Nos longos serões dos invernos frios e austeros de antanho, as famílias reunidas ao redor da lareira reflectiam o dia, projectavam o amanhã, transmitiam conhecimentos, contavam histórias e estórias que os mais pequenos bebiam sofregamente…
Desses momentos, há tanto para contar… mas, e porque estamos em época de (re)nascimento, o António Júlio Corte Gonçalves deixa-nos aqui “É Natal”.
Aproveitamos também para desejar, a todos em geral e aos Vilamendenses (e amigos de Vila Mendo) em particular, votos de Festas Felizes e que cada qual possa ser agente transformador no seu “mundo”.
Caía
a neve no despir dos arvoredos
e um
rapazinho, muito unido nas suas vestes,
mostrava
a outro uma mão cheia de brinquedos
que
o Bom Jesus lhe fora pôr na chaminé.
-
Olha para isto! É tão lindo o que eu achei:
este
cavalo, esta carroça, este carrinho…
Hoje
é Natal e de manhã quando acordei
tinha
tudo isto no meu sapatinho.
Então
responde o outro rapaz a soluçar,
amarfanhando
um lenço velho em seus dedos:
-
Pois se eu não tenho sapatinhos para calçar,
como
podia o Bom Jesus dar-me brinquedos?
-Não
tenho pai, não tenho mãe, não tenho nada…
Vivo
sozinho com a venda dos jornais;
Durmo
num banco, num portão, numa escada
e a
vida tem destes pequenos vendavais.
-
Não digas mais, tuas palavras comoveram meu coração-
lhe
disse o outro rapazinho.
Toma
metade dos brinquedos que me deram
e
então ficarás mais contentinho.
Se
esta acção generosa dos gaiatos
no
mundo inteiro fosse imitada,
não
haveria tantas lutas, desacatos
e
a Terra inteira viveria descansada.
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