sexta-feira, 12 de julho de 2024

a Contradição – Idade(s)

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 04 de Julho)

No último artigo aqui, falou-se da Contradição e de algumas das suas múltiplas expressões como o anonimato ou a Liberdade. De facto, a Contradição… contradiz-nos a cada passo e diz-nos a todo o momento das nossas limitações e pulsões, das nossas flutuações vivenciais e das nossas decisões tantas vezes indecisas. No fundo, quando compreendida e criticamente vivida, baliza a nossa existência e confere-lhe Sentido (ou pelo menos, um sentido). E ainda assim, a contradição leva-nos uma e outra vez a contrariedades várias; não simples, não resolúveis amiúde.
Na caminhada da vida todos passamos por processos- mais ou menos pacíficos- todos mudamos- mais muito do que pouco- e todos sobrevivemos- como podemos; nos extremos: nascemos e morremos! É portanto nos interlúdios do nascimento e da morte que nos definimos, que Somos. Antes de nascer não nos importa nada; depois de morrer importará algo para quem crê na eternidade. E o que fazemos nesse sopro de tempo terreno? Um incontável e imensurável número de coisas e coisinhas; passamos esse tempo primeiro a querer ser mais velhos- quando entramos na adolescência e se quer a expensas todas ser mais crescido e sabido- esta etapa irá até aos 20 e poucos anos; depois passamo-lo a suspirar ser mais novos- e dura até ao suspiro último: no fim da década dos 30 anos já queríamos ter os tais 20 e poucos; nos 40 não era mau termos 30; aos 50 anos desejamos os 30; aos 60, os 40 óptimos; aos 70, os 50 já serviam; aos 80 até os 60 parecem razoáveis…
No fundo, perdemos (quase que estupida e tragicamente, embora com alguns ou bastantes laivos de comédia, ressalve-se) anos de vida a desejar, a aspirar e a ansiar o que não temos, o que não seremos- porque o não podemos mesmo ser. O nascimento é, desde si, o primeiro acto de envelhecimento- inelutável. Convivermos positivamente com esta inevitabilidade, ajudar-nos-á a vivermos construtivamente e a aproveitarmos proficuamente cada fase do existir, sem delongas e desculpas na senda da estafada e ilógica lógica do “se”: se fosse mais velho… se fosse mais novo… se isto… se aquilo…
A caminhada da existência é por si só exigente, dura, e embora as contradições- várias e invariadas tantas vezes- nos condicionem e nos oprimam até, temos o dever de combater o bom combate com a Contradição como tal. Certos de que nunca sairemos totalmente vitoriosos dessa luta incessante e pungente e incongruente, mas que venderemos cara esta nossa condição humana. Para nosso próprio bem e do Outro que connosco faz Caminho.
Contradições.


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