domingo, 22 de junho de 2025

o pensamento do Pensamento IV- o Silêncio

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 29 de Maio)

(continuação)
Mas… e de que silêncio falamos? Falamos do silêncio interior. Do silêncio estrutural- pedra basilar, eixo central do Ser- no mundo, com o mundo. Um silêncio que não é um simples adorno, que não é superficial, muito menos supérfluo. Que contrapõe ao silêncio exterior, e ainda que possam correlacionar-se são completamente distintos, uma vez que o exterior é aleatório e, não raras vezes pouco acrescenta, já o silêncio interior é bem intencional abre toda uma perspectiva de uma realidade nova para a própria realidade de nós próprios e da nossa existência. Este silêncio que não é fim em si mesmo; que é elevação, mas que também é acção e, por essa via, mudança podendo operar actos verdadeiramente transformativos na sociedade; que não é mudo, não é cego, não fica enclausurado dentro de si próprio nem nos limites de um qualquer espaço físico; que não é só mera ausência de ruído, prudente, ou só circunstancial (que também é).
Esse silêncio interior, profundamente reflexivo e, se calhar, radicalmente reflexivo, que, de alguma maneira, podemos aprender, ou pelo menos aprimorar e desenvolver para nos escutarmos a nós mesmos e assim olhar o Outro com a paciência, a atenção, a humildade, a misericórdia, o perdão, a disciplina… enfim, com uma esperança na humanidade. O silêncio que é feito de paragem: para perceber e assimilar o mundo que nos rodeia; de escuta: para entender os anseios e às vezes os devaneios do próximo; que é feito de olhar: para ver verdadeiramente e ir ao encontro das necessidades do outro (e de nós mesmos). O silêncio que precisamos trabalhar, apurar e depurar, certamente predispõe-nos a ouvir todo o tipo de silêncios que irão ajudar também e assim a escutar melhor o nosso próprio silêncio interior, e reorientá-lo para a vida prática; e a ligar-nos à essência do Ser e a religar-nos à Vida e ao Mundo como tal. Portanto, o silêncio a cultivar é um silêncio actuante, pleno de presença de sentido, de uma presença humana de sentido, que nos pode conferir um humanismo integral.
Esse silêncio que, por certo, causa receio por estarmos sem filtros connosco próprios; talvez mesmo um medo que sopra e insufla angústias e interrogações e dúvidas sobre o Ser, o Mundo, o futuro e o Destino nosso e dos nossos. Mas que temos de persistir- interpelando, perguntando, ultrapassando desafios e colocando novos desafios: solucionando-os e confiando… nos outros; obviamente em nós próprios; quiçá na transcendência… Um silêncio que é pensar reflexivo que dá as ferramentas necessárias ao pensamento crítico e estruturado, capaz de fazer pontes neste tempo polarizado no Nós e Eles, nos bons e maus. Que nos permita encontrar o destino, ou pelo menos o caminho. Mesmo no diálogo, que se estabelece nas mais diversas situações, formais ou informais, só ganha em profundidade quando pontuado pelo silêncio - enquanto ausência de ruído e depois, claro está, pelo silêncio que é escuta, que é respeito, que é confiança, sinceridade e empatia; e não silenciamento, refira-se e sublinhe-se.
Podemos até afirmar que o silêncio como que delineia a acção, e esta por conseguinte delineia o silêncio numa interacção profundamente dinâmica, simbiótica, visceral, inseparável, contínua; numa interacção plena de possibilidades, e por essa via de impossibilidades que podemos voltar a transmudar em possibilidades e em oportunidades pela insistência e persistência em teimar; em teimar encontrar soluções, ou pelo menos caminhos… de mudança… E precisamos também ensinar às novas gerações o valor e o valor do sentido- do silêncio interior- porque é dele que germina, que deriva a Palavra que será ouvida, problematizada, seguida, concretizada e dará frutos.
O silêncio que nos permite a prudência pensada, reflectida, planeada, agida e fecunda.
O silêncio pode ser pensamento; o pensamento é silêncio.


sexta-feira, 20 de junho de 2025

Sugestão de Leitura

A partir do clássico de Marck Twain "As aventuras de Huckleberry Finn", o autor Percival Everett reinventa essa(s) história(s) e coloca o foco da acção num outro ponto de vista; e da perspectiva do escravo Jim. Recomenda-se.

 

terça-feira, 17 de junho de 2025

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Reditos

Mas não permitirei que essa condição me defina. Não permitirei que eu e a minha mente nos afoguemos no medo e na indignidade. Eu é que me indignarei- Percival Everett- no livro James- com a personagem Jim

sexta-feira, 6 de junho de 2025

Gentes de Cá

Sara; Sr. Ismael; Santiago 
(Avô e netos)

 

terça-feira, 3 de junho de 2025

Reditos

 Consigo resistir a tudo, menos à tentação- Oscar Wilde

sexta-feira, 30 de maio de 2025

o pensamento do Pensamento- III

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 15 de Maio)
(continuação)

Às perguntas: será que todo o ser humano é um “verdadeiro” pensador? Com capacidade para pensar pensamentos que valham a pena ser pensados? As respostas podem ser, de alguma forma, simples. De facto todo o ser humano é pensador: do menos inteligente ao génio; do que tem défice cognitivo até ao comum das pessoas; do mais maldoso ao bondoso… todos somos pensadores. Provavelmente, toda a gente sem excepção pode vir a ter (ou já teve) pensamentos primordiais, criativos, potencialmente originais. E provavelmente, foram perdidos, porque não lhes foram dados a atenção, nem a forma, e muito menos a expressão necessárias. Perdem-se no emaranhado dos constantes e inconstantes pensares improdutivos, que se perdem a eles próprios. Desperdício? Talvez uma forma de o cérebro se não sobrecarregar com inutilidades costumeiras.
Mas se todos podemos ter capacidade embrionária, potencial para pensar pensamentos profundos (que valham a pena ser pensados), são pouquíssimos aqueles que os têm de facto- na perspectiva de chegarem à consciência; e de serem expressos e preservados. Pouquíssimos são aqueles que conseguem uma finalidade orientada, exigente para produzir pensamentos transformativos e originais: impactantes nas comunidades e humanidade. E aqui há- com bastante probabilidade- uma componente inata, genética de relevância ímpar. Ainda que através de exercícios e treino mental ou meditação ou oração se possam atingir níveis de abstracção formidáveis, o pensar inovador e transformador, a própria criatividade, a originalidade e as configurações de sentido escapam muito a esta lógica. A verdade é que não conhecemos todos os mecanismos do pensamento; que se esquivam claramente à nossa compreensão; e vontade, até…
Dando um salto na análise, o pensamento da humanidade está muito condicionado, ou pelo menos fortemente sujeito às indagações de três preocupações primordiais: o ser (portanto a existência como tal); a morte (os limites e o fim); Deus (o divino). Três preocupações embrenhadas, inseparáveis, visceralmente unas, claramente unívocas, por demais completas e complexas, que o pensamento atinge nelas e por elas os seus limites, e impasses que esses limites lhe impõem a ele mesmo: e que lhe são necessários para a continuação do infindável questionar; porque infindáveis as insuficientes ou inexistentes respostas…
Voltaremos a essas preocupações, até porque elas só podem ser reflectidas no silêncio. No silêncio do pensamento (diametralmente diferente do pensamento silencioso). Nesse silêncio que expressa o que se é, e retira o Homem da superficialidade de si mesmo. Diferenciado da estridência do acto que demonstra o que se quer parecer. E nem sempre coincidentes. Uma luta titânica de autenticidade, de coerência interna com que todos (?) somos assolados.
Mas… e de que silêncio falamos?

(continua)

Notas: Aproximam-se as eleições legislativas. E emerge um cansaço da política. Um desencanto com as políticas. Um desacreditar dos políticos. Espera-se que não da Democracia. E depois ainda temos o martírio das autárquicas. Antes das presidenciais. Num ano. É obra.
A eleição do papa Leão XIV (não ligando ao nome numa vertente futebolística, até porque equipa de vermelho!) faz-nos pensar da importância de ele ser um referente ético e moral, e um sinal e uma voz- actuante- de esperança (real) para humanidade; demasiadas vezes inumana. Precisamos disso. Precisamos dele. Crentes. Não crentes.

quarta-feira, 28 de maio de 2025

terça-feira, 27 de maio de 2025

sexta-feira, 23 de maio de 2025

Respiros

Janela. 
intervalo da 
presença,
aqui. ou ali.
espera 
desespera
o fado, o
ocaso?

 

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Reditos

 Detém-te, instante, és tão formoso- Goethe

quinta-feira, 15 de maio de 2025

Gentes de Cá

Cruz; Sra. Laurentina; Stephanie; Angelina; Alexi; Cristóvão 


 

terça-feira, 13 de maio de 2025

Reditos

Quanto à eternidade, recusar que ela existe de uma forma ou de outra é cair na perigosa grosseria de glorificar o efémero- Natália Correia

sábado, 10 de maio de 2025

o pensamento do Pensamento- II

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 17 de Abril)

(continuação)

Numa outra (!) perspectiva, o pensamento do outro é sempre indesvendável; uma cortina impenetrável, intransponível separa cada ser humano a este nível. Nunca conseguimos, de forma objectivamente verificável, perceber que pensamentos dominam (ou predominam) o seu ser. Às vezes, quase que sim; maioritariamente não. Nenhuma técnica psicológica, psicanalítica; nenhuma proximidade com o outro, ou mesmo nenhuma tortura pode “arrancar-lhe” os seus pensamentos de forma objectivamente demonstrável: se aquele ou aqueles pensares são de facto- esses- que outrem pensou mesmo. Os juramentos mais sentidos, as proclamações mais entusiásticas nunca nos dão a absolutidade de uma certeza quanto à sinceridade delas: poderão ser sinceras. Ou não.
Os constantes e variadíssimos “afirmares de”, podem ser actos completamente falsos e perfeitamente conscientes; podem ser autoenganos; ou uma mistura de ambos (e, às vezes, também verdadeiros): a mentira tem infinitas matizes que se tornam difíceis, ou mesmo impossíveis, de distinguir claramente, de ter a certeza absoluta que o que é dito corresponde ao que é pensado (ao que é consciência). À pergunta feita incontáveis vezes por todos nós: “Em que estás a pensar?”, a resposta vem envolta em tantas camadas, passando por diversas filtragens (imperceptíveis), que a veracidade fica tantas e tantas vezes comprometida.
De facto, passamos o tempo em permanentes actos de tradução, por assim dizer. Estamos constantemente e efectivamente a traduzir-nos uns aos outros (e uns para os outros), em todas as áreas e momentos da vida. Querendo e ansiando descortinar e alcançar o que está antes do que é dito (do não dito), antes do escrito, do feito. Às vezes acertamos, ou quase; outras falhamos estrondosamente.
Mesmo no amor, mesmo com as pessoas que são mais próximas e queridas e honestas, o outro- esse outro- é, de algum modo, estranho. O amor, a paixão é também representação. Até no êxtase, os apaixonados conseguem tocar-se, sentir-se; conseguem abraçar-se, mas não conseguem abraçar (ainda que parcialmente) os pensamentos do outro… Talvez no sentimento oposto a este: o ódio (e o medo), os pensamentos sejam mais facilmente genuínos, sem as tais camadas que enevoam a sua decifração. Talvez no riso espontâneo (de uma qualquer situação ou piada), portanto não preparado e diametralmente díspar do sorriso costumeiro (mais elaborado), se encontrem também os pensamentos mais autênticos na sua revelação, que é, ou que tem muito de involuntária.
Na caverna da interioridade (das “identerioridades”) do outro, nunca descobrimos (pelo menos totalmente, ou substancialmente) a luz-final-reveladora do seu ser. Talvez…
E talvez por tudo isso (mas não só por isso) aqui resida a falta de confiança que, individualmente e colectivamente, sentimos uns pelos outros, pela sociedade, pelo mundo (por nós mesmos). Por, enquanto humanidade, cometermos as maiores atrocidades, relegando o outro, o diferente a uns seres desconsideráveis e inumanos. Será?
E será que todo o ser humano é um “verdadeiro” pensador? Com capacidade para pensar pensamentos que valham a pena ser pensados?

(Continua)

 


sexta-feira, 9 de maio de 2025

Novo Papa

Importa que Leão XIV seja um referente ético e moral, e um sinal e uma voz- actuante- de esperança (real) para a humanidade; demasiadas vezes inumana. Precisamos disso. Precisamos dele. Crentes. Não crentes.


 

terça-feira, 6 de maio de 2025

Respiros

Acobertada pela neblina, Vila Mendo há-de assomar- luzente.

 

sexta-feira, 2 de maio de 2025

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Reditos

Gosto de brincar com os deuses, têm uma vivacidade literária- António Vieira

terça-feira, 29 de abril de 2025

Sugestão de leitura

Do papa Francisco, sobre a Família e como ela é (ou pode ser) primordial na busca incessante da felicidade individual; da harmonia colectiva enquanto comunidade e sociedade... enquanto humanidade...
Para crentes e não crentes.

 

sábado, 26 de abril de 2025

o pensamento do Pensamento- I

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 03 de Abril)

No inconsciente da humanidade ecoa como que uma tristeza (primordial) do pensamento que advém (?) do início dos inícios fundacionais do universo: daquele instante- ruidoso- que originou (?) tudo. Aquele ruído de fundo, antes do ruído de fundo da Queda do Homem do Jardim do Éden, que se incrustou no mais íntimo do ser. E que está sempre lá. E sempre connosco. Esse ruído que empresta uma tristeza ao nosso pensar e dela não nos podemos livrar; ainda que o quiséssemos. Uma tristeza inescapável.
Uma tristeza que, apesar de tudo e quase que paradoxalmente, pode ser geradora dos melhores pensares, criativos, profundamente transformativos. E uma tristeza que pode ser geradora dos piores olhares, descriativos, profundamente destrutivos.
A maior parte das vezes, o pensamento é povoado, atolado, bombardeado por uma miríade de pequenos pensamentos que afloram ininterruptamente à consciência. Uma torrente constante, mas inconstante que só cessa no fim da vida.
Espontânea e aleatoriamente (supõe-se), somos aturdidos pelos mais diversos pensares de toda a tipologia que surgem tal e qual como vão. A quase totalidade perde-se nas teias do esquecimento. Discipliná-los é tarefa árdua e poucas vezes conseguida. A concentração focada e absoluta ou o alcance do vazio, do nada (que já é algo!) está ao alcance de uns muito poucos (e por pouco tempo). É desgastante, enormemente e (se calhar) irreversivelmente esgotante. Talvez os pequenos e estranhos e inúteis pensamentos com que convivemos sistematicamente, a todo o momento e em todos os momentos sejam preponderantes para não entrarmos em fadiga e colapso mental (logo físico). Se estivéssemos permanentemente focados e alheados de todos esses pequenos pensares, essa concentração total seria exaustão fatal.
Respirar e pensar, dois processos que o ser humano não pode fazer parar. Quando acontece, é a morte (única certeza?). Ainda assim, podemos suster a respiração. Não é certo que consigamos fazer parar o pensar. E nesta perspectiva tornamo-nos como que escravos dele: uma relação déspota. Carregamos o seu peso, o peso do pensamento, até ao fim.
De facto, o existir no mundo, o habitar do mundo é feito pela via do pensar, que possibilita a acção: embora não seja de todo verificável haver um continuum entre pensamento e acto; muito menos entre o que se pensa, projecta e idealiza e o que na prática se consubstancia; e ainda muito menos haver uma tradução dos sentimentos, das intuições, das sensações, de qualquer ideia intelectual e psicológica superior pela linguagem em vista a uma expressão completa e total- o tal “não consigo dizer, colocar em palavras…”.
As nossas expectativas, as consequências das nossas expectativas saem recorrentemente frustradas pelo não conseguido. O antecipar de, o esperar de, o fantasiar de, o imaginar de, tantas vezes não corresponde em nada (ou em pouco) à realização efectiva. Raras vezes a experiência suplanta a expectativa. Demasiadas vezes, não existe relação, ou pelo menos correlação, entre pensamento e concretização. Talvez por isso, demasiadas vezes, a realização (o pós-realização) das nossas aspirações, dos nossos quereres enviam-nos para um vazio de tristeza (é aqui que tem de entrar a esperança que nos permita voltar a desejar e a querer…).
Por outro lado, o recepcionar, o perceber do mundo não é nu. Há sempre conceitos, pré-conceitos, preconceitos derivados de interferências de vária natureza: culturais, dogmáticas, religiosas, psicológicas… Portanto, não há recepção inocente, pura (por muito espontânea que pareça) do mundo, do “lá fora”, pela consciência (ou haverá?): as teorias do conhecimento bem tentam encontrar esse ponto “zero” livre das tais pressuposições e predisposições, sem ingerência alguma (Husserl, kant, Descartes e outros), mas… A experiência fica como que comprometida (sempre) no filtro do pensamento. A Queda do Homem é a queda do pensamento?
(continua)

quinta-feira, 24 de abril de 2025

segunda-feira, 21 de abril de 2025

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Reditos

 Uma imagem que é mais do que nós mesmos- George Steiner

segunda-feira, 14 de abril de 2025

quinta-feira, 10 de abril de 2025

Gentes de Cá

São Gonçalves; Sra. Emília Antunes Vicente; Quim Corte Gonçalves

 

terça-feira, 8 de abril de 2025

segunda-feira, 7 de abril de 2025

Respiros

e assoberbados por uma tristeza funda. pensamos. onde já não é...

 

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Reditos

A ambição do lapuz que se preza, devido talvez à idiossincrasia racial que levou o lusitano a assoberbar meio mundo, pelo menos, com a sua sombra, e a vasculhar todas as plagas, é possuir terra por largo, ao correr do horizonte. «Terra quanta vejas, vinha quanta bebas, casa em que caibas» é o anexim de que fez a sua moral de bicho. Aquilino Ribeiro (Aldeia: Terra, Gente e Bichos)

terça-feira, 1 de abril de 2025

sábado, 29 de março de 2025

esperar a Esperança

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 13 de Março)

Vivemos tempos conturbados (como o tempo anterior e o tempo por vir, provavelmente). Ansiamos por um mundo novo, amplamente idealizado (não raras vezes ideologizado). Queremos o (nosso) mundo, almejamos o Todo, mas esquecemo-nos do tudo, dos pequenos tudos que o constituem. E desanimamos, porque (quase) nunca logramos.
Profunda e profusamente contraditórios, oscilamos entre o optimismo inebriante e o pessimismo inoperante, nos entretantos vivemos. como podemos. como nos deixam. poder. Assoberbados, abismados pelo bombardeio mediático e imediato e errático e erróneo… ficamos azedos por o mundo ser- assim; por nós próprios sermos- assim; e nem a nós mesmos nos conseguirmos mudar. Somos humanos- não mais, não menos do que isso (que já seria muito, se o fôssemos enquanto humanidade).
E uma tristeza do pensamento aflora. Uma tristeza que vem do princípio dos tempos; que vem do princípio do tempo da humanidade e que ecoa… ressoa, bem lá do fundo. E dessa tristeza não nos podemos livrar, ainda que o quiséssemos…
Neste afã existencial, umas vezes tornamo-nos como que egoístas-passivos: vivendo a própria vida, fazendo as pequenas coisas dos dias e dias sem querer incomodar ninguém, nem que ninguém incomode. Numa perspectiva de que o mundo, os outros, farão; mais tarde ou mais cedo há-de acontecer, embora esperando sempre o pior.
Outras vezes tornamo-nos como que egoístas-activos: vivendo a vida a partir de nós e para nós; os outros, o mundo servem para demonstrar a excelsidade própria.
Outras ainda, ficamos híper-optimistas; num optimismo que se fica por isso mesmo: olhando a vida de uma perspectiva muito colorida e boa, e sem que tal ultrapasse o mero pensamento positivo. Pleno de intenção, vazio de realização.
Deste modo, talvez precisemos cultivar a esperança. A esperança real (seja lá o que isto for). A esperança que o Cristianismo (independentemente de crentes ou nem tanto) nos apresenta e propõe. Uma esperança que é ao mesmo tempo racional e utópica. Que nos permita dar dois passos para alcançar o objectivo, e quando lá chegados e não conseguido nos permita dar mais dois, e mais dois, e… Uma esperança que não espera, que é caminho e princípio de acção, mobilizadora e marcadamente dinâmica e agregadora de vontades. Que é emaravilhamento. Neste mundo demasiadas vezes desmaravilhado.
Precisamos de nos emaravilhar e fazer com que os outros se possam emaravilhar. Não podemos transformar o mundo como quereríamos e de repente, mas podemos transformar (um pouco) o nosso próprio mundo e o dos que connosco privam. Passo a passo. E se há uma infinidade de coisas que não controlamos e nada dependem de nós, comecemos pelas pequenas coisas que estão ao nosso alcance. Sem expectativas desmesuradas, mas com atitudes permanentemente renovadas.
Mas esta contínua renovação do pensamento-acção pode, por desgaste paulatino, levar a silenciosas desesperanças. Pelo constatar da inumanidade da humanidade, pela maldade e misérias presentes a todo o instante e que faz (num exercício de fingimento e de autoconvencimento social) desacreditar da bondade humana, e assim levar-nos a cair numa espécie de impercepção-consensual, na medida em que ao não querer ver das crueldades do homem, como que consensualmente e por vontade as pessoas (a comunidade, a sociedade) não percepcionam, não dão muita importância, não ligam ao mal que à volta graça e é evidente. Importa que elas (as desesperanças) não nos façam desistir; antes nos incitem a continuar; determinados; pontuando-as com o agir metódico de fazer o bem.
Esse “fazer o bem sempre” (Teresa de Saldanha) de que a política e os políticos deveriam beber- antes de tudo- nestes ciclos eleitorais que se avizinham e a todos desgastam…
Utopia? Claramente. Realismo? Obviamente.
A todo o momento e em todos os lugares (em Vila Mendo, na Guarda) necessitamos esperar a Esperança.

sexta-feira, 28 de março de 2025

Via-Sacra


 

Reditos

Trabalhar sem esperança é como acumular néctar numa peneira, / E a esperança, sem um propósito, rapidamente fenecerá- Coleridge

quinta-feira, 27 de março de 2025

Identerioridades


O nosso espectáculo teatral
(Fotografias de A.Bernardo)

terça-feira, 25 de março de 2025

Gentes de Cá

Guilherme; Inês; Beatriz; Joana; Vanessa; Marina

 

segunda-feira, 24 de março de 2025

Sugestão de leitura

A ler. Ainda para mais quando o pensamento da humanidade (pelo menos o ocidental) está fortemente ancorado na Queda do Homem: no pecado original... Aqui, a condição humana vista na sua beleza e finitude: tão só e... tão muito. O sentido último da humanidade visto em Deus-criador.


 

quinta-feira, 20 de março de 2025

Respiros

às vezes, temos aquela sensação informe de sermos o mundo e o seu centro

 

terça-feira, 18 de março de 2025

Reditos

 A linguagem é flexão verbal, que nos arranca do presente e nos projecta no passado e no futuro- António Vieira

segunda-feira, 17 de março de 2025

sexta-feira, 14 de março de 2025

o Comentador (na Guarda)

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 27 de Fevereiro)

Aquilo que hoje se julga por comentador é diametralmente diferente daquilo que foi. O exegeta por excelência que decifrava e interpretava textos antigos e especializados (a Bíblia, o livro que mais comentadores e comentários suscitou, certamente) e com regras muito específicas, foi dando lugar ao comentário de texto aos textos literários nas universidades (mas em quase extinção, talvez).
Agora o comentador é aquele que apresenta um tipo de discurso derivado e cultivado no jornalismo (em que, por vezes, não há quase distinção entre factos e comentários). Além da decifração e da interpretação, ele prevê e esboça e arquitecta cenários de possibilidades infindas, a partir dos diversos momentos-presente. No fundo, analisa especulando a limites estratosféricos: projectando para o mundo a sua aura de intelectualidade pujante (pungente?!)
E o comentador dedica-se quase sempre à política: não há leitura (e só depois hermenêutica) intrínseca, imanente do discurso político; há configuração, a reconfiguração, a construção de narrativas… de narrativas, fortemente especulativas (o comentador como criador de conteúdos para serem comentados- o comentário que procura ardentemente outros comentários, e outros: numa profunda e profusa dialéctica auto-referencial).
E o comentador sabedor oferece e ajuda a perceber ao mundo a (sua) realidade, a (sua) verdade, o central na política. São tantos, e incessantemente, a oferecer tal que tudo se reduz a um vazio, a um nada que é quase… a uma passerelle de entendimentos-superiores-pretensos. Tudo se politiza e repolitiza a um nível desmedido que os cidadãos se tornam indiferentes, descrentes na causa pública e nos seus intervenientes. O comentador como agente político: os comentadores que se tornam políticos, e os políticos que se tornam comentadores- numa espécie de lógica de reversibilidade (político-comentarista)!
Na Guarda (e ainda que não atinjam o píncaro mediático dos nacionais) também temos os nossos comentadores, e com características (e funções) muito diversas e próprias que não importam (importando) agora deslindar e esmiuçar: ainda assim, mais profundos ou menos; mais interessantes ou nem tanto; mais previsíveis ou não; mais formatados ou nem por isso. Todos farão o (seu) caminho…
Seria interessante aferir na cidade se, e como se aplica essa tal lógica de reversibilidade nas eleições autárquicas que se avizinham. Seria interessante que alguns dos que comentam pudessem fazer o exercício de- quando em vez- verem e oferecerem um vislumbre de positividade naqueles e naquilo que constantemente e afincadamente criticam negativamente. Na sua leitura e análise à realidade conseguirem aportar sinais de esperança (real) à Guarda, fugindo ao modo do comentador como figura de reprodução, de eco, de reacção, de reflexo a…
Uma espécie de desafio retórico, sem o ser!..
Suscitações. somente. isso.

quinta-feira, 13 de março de 2025

Sugestão de leitura

Um clássico da banda desenhada. Todos. A ler e reler.

 

terça-feira, 11 de março de 2025

domingo, 9 de março de 2025

Reditos

 Do lugar onde estou já fui embora- Manoel de Barros

sábado, 8 de março de 2025

Gentes de Cá

Vanessa; Maria dos Anjos; Beatriz
(Mãe e filhas)


 

quinta-feira, 6 de março de 2025

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Gentes de Cá

A Vilamendense Sra. Angelina Gonçalves aos 91 anos, feitos há dias.
Aqui, com a filha Arlete, o neto Telmo e os bisnetos Eduardo e Francisca.

 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Respiros

e ecoa como que uma tristeza do pensamento ao saber onde já não é...

 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

o Conhecimento e as Elites (e a Guarda)

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 13 de Fevereiro)

Desde sempre (provavelmente para sempre) o conhecimento humano e o seu avanço, as conquistas técnicas, estéticas, científicas e todo um conjunto de coisas extraordinárias de que dependemos enquanto civilização, foram feitos à custa de uns poucos. A esmagadora maioria das pessoas- antes, agora- não contribuem com quase nada para tal. Limitamo-nos a ser receptores (de algum modo passivos) e a beneficiar da brilhantez de uns quantos ao longo da história da humanidade.
E porque é que isso acontece? Qual o papel da natureza e da cultura em tal? Quais os papéis (e quais as combinações desses papéis) da herança genética, dos factores económicos, sociais, geográficos na composição das capacidades humanas? A educação pode fazer com que muitos outros possam aceder e produzir um nível mais elevado de conhecimento, mas até que ponto? O “politicamente correcto” em que vivemos assolados, quase que atolados não nos deixa ter um debate sério e profundo sobre tais questionamentos.
O certo é que só a elite das elites chega ao limiar do desempenho superior e transforma verdadeiramente o mundo enquanto civilização: para o bem, tantas vezes para o mal. A maioria dos seres humanos irá escolher as telenovelas e sucedâneos em vez de Ésquilo, Kant ou Pessoa, ou… Irá sacralizar o futebol, os “influencers”, as redes (in)sociais e suas figuras mediáticas e medianas até aos píncaros; e o pensamento profundo, diferenciador e revelador será visto como algo distante, risível, senão ameaçador…
(Numa catástrofe hipotética em que toda a humanidade fosse atingida e em que se perdesse todo esse de legado de conhecimento, tecnológico por exemplo, que seria de nós? Conseguiríamos nós, pessoas comuns, recomeçar e aportar conhecimento a partir do quase nada?)
De facto- embora agora noutra dimensão, mais perceptível e mais nossa- também Portugal tem as suas elites. E são elas que nos conduzem e nos conduziram até aqui. São elas as responsáveis por estarmos como estamos (bem ou mal é outra questão). São elas que, apesar de serem autodestrutivas em e entre si, promovem e operam desenvolvimento do país. Sem elites as sociedades seriam inconcebíveis face à natureza humana. Quer queiramos quer não, beneficiamos dos que estão no poder, dos que fazem poder (embora muitas vezes soframos com esse domínio, infelizmente).
Esta análise não desresponsabiliza a maioria dos cidadãos “normais” nas suas virtudes, defeitos e papéis; e até na coragem para aguentar essas mesmas elites; em instância última, estas germinam do todo que é a sociedade. E se as elites moldam a população em geral, também esta os pode moldar e condicionar a eles… para melhor (?)…
E na Guarda? Existem elites? Em que áreas se destacam? Conseguimos dar-lhes nomes? O que fazem? Fazem? Como operam? Operam? Na penumbra? São transformativas? São limitativas (até com elas próprias)? Na Guarda, as elites são?!.
Indagações. somente. (tudo)isso.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Sugestão de leitura

Um clássico adaptado para banda desenhada. O preto e branco muito bem dominado... fiel à história. A linha ténue entre a tenacidade e a loucura, ou a raiva ou ambas, aqui bem expressa.

 

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Reditos

 Querer-se livre é também querer livres os outros- Simone de Beauvoir

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Respiros

Queremos estar sempre além. Quase nunca aqui. E o além fica sempre aquém...

 

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Reditos

Exausto de si mesmo
e do excesso de sentir

Maria Teresa Horta. (Eu Sou a Minha Poesia)

domingo, 16 de fevereiro de 2025

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

realidade(s). o perceber (d)o mundo

(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 30 de Janeiro)

A realidade o que é? A realidade é? A realidade, o mundo poderão ser uma construção da nossa consciência, como que um assombro subjectivo: tal como as cores que estão em nós e não nos objectos? Que diálogo se estabelece (e cada um estabelece) entre a visão ávida de surpresa e a consciência eternamente insatisfeita e em alerta pela percepção? Que barreira, que cortina inultrapassável separa cada ser humano das percepções que os outros indivíduos obtêm dos mesmos objectos, das mesmas coisas, do mesmo mundo (da mesma realidade?)?
E poderíamos continuar com outras perguntas tais que originariam respostas mais (se as houver!). Talvez como certo, só uma ténue certeza de que a realidade se estrutura de múltiplas realidades, portanto de novos e surpreendentes e inusitados pormenores que vamos encontrando à medida que estamos expostos à Coisa-mundo…
((Abrindo aqui um grande parênteses – e quase como um despropósito que adveio agora alardeadamente ao pensamento e não se desassoma - particularizando e reflectindo na realidade política, poderíamos quase classifica-la como: a realidade do (real) fingimento. Da política nacional à política local assentam muito no fazer de conta. Muitos dos políticos fingem que se interessam pelos cidadãos e fingem tão completamente que se convencem (e convencem tantos) que o seu interesse é substantivo e substancial; colocando-se num estado em que a ficção e o real se entremeiam de tal forma que se tornam quase indissociáveis- actores em potência, ou de facto, ou!..
Os cidadãos, nas suas profusas (infelizmente não muito profundas) análises à polis já não fingem tanto e censuram sem piedade as muitas ficções e enredos que se lhes apresentam; de forma geral, pois quando em contacto directo com os eleitos ou candidatos, os sorrisos e os cumprimentos desdobram-se em reverências… Muitos dos políticos acham, de algum modo, o comum dos eleitores inferiores, uma maçada necessária! Estes acham aqueles hipócritas, no mínimo. Portanto, estão todos em estreita comunhão… na dissimulação.
E a realidade (alocada à verdade!) vai-se desconstruindo numa miríade de percepções de percepções. de impressões. de sensações. Normalmente negativas e catastrofistas.
Ainda assim, neste contínuo exercício de fingimento nem todos se envolvem ou deixam envolver e é por isso, se calhar, que ainda não vivemos num quase simulacro da realidade e da realidade de si, enquanto sociedade e enquanto indivíduos; ou vivemos?!.))
Fechando agora o grande parênteses, talvez a realidade ou as realidades nos advenham da experiência do que se passou, do que aconteceu “lá fora”, no mundo, e evocada “cá dentro”, na consciência, se estabeleça uma troca, uma interacção permanente entre a consciência do Eu e o pensar o Mundo… Será que é o Ver que dá origem ao Perceber (entendido como o trazer, o passar do “lá fora” para a consciência) que possibilita o Pensar?
Talvez o reflectir- que analisa demoradamente e em silêncio as coisas a partir de um eixo, de um centro interior primordial- seja profundamente subjectivo, e nessa subjectividade, qualquer reflexão, seja improvável transmiti-la ao outro; como se os olhos e os “olhos” do pensamento formem em si mesmos uma certeza última, sólida, diferente e, tantas vezes, oponente da do outro; e impossível de deslocar para fora de si essa “verdade” vivida e (re)confirmada no mais íntimo do ser: uma visão pessoal, individual da presença no mundo e da evidência do mundo que traz, e faz, prova (ontológica) do Ser. da Existência. da Realidade como tal… não se podendo transferi-la para um outro. Talvez.
O eu (entretecido) no mundo que se exprime e consubstancia a partir do Eu-mundo?
(e a Guarda- e Vila Mendo- e a realidade de si?)
Indagações. somente. isso.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Reditos

No tear do tempo tecemos a manta (de retalhos) da vida- Goethe (Fausto)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Expressões



José Domingos

Duas pinturas do nosso conterrâneo e amigo Vilamendense.

 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

momentos

(Victor Soares- Chichorro)
estralejo 
entoado 
ressoa 
(d)a 
panela e 
entranha-
se 
o Tom 
dos sabores,
os saberes 
dantes.
dantes