(Publicado originariamente na edição do Jornal A Guarda do dia 24 de Outubro)
Existem ambiências para todos os gostos e feitios, de tipologias díspares e ímpares; ambiências saudáveis, nem tanto, ou nada recomendáveis.
Com interesse ou sem ele, falamos aqui da ambiência política na Guarda: que é igual à do resto de Portugal. No país, a questão do orçamento de estado é paradigmática e pareceria uma comédia (fraca) não fosse quase que trágica. Tudo é cálculo, tudo é táctica, tudo é espectáculo (teatral, depressivo). O objectivo último: adquirir vantagem estratégica e prática nas sondagens, nos votos, nas eleições próximas ou longínquas, a todo o custo; o resto, que somos todos nós (e até eles, políticos de charneira e de carreira!) não conta; ou pouco.
Na Guarda, a ambiência a mesma. Talvez mais deprimente, claramente inconsequente. Ansiosamente ávida de gente que pense o bem-comum. Triste na mediocridade maldizente. Quem governa faz tudo mal, quem está na oposição tem as melhores ideias que seriam as melhores soluções. Quando os papéis se invertem, o mesmo: ninguém é competente (e às vezes não!).
Entre os políticos de cá (e os que hão-de vir), há uma nuvem de crispação latente que tolda os espíritos e escorrega, vezes demais, para a má-educação com as redes sociais a servirem de eco e difusor na pretensão de se obterem quaisquer vantagens. Pouco respeito institucional e pouco tacto para se encaixar opiniões divergentes, como se a liberdade fosse só dizer tudo o que apetece e como apetece. Estão sempre contra (haverá excepções) os outros; às vezes contra os seus e, com probabilidade, contra si próprios.
As assembleias municipais são… inenarráveis. Além da encenação, poses e tons deprimentes, há uma falta de um vislumbre de bom-senso (nem todos) nas intervenções, nas próprias altercações e até nos silêncios, e na falta de silêncio para escutar. Atrasos, constantes saídas e entradas… uma falta de brio, de zelo que esmorecem a democracia. É mesmo para questionar: o que vai lá fazer alguma dessa gente, dita deputado? Será tão difícil haver consensos estruturantes para a Guarda sem os tradicionais pavoneamentos do “fomos nós que conseguimos” ou do “ não foi conseguido por vossa culpa”? (Pergunta retórica, para não se dizer ingénua…).
Na comunidade guardense propriamente dita, existe uma parte (se calhar significativa) que não quer saber nada destas questões, muito menos das questiúnculas políticas, embrenhada que está na sua vida e nos seus afazeres, passam ao lado de tudo isto (às vezes deles próprios); outra parte, atenta e até interessada, não se imiscui, ouve mais do que fala, tem as suas ideias e posições, normalmente equilibradas, mas não se quer envolver e enredar nestas teias; outra parte, pertence à classe dos fundamentalistas, estão sempre ao lado daqueles que escolheram (?) como seus, independentemente de dizerem ou fazerem coisas producentes à polis; ainda outra parte que é informada, participativa de forma construtiva- infelizmente uma ínfima minoria. Portanto temos os alienados e os destemperados, maioritários; no meio um pequeno número (com tendência a diminuir) de sensatos.
Não admira pois que a 1 ano das eleições autárquicas já haja todo o tipo de movimentações: umas reais, outras potenciais, algumas ilusórias. Ainda assim, e não se tendo informações privilegiadas, uns esperam continuidades e/ou novidades; alguns pensam em regressos; outros anseiam por salvadores… e a Guarda espera… uma esperança real, mas ainda assim uma esperança que lhe devolva um despontar de singularidade, de perenidade…
Falta à Guarda (e se calhar ainda mais) aquilo que falta a Portugal: um pensamento; portanto uma filosofia sólida, primordial capaz de reflexionar e harmonizar o sonho e o mito com a previsão e o planeamento, que alicerce, que ancore uma pedagogia/educação que dê ferramentas para ultrapassar as circunstâncias, as conjunturas, as crises e recrises nacionais, internacionais e assim permita que a acção política seja coerente, constante, consistente, planeada e não uma improvisação de improvisações, por natureza apressada, para a solução de problemas sempre urgentes, sempre pungentes.
Falta 1 ano para as eleições e prevê-se uma ambiência tóxica de guerrilha verborreica; antevê-se uma luta de vontades (próprias ou alheias), de vaidades que desembocarão em quase nulidades, contraproducentes aos interesses da Guarda e de todos nós por inerência.
Resta-nos aguardar. E dentro das nossas possibilidades e habilidades aportar alguns elementos, alguns momentos edificantes e insuflar alguma chama de positividade sonhadora…
A Guarda aguarda e merece. Merecemo-la?!.
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