sexta-feira, 12 de abril de 2013

estórias da Terra- Júlio Antunes Pissarra


As Calças.
Era um, quente, final de tarde de Agosto dos saudosos anos 80. Terminado mais um árduo dia de trabalho a “malta” de Vila Mendo juntou-se aos “tanques” para uma alegre cavaqueira, saciar a sede e aliviar o calor, com a refrescante água do nosso Chafariz. Nesses tempos quer fosse fim-de-semana ou meio da semana, praticamente todas as noites concluíam na Discoteca da moda [“Night and Day”- Alto de Pêga].
Quem vai, quem não vai…! Eu, o meu Amigo e Primo Zé Gonçalves e o meu Amigo (agora também Primo) Víctor Soares decidimos ir! Depois de jantar, e chegada “a” hora, aí vamos nós para a “noite”! A viagem realizou-se numa carrinha de transporte de gado que pertencia ao meu Tio José Marques (pai do Zé). Chegados à Porta, da Discoteca, deparámo-nos com um problema:
- Zé, o teu primo vem de Calções, não pode entrar! – disse o Porteiro.
- Então porquê? – questionou o Zé.
- São regras da Casa! - respondeu o funcionário.
- Mas já vi aí dentro várias Mulheres de Calções! – disse eu.
- Mas com as mulheres é diferente!!! – exclamou o Porteiro.
- Esta é boa! Vimos de Vila Mendo, chegamos aqui, e não entramos?! – respondeu o Víctor.
Depois de duras negociações nem com a grande influencia que o Zé detinha, nesta Discoteca, conseguimos entrar. Então para não prejudicar os meus amigos sentenciei:
- Entrai vós, eu vou para a Carrinha dormir!
Aí o Zé foi perentório:
- Não, ou entramos todos ou nenhum!
- Vamos embora! Não estamos aqui a fazer nada! – disse o Víctor.
Aquilo que se ia tornar numa alegre noite estava-se a transformar num pesadelo. Na curta viagem para a Carrinha os três amigos mostravam a sua indignação e surpresa pelo sucedido. Mas será que tudo estava perdido…?
Quando entrávamos para o nosso meio de transporte, o Víctor disse:
- Zé, por vezes os teus irmãos trazem umas Calças, suplentes, para carregar e descarregar o gado. Vê lá se há por aí algumas!
Depois de breve busca, o Zé, carregado de felicidade, exclamou:
- Olha aqui uma Calças!!! Há! Há!
…e bonitas que elas eram!!! Cor bege, feitas de Fazenda da primeira qualidade, vincadas e com umas elegantes pregas! Mas o desejado objeto de roupa não tinha, nesse dia, as condições mínimas para entrar no referido espaço noturno. Estava completamente amarrotado, cheio de grandes nódoas e abarrotava de sujidade seca (vulgo *M…) inerente ao trabalho que ajudava a desenvolver. Mas era o que havia…!
- Experimenta lá as Calças! – disse o Zé.
Quando as experimentei reparámos que me ficavam demasiado curtas, mas rapidamente solucionámos o problema. Fiz uma espécie de dobra, que dava o efeito de bainha, e assunto resolvido.
- Assim não me deixam entrar! – exclamei.
O Zé respondeu:
- Então não queriam umas Calças? Já as tens vestidas! Vamos embora!
Depois de muitas gargalhadas tocámos à campainha da Discoteca. A porta abre-se e o Zé dirige-se, apontando para mim, ao Porteiro e diz:
- Agora já pode entrar?!
O Porteiro, com um sorriso de espanto perante o cenário que tinha à sua frente, não sobe o que responder. Então o Víctor sentenciou:
- Não querias que o rapaz vestisse umas calças?! Aí as tens!!!
Resignado e espantado, o porteiro, não teve outra alternativa.
– Sim… agora pode entrar… mas…, senta-se lá a um canto. Pode parecer mal!
- Para me sentar a um canto prefiro não entrar! – respondi.
Entrado na Discoteca assumi a postura normal que sempre tinha quando frequentava esse espaço. O Zé logo fez questão de publicitar a situação e, com o seu sorriso matreiro, dirigiu-se às minhas primas Guida e Paula que, também, diariamente frequentavam esta Discoteca:
- Já vistes o vosso primo? – Não – responderam. – Mas porquê?!
- Ide procurá-lo e depois dizei alguma coisa!
As minhas primas quando me encontraram ficaram estupefactas.
- Hhááá!!! – disse a Guida. – A minha alma está parva!!! – exclamou a Paula.
Explicada a situação terminámos todos em enormes gargalhadas. Ao mesmo tempo questionávamos o porquê de não poder aceder, à Discoteca, com uns adequados calções e poder faze-lo com aquelas originais Calças!
Com muita dança e saudável convívio assim decorreu uma das noites mais divertidas da minha juventude! Importa realçar que nunca mais, até hoje, me senti tão observado como nessas “porreiras” horas!

                                                                   Júlio Manuel Antunes Pissarra

2 comentários:

Anónimo disse...

Tive mesmo de me rir a ler tão hilariante história!! Só mesmo com o pessoal da Vila Mendo. Excelente Blogue.

Anónimo disse...

Só mesmo em vila mendo.
:))