domingo, 24 de dezembro de 2017

É Natal

Nos longos serões dos invernos frios e austeros de antanho, as famílias reunidas ao redor da lareira reflectiam o dia, projectavam o amanhã, transmitiam conhecimentos, contavam histórias e estórias que os mais pequenos bebiam sofregamente…
Desses momentos, há tanto para contar… mas, e porque estamos em época de (re)nascimento, o António Júlio Corte Gonçalves deixa-nos aqui “É Natal”.
Aproveitamos também para desejar, a todos em geral e aos Vilamendenses (e amigos de Vila Mendo) em particular, votos de Festas Felizes e que cada qual possa ser agente transformador no seu “mundo”.

Caía a neve no despir dos arvoredos
e um rapazinho, muito unido nas suas vestes,
mostrava a outro uma mão cheia de brinquedos
que o Bom Jesus lhe fora pôr na chaminé.

- Olha para isto! É tão lindo o que eu achei:
este cavalo, esta carroça, este carrinho…
Hoje é Natal e de manhã quando acordei
tinha tudo isto no meu sapatinho.

Então responde o outro rapaz a soluçar,
amarfanhando um lenço velho em seus dedos:
- Pois se eu não tenho sapatinhos para calçar,
como podia o Bom Jesus dar-me brinquedos?

-Não tenho pai, não tenho mãe, não tenho nada…
Vivo sozinho com a venda dos jornais;
Durmo num banco, num portão, numa escada
e a vida tem destes pequenos vendavais.

- Não digas mais, tuas palavras comoveram meu coração-
lhe disse o outro rapazinho.
Toma metade dos brinquedos que me deram
e então ficarás mais contentinho.

Se esta acção generosa dos gaiatos
no mundo inteiro fosse imitada,
não haveria tantas lutas, desacatos
e a Terra inteira viveria descansada.




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