sociais, associativas, empresariais…) a que até os diversos eventos (demasiados) obedeçam.
Importa, sim, (e afunilando a perspectiva) que o TMG não se torne um salão de festas onde tudo e todos possam acorrer sem critério(s).
Este deve ser um espaço referenciador onde várias linguagens artísticas (diferenciadoras) tenham lugar (com os bons de cá, com os bons de fora); onde acrescentem valor intrínseco às nossas vivências, à nossa Vida, ajudando-nos a interiorizar, a lidar, a projectar a realidade para que de modo profundamente transformativo possamos ajudar a aproximar- nos de uma sociedade mais democrática e plural, mais justa e fraterna, mais de acordo com aquilo que é o bem-comum e na ânsia de alcançarmos a inalcançabilidade da felicidade. É isto que se espera da cultura e da arte como tal: que nos ajude criticamente a reflexionar o nosso mundo e o nosso próprio mundo-interior. No fundo, que nos ajude a pensar-o-pensar.
É por tudo isto que nem tudo cabe no TMG e nem se deve dar (falando neste domínio) às pessoas aquilo que elas querem. Como entidades públicas de público serviço, cabe às Câmaras uma função pedagógica de possibilitar conceitos artísticos (muitos deles comercialmente inviáveis), experiências (logo ferramentas) que nos ajudem a Entender e a entender-Nos. O número de espectadores (consequentemente as receitas) não deve por si só delinear uma estratégia na cultura; por maioria de razão neste espaço. Existem outros espaços e eventos onde isso contará, e bem!
Substanciando: não será o fim, não será o princípio da Cultura na Guarda. Espera-se uma continuidade… melhorada e aprimorada, como se espera tal em todas as outras áreas da vida da Pólis.
Não se rasguem as vestes!.. Nem se vista um manto dourado!..
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