Andava na 3ª ou 4ª classe (não sabe precisar) e invariavelmente depois da escola passava por casa da sua bisavó Purificação Lopes para entretida e paulatinamente transcrever os versos, as quadras e os poemas; as lenga-lengas, as rezas e as estórias para um caderno que guarda religiosamente, mas de que já não encontra uma parte, embora a procure furiosamente uma e outra vez. Recorda com uma saudade nostálgica esses momentos... recorda a ternura e a paciência com que a bisavó esperava que ela escrevesse tudo... recorda as explicações às palavras que não compreendia e que ela aturadamente explanava... Falamos da Paula Pereira que nos deixa, hoje, "Isaurinha".
No dia 31 de Março
Óh dia tão fatal,
Mataram-se dois amantes
Por os não deixarem casar
Começaram de crianças
Na escola a namorar
Da idade de quinze anos
Tratou de a enganar
Seu pai assim que soube
Que a tinha enganado
Foi metê-lo na cadeia
Da polícia acompanhado
Eram dez horas da noite
Isaurinha à cadeia estava
- “Arrombem-se essas grades
E dêem-me para lá entrada"
Manuel assim que a viu
Começou logo a chorar
Chamou pelo carcereiro
Que se queria confessar
- “Vai-te embora Isaurinha
Que já está a amanhecer
Olha que se o teu pai o sabe
Sepultura te vai fazer”
- “Manuel se tu morreres
Eu também me hei-de matar
Ficamos os dois numa campa
Os caixões de par a par”
Tinha um pai tão cruel
Que aos pés dele a fez deitar
- “Antes te quero ver morta
Do que tu com o Manuel casares”
Ela foi-se para o seu quarto
Foi-se a pôr logo a pensar
Deitou-se da janela para baixo
Em pedaço foi ficar.
Sua mãe quando o soube
Estava ao cimo da rua
- “Isaurinha minha filha
Triste sorte foi a tua”
Chora a mãe de Manuel
Causa pena e dá dor
- “Manuel era o meu filho
Isaurinha o seu amor”
Pais e mães que tenhais filhas
Nisto podeis reparar
Em vos falando em casamentos
Deixai-as logo casar
Sem comentários:
Enviar um comentário