As Calças.
Era um, quente, final de tarde de Agosto dos
saudosos anos 80. Terminado mais um árduo dia de trabalho a “malta” de Vila
Mendo juntou-se aos “tanques” para uma alegre cavaqueira, saciar a sede e
aliviar o calor, com a refrescante água do nosso Chafariz. Nesses tempos quer
fosse fim-de-semana ou meio da semana, praticamente todas as noites concluíam
na Discoteca da moda [“Night and Day”- Alto de Pêga].
Quem vai, quem não
vai…! Eu, o meu Amigo e Primo Zé Gonçalves e o meu Amigo (agora também Primo) Víctor
Soares decidimos ir! Depois de jantar, e chegada “a” hora, aí vamos nós para a “noite”!
A viagem realizou-se numa carrinha de transporte de gado que pertencia ao meu
Tio José Marques (pai do Zé). Chegados à Porta, da Discoteca, deparámo-nos com
um problema:
-
Zé, o teu primo vem de Calções, não pode entrar! – disse
o Porteiro.
-
Então porquê? – questionou o Zé.
-
São regras da Casa! - respondeu o funcionário.
-
Mas já vi aí dentro várias Mulheres de Calções! – disse
eu.
-
Mas com as mulheres é diferente!!! – exclamou o Porteiro.
-
Esta é boa! Vimos de Vila Mendo, chegamos aqui, e não entramos?! – respondeu
o Víctor.
Depois de duras
negociações nem com a grande influencia que o Zé detinha, nesta Discoteca,
conseguimos entrar. Então para não prejudicar os meus amigos sentenciei:
-
Entrai vós, eu vou para a Carrinha dormir!
Aí o Zé foi perentório:
-
Não, ou entramos todos ou nenhum!
-
Vamos embora! Não estamos aqui a fazer nada! – disse
o Víctor.
Aquilo que se ia tornar
numa alegre noite estava-se a transformar num pesadelo. Na curta viagem para a
Carrinha os três amigos mostravam a sua indignação e surpresa pelo sucedido.
Mas será que tudo estava perdido…?
Quando entrávamos para
o nosso meio de transporte, o Víctor disse:
-
Zé, por vezes os teus irmãos trazem umas Calças, suplentes, para carregar e
descarregar o gado. Vê lá se há por aí algumas!
Depois de breve busca,
o Zé, carregado de felicidade, exclamou:
-
Olha aqui uma Calças!!! Há! Há!
…e bonitas que elas
eram!!! Cor bege, feitas de Fazenda
da primeira qualidade, vincadas e com umas elegantes pregas! Mas o desejado
objeto de roupa não tinha, nesse dia, as condições mínimas para entrar no
referido espaço noturno. Estava completamente amarrotado, cheio de grandes
nódoas e abarrotava de sujidade seca (vulgo *M…) inerente ao trabalho que
ajudava a desenvolver. Mas era o que havia…!
-
Experimenta lá as Calças! – disse o Zé.
Quando as experimentei
reparámos que me ficavam demasiado curtas, mas rapidamente solucionámos o
problema. Fiz uma espécie de dobra, que dava o efeito de bainha, e assunto
resolvido.
-
Assim não me deixam entrar! – exclamei.
O Zé respondeu:
-
Então não queriam umas Calças? Já as tens vestidas! Vamos embora!
Depois de muitas
gargalhadas tocámos à campainha da Discoteca. A porta abre-se e o Zé dirige-se,
apontando para mim, ao Porteiro e diz:
-
Agora já pode entrar?!
O Porteiro, com um
sorriso de espanto perante o cenário que tinha à sua frente, não sobe o que
responder. Então o Víctor sentenciou:
-
Não querias que o rapaz vestisse umas calças?! Aí as tens!!!
Resignado e espantado,
o porteiro, não teve outra alternativa.
–
Sim… agora pode entrar… mas…, senta-se lá a um canto. Pode parecer mal!
-
Para me sentar a um canto prefiro não entrar! – respondi.
Entrado na Discoteca
assumi a postura normal que sempre tinha quando frequentava esse espaço. O Zé
logo fez questão de publicitar a situação e, com o seu sorriso matreiro,
dirigiu-se às minhas primas Guida e Paula que, também, diariamente frequentavam
esta Discoteca:
-
Já vistes o vosso primo? – Não – responderam. – Mas porquê?!
-
Ide procurá-lo e depois dizei alguma coisa!
As minhas primas quando
me encontraram ficaram estupefactas.
-
Hhááá!!! – disse a Guida. – A minha alma está parva!!! – exclamou a Paula.
Explicada a situação
terminámos todos em enormes gargalhadas. Ao mesmo tempo questionávamos o porquê
de não poder aceder, à Discoteca, com uns adequados calções e poder faze-lo com
aquelas originais Calças!
Com muita dança e
saudável convívio assim decorreu uma das noites mais divertidas da minha
juventude! Importa realçar que nunca mais, até hoje, me senti tão observado
como nessas “porreiras” horas!
Júlio
Manuel Antunes Pissarra
2 comentários:
Tive mesmo de me rir a ler tão hilariante história!! Só mesmo com o pessoal da Vila Mendo. Excelente Blogue.
Só mesmo em vila mendo.
:))
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