Andava na 3ª ou 4ª classe (não sabe precisar) e invariavelmente depois da escola passava por casa da sua bisavó Purificação Lopes para entretida e paulatinamente transcrever os versos, as quadras e os poemas; as lenga-lengas, as rezas e as estórias para um caderno que guarda religiosamente, mas de que já não encontra uma parte, embora a procure furiosamente uma e outra vez. Recorda com uma saudade nostálgica esses momentos... recorda a ternura e a paciência com que a bisavó esperava que ela escrevesse tudo... recorda as explicações às palavras que não compreendia e que ela aturadamente explanava... Falamos da Paula Pereira que nos deixa, hoje, "Aprender os números a cantar".
O número um estava a dormir,
O dois a dormir também.
Foi chamar o três a Belém,
O quatro não quis lá ir.
O cinco começou-se a rir,
Do seis tocar alvorada
O sete com muita força armado
Mete o oito num castelo.
O nove foi-se queixar ao Melo,
No dez deu uma facada.
O onze com uma bebedeira
Ao doze rogou uma praga.
O treze deu uma descarga
No catorze por brincadeira,
O quinze com tal cegueira
Chamou pelo dezasseis zangado.
O dezassete todo escamado
Do dezoito não querer falar
O dezanove com vontade de dar
O vinte que estava deitado
Vinte e um toca a rabeca
Vinte e dois o cavaquinho
Vinte e três é o careca
Mete o vinte e quatro num cantinho
Vinte e cinco paga o vinho
E o vinte e seis lá lhe o mando.
O vinte e sete petisca o frango
O vinte e oito faz o que quer
Vinte e nove toca a saltar
E o trinta baila o fandango.
O trinta e um é merceeiro
Trinta e dois augadeiro
O trinta e três é taberneiro
O trinta e quatro não tem dentes
Trinta e cinco toca os tranquetes
E trinta e seis é seu criado.
Trinta e sete todo admirado
Do trinta e oito jogar barra
E o trinta e nove toca guitarra.
E o quarenta bate o fado.
Bate o fado, bate o fado, bate o
fado com franqueza,
eu já
ouvi bater o fado, nas quatro quinas da mesa.
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