Inquietos os tempos. Fugidios os momentos. Impercebíveis os instantes. Impacientes as gentes… que passam no imediato do tempo insensato!
As gentes que passam e não permanecem, não “impressam” uma marca duradoura e reveladora na Memória: numa espécie de desaparição de si; numa desaparição de si nos outros; numa quase não-presença no mundo.
E essas gentes somos quase todos nós- Humanidade. Poucos são aqueles que carregam em si mesmos uma identidade superna que se transcende numa alteridade fraterna. Poucos são aqueles que emitem, transmitem, imprimem uma centelha de imortalidade, uma aura de universalidade.
Neste tempo de apressamento verborreico, as pessoas procuram já não só viver os momentos, mas os instantes (fugazes), numa instantaneidade voraz e incapaz de um enquadramento na vida (toda) de cada qual. E sem este enquadramento dos instantes tudo é passado, nada é presente e o futuro é vazio, porque ilusório. Ficamos como que inebriados no nada dos instantes… que já passaram. Para que possamos dar conteúdo e sentido e fim ao tempo (logo à nossa vida como tal) precisamos de os presentificar- uma presentificação dos instantes- de todos os instantes: os do presente através da atenção crítica, reflexiva (do agora); os do passado pelo lembrar, pelo recordar lúcido e analítico; e os do futuro pela expectativa real (pincelada com um toque emocional).
Todos esses instantes convivem connosco e não devem ser espartilhados, sectorizados. Tudo o que em nós se passa deve ser engobado e analisado… na totalidade de toda a Vida! Se vivermos, se reduzirmos o existir à simples soma de sucessivos instantes sem lhe conferirmos um sentido temporal, ficamos continuamente seus reféns, aprisionados, incapazes de horizontalizar e perspectivar a existência, esquecendo-nos (paradoxalmente) de nós próprios, de Ser verdadeiramente.
Importa então que os instantes se transformem em momentos, e estes se transcendam em realizações significantes e impactantes na vida pessoal e social de cada um.
Importa então sabermos dar valor e cultivarmos O sereno Aguardar: o aguardar que não é passivo, não é desistido, muito menos improdutivo, pelo contrário; o aguardar que espera, sim, mas que acompanha (diligente) o Outro na longa e dura caminhada da vida comum; o aguardar que é justo e que é esperança num tempo melhor.
Colectivamente e tomando como exemplo a nossa Guarda, também ela necessita de um suave aguardar… activo e reflexivo, mas não maldizente; a Guarda precisa de… aguarda… no sentido de uma esperança real, uma esperança que se transforme em acções e concretizações efectivas e afectivas na realidade; a Guarda (e Portugal) precisa de fluxos, de influxos constitutivos que vão além dos constantes (e quase nunca producentes) instantes/momentos que insuflam o espaço mediático e imediato, sem que com isso se vislumbrem mudanças superlativas na comunidade e sociedade.
A Guarda, aguarda. Resta saber que aguardares!
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