quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Retalhos da Vida

O Outono e as suas cores e os seus sabores. Apanham-se as castanhas: conforto do corpo e reconforto da alma; manifestos nos convívios que advirão necessariamente- pilares de resistência, de persistência, de permanência nestas Terras Interiores...
Retalhos da Vida... em Vila Mendo.


 

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Reditos

 A linguagem vive apenas do silêncio- Merleau-Ponty

quarta-feira, 15 de outubro de 2025

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

a Guarda e as candidaturas autárquicas

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 25 de Setembro)

Tentar analisar as candidaturas autárquicas à Câmara da Guarda com traços de não parcialidade afigura-se complexo e com poucos, ou nenhuns, laivos de completude. Aspirar à imparcialidade absoluta é, no mínimo, inglório (no máximo despropositado). As convicções e as percepções; as suposições e as motivações; as ambições emanadas das nossas imperfeições; o conhecimento e as afinidades mais ou menos próximas- independentemente de intencionalidades- conduzem-nos (até inconscientemente e quase que imperceptivelmente) ao deixar entrar nas nossas boas graças Este ou Aquele; Isto ou Aquilo (e o seu contrário, também)
Portanto esta tentativa de análise-equidistante enferma duplamente: primeiro, da sua quase impossibilidade que advém da sua natureza própria; depois, pela consciência dessa mesma impossibilidade… Ainda assim, arrisca-se um pequeníssimo exercício de uma análise muito geral com alguma profundidade (!) em contraponto a uma análise muito específica que seria, por certo, superficial… outros o farão, decerto, melhor. E é um exercício de mais perguntas do que respostas em que talvez, no máximo e por essa - e só por essa- via, se tentam dar à compreensão (ou pelo menos à reflexão) algumas incompreensões.
Quando se olha para as diversas candidaturas e ao sem fim de candidatos a qualquer coisa, aquilo que nos sobrevém ao pensamento é: porquê estas pessoas? Porquê estas e não aquelas? Que critérios, que nuances determinaram a sua escolha, e que critérios foram determinantes para a escolha de quem escolhe? No fundo, quem escolhe os escolhidos e quem escolhe o que escolhe (na suposição que que é o cabeça de lista que opta pelos demais)? Foram decisões pensadas e previstas e planeadas de acordo com uma visão estratégica e estruturante para a Guarda?
De facto, e tirando o actual Presidente da Câmara Sérgio Costa de quem já se sabia da sua intenção de se reapresentar a eleições, as candidaturas, presume-se, desenhavam-se muito diferentes há tão somente três meses atrás. E há seis meses as conjecturas ainda seriam outras, e antes o mesmo. Parece que- de forma transversal- foram feitas e preparadas sem o tempo que este tempo (da cidade) exigiria. Talvez tenham sido estes os designados, face às circunstâncias e às urgências… Fica a sensação de que numa fase anterior (ou até posterior!) muitos dos candidatos seriam outros: calharam a ser estes!
É este calhar (de que não nos podemos livrar sempre, é certo!) que neblina a nossa Guarda e a sua afirmação e o seu despontar como comunidade verdadeiramente comum… uma comunidade que caminha a passos largos para algum tipo de polarização que não augura futuros fáceis pelos presentes já extremados no nós os bons e sabedores, vós os maus e insipientes; de que as redes sociais se alimentam vorazmente, deixando-nos um pecúlio de intolerância patente e maldade latente.
Os políticos que são agora indicados para tentarem ser eleitos nas eleições, deixaram e deixar-se-ão ser escolhidos, portanto resta-lhes só (que é muito) trabalhar para o bem-comum: simples. complexo. doído. desafiador. recompensador. Os outros políticos não são inimigos; são apenas adversários (e basta). Trabalhem- e trabalhemos todos- em genuína cultura democrática e não maldizente nem fortemente adjectivadora… Esperança utópica? Quiçá! Mas é a esperança que confirma a nossa presença no mundo. A vida, sem esperança, é? E que elites esperamos- para tal? As elites na Guarda são? Operam? Na sombra? E outras indagações afloram ao pensamento sem que as respostas se deixem entrever…
Nota: o Acácio Pereira de Vila Mendo, portanto um Vilamendense e amigo de sempre, é candidato a presidente à Junta de Freguesia da Guarda. Uma palavra de reconhecimento, independentemente dos resultados próximos. Que seja exemplo do atrás aludido.

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Vila Mendo On Tour- Aveiro

Passeio Moliceiro
Degustação ovos moles
Salinas
Museu Marítimo de Ílhavo

Museu da Vista Alegre
Museu de Santa Joana



 

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Gentes de Cá

O nosso conterrâneo e amigo, Acácio Pereira, é candidato à presidência da Junta de Freguesia da Guarda (PS) nas próximas eleições autárquicas no dia 12.

 

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Reditos

 A natureza (humana) parece, quanto mais de perto a vemos, feita de antipatias- William Hazlitt

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

o Tédio (e a Política e a Guarda)

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 11 de Setembro)

Nestes tempos altamente imediatistas em que se quer fazer mais e tudo, em que se quer produzir mais e tudo, não há tempo para a paragem. A voragem dos dias pressiona-nos a entrar numa espécie de espiral de excesso de informação, de estímulos, de impulsos de que o excesso de positividade é anunciador. A percepção, a realidade e a percepção da realidade tornam-se marcadamente fragmentárias, amplamente dispersas e dispersantes. A gestão do tempo torna-se quase como que um imperativo moral (sem moral, tantas vezes). Saltitamos de tarefa em tarefa para convencer os outros e a nós mesmos que fazemos muito, variado e bem (e fazemos também); para demonstrarmos ao mundo a nossa excelsidade…
Mas essa gestão tem implicações várias na atenção. Não na atenção digamos que superficial, embora ampla com que conseguimos executar e funcionalizar actividades múltiplas e com resultados meramente produtivos; mas com nulos ou poucos resultados criativos: estes só ao alcance da atenção profunda; que permite a reflexão, através do pensamento, por via do silêncio… que pode derivar do Tédio!
Um Tédio que não é aborrecimento paralisante, antes pensamento-referente-em-acção. Um tédio que inaugura um tempo novo da atenção profunda de que germinará todo o processo criativo tão necessário à cultura, às artes, ao avanço técnico e civilizacional como tal. A pressa, a imediatez, o frenesim (por si sós) não gerarão nada de novo; limitando-se a apressar o já existente.
O Tédio que permite a atenção profunda que possibilita o escutar, que propicia o espanto, que se faz criação... Esse escutar tão arredado que está do nosso modo de vida tão ávido do Eu hiperactivo que não dá ao espaço ao Outro (esse Outro que também sou Eu). De facto, a capacidade de escuta é o primeiro e primordial passo para nos colocarmos no lugar dos outros, e com isso e com a serenidade subsequente evitarmos as maiores violências e barbáries com que somos assolados desde o início dos tempos.
Poderíamos então, quiçá, cultivar o tédio. Essa arte de nada fazer (e termos essa consciência, plena) para se fazer tudo (ou alguma coisa significante e transformante) depois.
Em jeito de nota sem o ser (sendo), também na política este tédio poderia ser cultivado. Em primeiro lugar na Guarda (não se nomeia aqui Vila Mendo!..). Que políticos somos- cada um de nós? Como nos posicionamos e como contribuímos, dentro das nossas possibilidades e impossibilidades e capacidades para o desenvolvimento da Pólis? Que políticos temos, desejaríamos ter, ou era melhor ter? Agora que chegam as eleições autárquicas e o frenesim que lhe subjaz, era tempo dos candidatos se imbuírem deste tédio, que lhe seria útil para aprimorarem a atenção profunda; no silêncio; escutando e reflectindo verdadeiramente; o que certamente lhes possibilitaria actuar na realidade (e até nas suas percepções) de maneira valorativa e transformativa- na comunidade que nos suporta e nos importa: a nossa Guarda. Aguardando isso, talvez não se deva aguardar por tal: é que até a esperança (utópica) tem os seus limites!..
E agora como nota mesmo: talvez se faça aqui uma análise geral às candidaturas à câmara da Guarda… se o tédio (não este de que se fala aqui, mas do outro useiro e costumeiro) não se apoderar do pensamento e dos pensamentos…
O Tédio… e o tédio…

terça-feira, 23 de setembro de 2025

Respiros

escadas 
sobradas.
a Casa 
desocupada de
Si.
espera,
que espera?
o Ontem já
não é.
o Amanhã,
não foi
...



 

sábado, 20 de setembro de 2025

Gentes de Cá

Jorge; Zé Albino; Manuel; Virgílio 

 

domingo, 14 de setembro de 2025

Coisas da Vida

 

Partiu o Padre Zé Dionísio. Demasiado novo. Um homem bom. Um padre exemplar. Obrigado por ser meu amigo (e amigo de tanta gente) e ser sempre um exemplo. A dádiva da sua amizade não morrerá.
(Mais informações no Jornal A Guarda)

sábado, 13 de setembro de 2025

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Reditos

A literatura é um poderoso instrumento precognitivo... vaticina realidades que ainda não existem- Juan Villoro

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Sugestão de leitura

Para quem quiser recordar ou até mesmo iniciar a leitura num dos grandes e mais prolíficos dos autores potugueses, este é um pequeno mas bom livro. Três pequenas histórias escolhidas por José Viale Moutinho, especialista na obra de Camilo Castelo Branco.




 

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Gentes de Cá

Cristina; Sr. Alfredo; Sra. Helena; Jéssica; Rodrigo; Samuel; Hélder; Cláudia

 

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Reditos

Em Portugal houve uma enorme distância que separou a cultura popular da cultura de elite- José Gil

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Gentes de Cá

Mauro; Tó; Pereira; Ricardo; Rafael; Gabriel

 

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Reditos

As coisas da natureza estão cheias de silêncio; estão ali como reservatórios cheios de silêncio- Max Picard

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Sugestão de leitura

O Silêncio, mais do que mera ausência de ruído... Visto como valor filosófico e visto na sua dimensão educativa...

terça-feira, 19 de agosto de 2025

sábado, 16 de agosto de 2025

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Reditos

O silêncio é a conquista suprema da linguagem e da consciência- Jean-Marie Le Clézio 

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

o gostar de não gostar (de odiar?)

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 31 de Julho)

A condição humana remete o Homem (recorrentemente) para o conflito… com os outros; com ele mesmo. E uma tristeza advém ao pensamento e apodera-se dele, e por ele se cometem as maiores atrocidades (as maiores virtudes, também). Esse pensamento que fica preso e represo em ruminações, remoendo a realidade; tantas vezes a irrealidade.
Um dispêndio de energia que nos esgota e não dá resposta às nossas conjecturas de conjecturas mais. Mas ainda assim, fatigados com esses pequenos e inúteis pensamentos, gostamos de não gostar de alguém. E se frequentemente esse não gostar se queda por meros pensares, outras vezes fazemos questão de o demonstrar através de palavras e acções e omissões.
O que é facto (senão porque seria?) obtemos um certo prazer de pensar, dizer ou fazer mal a alguém. Algo que está cá dentro, e como que um tormento não o conseguimos debelar completamente (conseguimos?), esse pulsar- latente- de ódio, até. No fundo, gostamos de fazer o mal, ou pelo menos um certo mal (seja lá o que isso for); censuramos o próximo, ciosos de o vigiar e inquisitorialmente questionamos os motivos dele e de todos os próximos (raramente os nossos).
Talvez busquemos motivos (fúteis e inúteis), razões de queixa e queixumes, todas as fontes de insatisfação, até sobre os amigos: para nos afastarmos deles, para nos justificarmos a nós próprios que (já) não os apreciamos e pouco queremos a sua companhia. Exemplos mais seriam incontáveis.
A repetição, o enfado, a rejeição tomam conta de nós a cada passo, e cercam-nos e cerceiam- nos ficando como que aprisionados nos pensamentos-acções que destilam indiferença (que se faz presença, notada) do outro.
Comunitariamente, o ódio lança sociedades contra sociedades, países contra países numa deriva autodestrutiva cujo fim se depreende e cuja finalidade se não entende. De facto, desfiando, e por tal deslindando, a teia da vida humana nas suas múltiplas e infindáveis meadas (entremeadas), damo-nos conta que- delas- fazem parte várias nuances de maldade: falta de empatia, falta de sentimento, compreensão, desprezo dos outros e ignorância de nós mesmos… em que os hábitos costumeiros se sobrepõem à excelência, e esta reiteradamente dá lugar à infâmia.
Entrincheirados numa espécie de frenesim-maldizente- de que as redes (in)sociais são eco último- passamos o tempo a congeminar, a vociferar contra o outro de forma destrutiva; nesse tempo que se torna destempo… Assim, fazemos o bem, mal; e fazemos o mal, bem! Exasperante contradição que nos arquitecta e imprime a marca indelével da condição humana.
Poderíamos mudar e transformar um pouco essa condição? Talvez! Mas talvez isso seja difícil, custoso e exija uma permanente e profunda reflexão individual que se torna quase insuportável: por estarmos, sem filtros, connosco próprios e darmos conta das nossas imensas e antagónicas fragilidades- defeitos constitutivos, portanto. Não muito diferentes dos outros. Preferindo a ilusão do faz-de-conta da nossa superioridade total, ao constatar real da nossa imperfeição substancial…
Gostamos de não gostar, e isso irrita-nos. E define-nos.
Nota: Nos próximos tempos de campanha autárquica na Guarda é provável que o seu objecto primeiro (e último?) seja a crítica maldizente. Infelizmente. Somos assim, e não sabemos se poderíamos ser de outra maneira!..

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

pequenas Notas soltas e avulsas e desconexas

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 03 de Julho)

1- As eleições autárquicas aproximam-se e será interessante analisar os programas. Serão- como de costume- retalhos descompassados de propostas e promessas de promessas? E isso constitui um, ou o descrédito da política (e da democracia)?
2- Para o ano, as eleições presidenciais são o corolário de um período de intenso bombardeio mediático (sempre imediato) desse sem fim de promessas; de análises de análises; de conjecturas conjecturadas mais. Teremos a paciência para tal?
3- Aguardamos para verificar (e saudar) se na Guarda os candidatos nos surpreendem com uma atitude de elevação em que o foco seja o bem-comum das nossas gentes (?!.). Muita esperança, ou mesmo fé?
4- E Vila Mendo, sempre aqui e sempre além; e sempre aquém do que lhe desejaríamos- a nós?
5- O calor está por aí, e antes mesmo da inclemência dos incêndios ser realidade as televisões já nos “massacram” com as suas possibilidades… e ficamos quase que incendiados.
6- As guerras seguem o seu curso inexorável desde o princípio da humanidade até hoje (provavelmente até ao futuro). Vários pensadores viram-lhes virtudes, ou pelo menos justificativas na perspectiva de fazer com que a letargia a que muitos (individual e colectivamente) estavam votados se transformasse em realidades risonhas, na perspectiva de exportar para outros povos as virtualidades próprias do seu, ou dos que consideravam… Já nós queríamos que acabassem, ontem. De qualquer modo, como país convém estarmos preparados para tudo.
7- Uma pausa no desporto, que é como quem diz no futebol, é sempre bom para reorganizar forças para as euforias e desilusões, para as alegrias e tristezas, os festejos e desmandos que nos esperam na próxima época… Uma boa alternativa, a Volta à França em bicicleta com o inefável Tadej Pogacar.
8- Pausas. Tão necessárias para nos pensarmos e pensarmos os outros. Para nos pensarmos com os outros.
9- Estas notas são dignas de pouca nota, mas estamos quase a chegar às férias e o português (como o Guardense) entra em modo relaxado e expectante; depois cansa-se durante o recesso, porque o idealizado raramente é concretizado; recupera no retomar do trabalho; remói a má sorte dos seus afazeres monótonos, mal pagos e da sua vida complexa e complicada; exaspera-se por tudo e pelo seu nada, e pela longura do próximo descanso; e… depois a mesmice… Somos assim e não sabemos se poderíamos ser de outra maneira.
10- Não há. Mas podia haver. E muitas.
Pequenas notas soltas, avulsas, desconexas; ou não.


quarta-feira, 30 de julho de 2025

terça-feira, 29 de julho de 2025

Motoclube

O Motoclube da Guarda, um dia destes em Vila Mendo na Associação.

 

domingo, 27 de julho de 2025

Incêndios

O incêndio da pretérita Quinta-feira à noite, na zona das Fontainhas.


 

quarta-feira, 23 de julho de 2025

segunda-feira, 21 de julho de 2025

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Ausência




(5 anos sem o Amigo Tiago...) 

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Reditos

A nossa fatalidade é a nossa História- Antero de Quental

terça-feira, 15 de julho de 2025

Sugestão de leitura

Algumas figuras bíblicas revisitadas e humanizadas. As virtudes e as fraquezas da condição humana neles presentes para poder dar resposta(s) à crueldade humana...

 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Reditos

Eu, que simbolicamente morro várias vezes só para experimentar a ressurreição- Clarice Lispector

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Gentes de Cá

Graça; São; Joana; Andreia; Mariana

 

quinta-feira, 3 de julho de 2025

o Homem e o Competir

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 19 de Junho)

Desde sempre (e talvez para sempre) o Homem está em permanente competição. Com o outro. Consigo mesmo. Uma força interior (inata?) que o empurra a querer ser melhor que os outros. Melhor do que ele mesmo. Nem sempre conseguido, isso. Esse isso que é aquilo que muitos aqueles (que somos todos, ou quase) teimam em demonstrar ao mundo: a sua excelsidade; a sua superioridade, a sua singularidade (real) face ao próximo e a todos os próximos.
De facto, queremos pensar melhor; dizer melhor; fazer melhor; sonhar melhor: do que toda a gente. E às vezes conseguimos; muitas vezes pensamos que conseguimos; outras tantas nem por sombras. E às vezes até achamos que o mundo gira à nossa volta e somos a sua força vital… E até no erro queremos ser diferenciados, porque únicos (que também somos). Queremos tudo e o seu contrário, ou o contrário e o seu tudo. Queremos ganhar, sempre. Queremos perder, nunca. Queremos, ou pelo menos somos fortemente compelidos a triunfar do fracasso do outro. Todas as dinâmicas sociais estão visceralmente ancoradas numa lógica marcadamente competitiva: todos querem ter mais do que os outros, ser (?) muito mais do que os outros. Desempenhos, façanhas superlativas deixam de o ser (no campo das percepções) se alguém alcançar um pouco mais: um estudante que tire dezoito, pode ficar decepcionado se um outro tirar um dezanove; um clube de futebol que no campeonato inteiro perca um único jogo, considera um fracasso a época se um outro os ganhar todos e ficar em primeiro; os países querem ter o PIB maior, crescimento económico maior, ser mais poderosos e desenvolvidos e fortes que os vizinhos. As guerras surgem sempre num afã de competitividade extrema. E os exemplos infindáveis e em todas as áreas (mais pessoais, ou mais colectivas).
Se parece ser verdade que o ser humano, desde os primórdios, avançou e evoluiu à custa da competição entre humanos, com a natureza, contra si próprio e os deuses… não será menos verdade que isso trouxe e traz desgraças recorrentes (literária e mitologicamente, o relato bíblico de Abel e Caim torna-se o primeiro acto de competição da humanidade, por ele o desfecho é trágico e impele o Homem ao constante e inconstante competir com, ao permanente desafio e atrofio da existência como tal… As criaturas multiplicam a palavra- ou a palavra multiplica as criaturas?- e competem entre si, e são destinadas, condenadas à presença das outras, à relação frequentemente desafiadora com as outras. O ser humano, no mundo, é a criatura que universaliza o conflito: na Criação, será o Homem um seu excesso?).
Se calhar- no estado civilizacional, e portanto cultural, em que nos encontramos (ou onde nos deveríamos encontrar)- o competir poderia ser olhado numa perspectiva de… coincidir: de fazer acontecer com o outro; não à custa do outro. De ultrapassar obstáculos sem deixar ninguém para trás. De ver e olhar, ouvir e escutar, entender e compreender que o outro posso ser eu, que eu posso ser outro. Será que algum dia iremos competir para coincidir? Esperança real, ou ingénua? Talvez. Mas o que importa (se é que importa) é fazermos caminho. Todos.

Nota: Aproveitemos o sossego de ainda não se saber (à data, dia 13) dos candidatos às autárquicas: que depois o frenesim competitivo será interessante e pouco dignificante (provavelmente). E como se preparam umas eleições destas características (com um sem fim de freguesias) em três meses?!.


quarta-feira, 2 de julho de 2025

Reditos

A linguagem situa os humanos em posição assimétrica no tempo: o pretérito e o futuro propõem-lhes espaços de indecifração e inquietude- António Vieira em O tempo e o sagrado