sexta-feira, 19 de abril de 2013

Entrevista- Padre Ângelo


                         
Quem é o Padre Ângelo?
Uma pessoa de 31 anos que se colocou e, todos os dias, coloca ao dispor de Deus para servir aqueles e aquelas que estão ao seu redor. Uma pessoa que tem como ideal deixar-se seduzir todos os dias pela Palavra de Deus e vive-la todos de coração e braços abertos. Uma pessoa que acredita que a vida sem palavras sentidas e pensadas não é vida verdadeira. Uma pessoa que acredita que as obras valem mais muito e que o amor vence tudo. Uma pessoa que, apesar de por vezes abrandar no sorriso, quer aprender todos os dias a sorrir e a ser e dar esperança aos que precisam e a procuram. Uma pessoa que tem como Mestre o Senhor Jesus.
Como foi o despertar da tua vocação?
Não foi um “clik”. Foi um conjunto de circunstâncias que fez descobrir e aumentar a fé, solidificar as decisões e continuar a descobrir os caminhos. A família teve e continua a ter um papel fundamental, mas também todos os que são desafiadores da vocação como tsunamis devastadores e como águas tranquilas.
Sendo um Padre novo, de que maneira pensas que as pessoas te olham? O que achas que elas esperam de ti?
Respondo de coração aberto. Houve tempos em que tinha uma preocupação extrema com o que os outros pensariam de mim, mas neste momento não tenho esse pensamento e muito menos essa preocupação. Sei que se espera muito do padre. Que o padre seja isto ou aquilo e que seja desta maneira ou daquela. Que seja à imagem e semelhança de cada um. E esta é a maneira que eu não me quero tornar: a imagem e semelhança de cada um e da vontade de cada um. Por opção eu quero ser a imagem e semelhança de Deus e seguir a Sua vontade. E é isto que todos devem esperar de mim. Que eu siga a vontade de Deus. Se alguma vez eu não o esteja a conseguir fazer quero que, no espírito da correção fraterna dos cristãos, alguém tenha a humildade de se aproximar de mim e dizer-me.
O que é ser padre hoje, tendo em conta que a sociedade apresenta sinais evidentes de uma laicização galopante a todos os níveis? Aliás, faz sentido ser padre hoje? Faz sentido “carregar essa cruz” que é levar a Boa Nova, a mensagem de Jesus a um mundo que às vezes, parece, não estar receptivo, pelo contrário?
Ser padre faz sentido sempre. Ser padre é estar disponível para servir e para amar a todos.  Um amor que se faz doação e que se faz orientação na vida. “Dar-se por amor” compreende-se. Aceitar orientação segundo o amor de Deus, já não se aceita tanto. Talvez, digo eu, esteja aqui uma das causas da laicização: não aceitar o amor de Deus. Fruto provável de uma ignorância religiosa a que as comunidades foram votadas durante décadas. Sabe bem iniciar caminhos novos de anúncio, em que se redescobre a essência do ser cristão e de Deus que se revela em Jesus e se torna presente no Espírito Santo. Esta é a cruz que vale a pena “carregar”, mas que ainda poucos cristãos não estão entusiasmados a pegar e levantar bem alto.
Qual a tua perspectiva em relação a alguns temas polémicos como o celibato dos padres, a ordenação de mulheres ou o uso do preservativo?
Porque são polémicos deixo-os para serem tratados noutros ambientes e para que as minhas palavras escritas não sejam mal interpretadas. Digo simplesmente: são orientações e todos somos livres de as aceitar ou não. No assunto que me diz respeito eu aceitei-o e tenho-o aceitado. Foi a minha opção.
Quais as  tuas expectativas em relação ao Papa Francisco?
Um homem que usa palavras simples e diretas para que todos compreendam a essência da beleza de Deus e do que é a religião. Não tem medo de tratar as coisas pelo nome. Pelo que parece, é de uma “frescura” e “acutilância” de palavras que agrada muitos e não agrada alguns. Neste ainda curto espaço de tempo do pontificado os seus gestos têm mostrado que a aproximação e a simplicidade são os melhores meios de comunicar o amor de Deus e não há que ter medo disso.
Muitos pensarão que o papel do padre é “dizer missa” e pouco mais. Achas que isso não resultará (à parte da falta de vocações) de uma falta de estratégia diocesana no que concerne à pastoral como tal, e isto não será consequência da não realização de um sínodo diocesano, há tanto desejado, que pense, oriente, balize e concretize toda a acção pastoral e não só?
Uma questão muito pertinente, tendo em conta o serviço que ocupo na diocese enquanto coordenador pastoral da zona centro. Muitos e muitas reduzem a atividade do padre a celebrar a missa e senão há missa é sinal que “o padre não faz nada” ou então “já não temos na terra”. Isto é fruto de uma falta de abertura dos padres a fazerem outras atividades e falta de coragem (ou vontade) de consciencializar as comunidades para uma Igreja que se reúne para a Eucaristia, mas também para muitas outras coisas: catequese, caridade, convívio, e mais recentemente para os grupos bíblicos.
Desde 2007 que foi lançado o desafio que cada Arciprestado tivesse um Conselho Pastoral Arciprestal. Este Conselho é constituído por um representante leigo de cada paróquia que, em diálogo com os representantes das outras paróquias e os padres do arciprestado, programam e orientam a pastoral do Arciprestado. O primeiro CPA criado foi o do nosso Arciprestado do Rochoso cuja representante da nossa paróquia é a D. Maria da Graça Amarelo. Já se reuniu por 9 vezes. Neste momento a Diocese já tem mais alguns criados e o programa pastoral a ser debatido brevemente para os próximo anos pastorais de 2013 a 2017 vai contemplar esta estrutura, bem como o Conselho Pastoral Diocesano (no qual o nosso Arciprestado tem um representante eleito de entre os representantes de todas as paróquias). No ano de 2017 vai haver Assembleia de representantes onde serão refletidos e apresentadas orientações pastorais concretas para a Diocese. Estas Assembleias de representantes terão a preparação anterior de 3 etapas concretas em que todos os intervenientes vão revisitar documentos do Concílio Vaticano II. Não para lembrar, mas para insuflar o espírito do Concílio nos tempos de hoje.
Se me perguntam se esta estratégia chega?  Não sei. Mas já é alguma coisa para que se tomem algumas decisões pastorais que comprometam a Igreja enquanto Igreja Diocesana.
Focalizando a tua acção e o exercício do teu ministério na Paróquia de Vila Fernando, o que aspiras, com o teu apostolado, conseguir com estas nossas gentes?
Na nossa paróquia,… nas nossas gentes,… a minha única aspiração é conseguir mostrar quem é Deus e o que faz o amor de Deus no coração da humanidade. Penso que na vida de alguns e algumas isso tem sido conseguido. Mas não há fórmulas mágicas. Se todos nos deixarmos mais inebriar pela Palavra, depois conseguiremos conviver melhor uns com os outros. Este é o caminho!
Como vês a Paróquia de Vila Fernando, logo a freguesia em termos políticos, económicos, culturais, sociais e associativos? Qual o teu relacionamento com a sociedade civil da freguesia?
Nunca entrei por caminhos políticos nem vou entrar agora. Mas a nossa freguesia padece de ter muitos lugares (anexas) o que faz com que haja uma desfragmentação e uma certa “desunião”. Não em tom de crítica destrutiva, mas construtiva, seria melhor haver um espírito de unidade entre alguns e entre todos. Vivemos na mesma terra e só na unidade é que crescemos em sabedoria, cultura e sociedade.
Que projectos seriam, na tua óptica, importantes para o desenvolvimento da freguesia? De que maneira a Igreja, que tu representas, pode ajudar?
Vila Fernando está a três passos da cidade. Isso há uns tempos atrás significava mais do que agora, mas ainda significa alguma coisa hoje. Diria duas coisas que poderiam ser pensadas a curto prazo e que acho já estarem a ser dialogadas: habitação e qualidade de vida.
A comunidade cristã está de portas abertas, como sempre esteve, para acolher, dialogar e viver em prol da dignidade da vida humana.
Que te diz Vila Mendo?
Uma das localidades da freguesia que demonstra ter uma grande vitalidade através de um conjunto de pessoas que mantém a sua ligação afetiva à terra que os viu nascer e crescer. Vila Mendo é sinónimo de movimentação, paixão pela terra e de tantas outras coisas que andam sobre “rodas”… Mas também é sinónimo de fé. Não posso esquecer que um dos testemunhos de fé mais impressionantes que já conheci até hoje, foi em Vila Mendo.
Como te imaginas daqui a 30 anos? 
Não imagino
Queres deixar uma mensagem aos teus paroquianos?
Nunca percam a esperança. Deus sorri sempre para vós. Quando as forças estão em alta é Ele que voz mantém em cima, quando as forças estão em baixo é Ele que vos tenta levantar do fundo do poço. Confiem  n’Ele. Sejam verdadeiros uns com os outros. Em tudo e sempre coloquem o vosso coração e a felicidade brotará espontaneamente. 

9 comentários:

Anónimo disse...

Interessante

Anónimo disse...

sr.padre, tem de vir mais vezes a vila mendo!!!

Anónimo disse...

Vila Mendo a paróquia, já.

Anónimo disse...

boa entrevista mas um pouco espiritual demais, talvez..

Júlio Manuel Antunes Pissarra disse...

Em termos gerais, gostei da entrevista ao Sr. Padre. É sempre interessante conhecer, o Padre da nossa Paróquia, um pouco para além da Missa que nos oferece ao Domingo. Penso, no entanto, que temas como o Aborto, o Celibato dos Padres, o uso do Preservativo ou a Ordenação das Mulheres deveriam ter sido mais aprofundados.
Abraço a todos, especialmente ao Sr. Padre.

Anónimo disse...

Gostei da entrevista, padre Angelo. Assisto a missas suas sempre que me desloco à minha terra. Considero- o diferente dos outros padres que por aí passaram, mais dinâmico, mais próximo das crianças e jovens, mais proativo. No entanto, humildade e simpatia não são suas características. Felicidades.

Anónimo disse...

Vila Mendo a paróquia?Não imagino o porquê deste testemunho.
Porquê!!Uma pequena aldeia com poucos habitantes que são alguns mais em fins de semana e que residem na Guarda.
São opiniões que valem o que valem

Anónimo disse...

Os anos passam,o Padre Ângelo hoje mais maduro .
Nunca vire as costas quando alguém gostaria de o interpelar, de estabelecer uma conversa consigo de lhe dar um cumprimento afável.
Pense que quantos gostariam da sua palavra amiga senti-lo como o seu Pastor .
Sei que o tempo escassa e sua atividade é muito dispersa mas um bom dia, um olá para os que passam por si é tão importante e isso já eu o senti pessoalmente.
Não residindo na freguesia sinto-me como se fosse residente.
É a minha Terra onde nasci e cresci e o padre da minha freguesia de origem é o Padre Ângelo como já foram outros que partiram.
Seja simples como Jesus.Mantenha um sorriso com amor ao próximo .
Bom dia Padre Ângelo

Anónimo disse...

Boa tarde Padre Ângelo.Após leitura de comentários anónimos de há alguns anos ,relativos a Sua pessoa quero dizer-lhe que relativamente à sua maneira de estar ainda não conseguiu olhar de igual para todos os irmãos em Cristo.Não vou com muita frequência à minha querida aldeia-Vila Fernando mas quando vou já tentei mais que uma vez olhar de frente para a sua pessoa com sinal de cumprimento e não tive a possibilidade de como irmão em Cristo poder receber o mesmo sinal de sua parte.
Fiquei triste porque tenho relativamente à nossa igreja vontade de poder colaborar em ajuda para o bem comum.da nossa igreja.
Agradeço que quando eu puder e aí me deslocar, seja com a sua palavra e um olhar de frente na companhia do meu amigo de sempre, Carlos Alberto ,da Comissão Frabriqueira da nossa igreja eu me identificar e o padre Ângelo saber que qq.irmao merece um cumprimento e não um virar de costas.
Obrigado