sexta-feira, 15 de maio de 2020

Entrevista a Paulo Gonçalves Marcos

Paulo Gonçalves Marcos
Presidente da Direção do SNQTB – Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários 
Presidente do Conselho Directivo do SAMS Quadros
Presidente do Conselho de Administração da FSB – Fundação Social Bancária 
Presidente do Conselho Directivo da União dos Sindicatos Independentes (USI) – Central Sindical 
Vice-Presidente dos Conselho Económico e Social (CES) da Região Autónoma da Madeira (RAM) 
Vice-Presidente da Comissão Permanente de Concertação Social do CES da RAM 
Membro do Conselho Económico da Região Autónoma dos Açores (CESA) 
Vice-Presidente da FECEC – Federação Europeia dos Quadros das Instituições de Crédito 
Board Member da CEC European Managers – Confederação Europeia de Quadros 
Colunista no Jornal Económico 
1. Quase trinta anos de experiência no sector financeiro, do qual é quadro superior. Experiência e projectos em área de Marketing, Planeamento Estratégico, Banco de Retalho, Banca Telefónica, Crédito, Compliance, Recursos Humanos, Gestão de Activos e Passivos, Negociação. Com responsabilidades de gestão e liderança em vários continentes. 
2. Professor universitário (1991-2016) na Universidade Católica Portuguesa. Marketing, Business Policy, Estratégia, Marketing Planning, Marketing Research, Thesis Seminar. Programas de Licenciatura, Mestrados, Pós-Graduações e Formação de Executivos. 
3. AMBA – Associação dos Antigos Alunos do MBA da Nova 
a. Presidente da Direção (2013-2016) 
b. Vice-Presidente (2008-2011) 
4. The Lisbon MBA Alumni Club – President (2015-2017) 
5. Autor e co-autor de três livros de cariz técnico (Universidade Católica Editora; Bertrand/Pergaminho) 
6. Licenciatura em Economia (Catolica Lisbon School of Business and Economics), MBA e Mestre em Gestão de Empresas (Nova School of Business and Economics), Programa Doutoral em Ciência Política (IEP UCP) 
7. Prémios e bolsas académicas 
a. Bolseiro Fulbright 
b. Bolseiro de Investigação NOVA SBE/American Appraisal/MAC Group 
c. Prémo Alexis de Tocqueville para o melhor aluno do programa doutoral 
8. Outros interesses 
a. Corri uma maratona, plantei duas árvores, escrevi três livros e tive quatro filhos 
Sócio do Sport Lisboa e Benfica, Clube Desportivo de Paço de Arcos, Clube Desportivo Novo Banco

Como Presidente do Sindicato dos Bancários, como avalias o papel e a acção dos bancos na situação complexa do presente? 
Sou presidente do Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB), um dos seis sindicatos bancários. De qualquer forma, o SNQTB é o maior sindicato português. 
Os bancos e os bancários estão a ser vitais nesta crise, sanitária primeiro, económica depois. A capacidade de fazer chegar liquidez á Economia (famílias e empresas), de elaborar moratórias, entre outras, só são susceptíveis de serem feitas com um sistema bancário robusto, tecnologicamente apetrechado e com pessoas qualificadas. 

Normalmente os sindicatos são vistos como organizações ligadas (pelo menos, ideologicamente) à Esquerda; é o caso do SNQTB? Ou esta é uma visão demasiado simplista e redutora?
Muito simplista, se me permitem. O SNQTB é um sindicato de matriz independente, de qualquer partido político ou organização. E é fundador da União dos Sindicatos Independentes (USI), a terceira central sindical. 
A maior parte dos sindicatos em Portugal são de matriz independente, de qualquer partido ou ideologia. 
Por tudo aquilo que vimos na Alameda, neste primeiro de Maio, organizações há que se comportam como “donas disto tudo”, em termos sindicais. Mas a realidade, no terreno, desmente-as. 
Será, porventura, a altura ideal para os bancos e o sistema bancário recuperarem algum Crédito perdido na crise pretérita? 
Os bancários pagaram de forma cruel os desmandos de alguns, na pretérita crise. São e foram as vítimas inocentes de banqueiros laxistas, auditores coniventes, incentivos enviesados, etc. Foram das classes mais afectadas pelo desemprego (cerca de 25% dos bancários perderam o emprego) e pela redução das remunerações. 
A confusão entre banqueiros e bancários foi de todo em todo prejudicial aos trabalhadores bancários. 

A banca precisa de banqueiros? 
Os bancos e qualquer empresa precisam de gestores com elevados padrões éticos, profissionais, dedicados e experientes. E envolvidos com a sociedade. 
A gestão de empresas bancárias pode ser desempenhada pelos accionistas (banqueiros) ou por gestores profissionais. Conquanto os banqueiros sejam uma classe em desaparição, é de realçar o comportamento dos bancos cuja sede ou centro de decisão está em Portugal: a retenção e não distribuição de dividendos, relativos ao ano de 2019, como forma de capitalizar os bancos e melhor ajudar a Economia portuguesa neste período complexo de pandemia. 

Que desafios prementes enfrentam os bancos (tradicionais)? 
A crise económica, que se avizinha, e que tudo aponta que será a mais profunda desde o final da segunda grande guerra, será o facto mais marcante dos próximos anos. Economias débeis ou enfraquecidas introduzem pressão no sistema financeiro. 
Mas esta crise veio mostrar quem são as instituições financeiras que estiveram sempre de portas abertas, com bancários, a processarem as moratórias e as linhas de apoio às empresas, senhorios, inquilinos e famílias: os bancos de retalho! 
Não foram as fintechs, nem os bancos sedeados em paraísos fiscais que pouco empregam criam e nenhuns impostos pagam em Portugal…. 

Tens 3 livros editados na área do marketing; como os resumirias? 
Foram todos editados pela Universidade Católica Editora. Resultaram de minhas aulas (licenciaturas, mestrados, pós-graduações), formações, consultoria e posições de gestão que desempenhei ao longo de 30 anos de carreira profissional, em 4 continentes. E tive o privilégio de ter sido, em todos os livros, acompanhado de colegas de grande valia profissional e académica. 
São livros para os alunos mas também para os profissionais da gestão e do marketing. 

Colaboras com vários jornais. Como vês a imprensa e a comunicação social em geral? Independente, como devia? 
Sou colunista do Jornal Económico, mas tenho tido artigos de opinião e entrevistas em canais televisivos nacionais, jornais nacionais e regionais e rádios. Sou um consumidor e um produtor de conteúdos, e por isso sigo com especial pertinência a evolução do sector. 
É absolutamente vital para uma democracia a existência de comunicação social independente, séria e profissional. A decadência dos jornais e da comunicação social, devorada por um online onde a desinformação e boatos proliferam, é uma ameaça a uma sociedade que ser quer livre, exigente e desenvolvida. 
Uma das maneiras que podemos ajudar é comprar em banca ou assinar os jornais e revistas de que gostamos. Nada as pode substituir em termos de fiabilidade de informação, opinião abalizada, verificação de factos, entre tantas funções da comunicação social. 

É tempo de a economia se reinventar ou, passado o cabo das tormentas, continuará tudo como dantes? 
Os milenaristas encaram cada crise, como um momento de ruptura. Sinceramente, não creio que vá acontecer nada de profundamente diferente. Agora, certos fenómenos aceleraram: a digitalização, o tele-trabalho, um provável reforço de hábitos de higiene pessoal. 
Falta saber qual o impacto sobre os comportamentos sociais e de convívio. O que para uma sociedade e um país tão dependente do turismo e das actividades de acolhimento, é tudo menos que despiciendo. 

Dás aulas na Universidade Católica; o ensino continua a ser central no teu percurso profissional? 
Desde meados de 2016 suspendi as minhas aulas na Catolica Lisbon School of Business and Economics. Foi com pena, mas não estava a conseguir conciliar todos os compromissos. Mas dizer-vos que foi algo muito gratificante, que me incentivou a aprender, investigar, divulgar e ensinar. Muito do que sou hoje, como profissional, gestor, economista e sindicalista, devo-o aos mais de 4.000 alunos que tive. 
Espero poder recomeçar, numa nova etapa da minha vida profissional. 
Faz parte da minha filosofia de vida de tentar devolver um pouco do muito que recebi da sociedade. 

Tens origens no Adão e em Vila do Touro- Sabugal. Como vês o Interior? Terá futuro? Que futuro? 
Vejo uma oportunidade e uma ameaça. 
Oportunidade: a economia do conhecimento, as tecnologias de tele-trabalho e trabalho cooperativo, tornam possível que franjas crescentes de profissionais muito qualificados estejam a trabalhar a partir de geografias do Interior, de pequenas comunidades locais. Penso que é a maior oportunidade, em vários séculos, para o bem-estar de nossas comunidades locais que se situam no dito interior. 
Ameaça: para aproveitar a oportunidade que se nos abre, alguns dos benefícios das aglomerações urbanas têm que estar presentes: escolas e ATLs, habitação de qualidade a preços módicos, escritórios modulares que permitam aos tele-trabalhadores, de quando em quando, terem um sentimento de comunidade no trabalho. Cidades como Fundão, Portalegre, Covilhã, Cerveira, Angra do Heroísmo, etc, têm conseguido diferenciar-se. Para o Interior este é o desafio para atrair investimento e emprego qualificado: qualidade de vida sobre a forma de serviços e necessidades essenciais preenchidas. 

Vives em Lisboa desde sempre; que imagem tens da Guarda?
Vila do Touro. Adão. Sabugal. Belmonte. Guarda. São os locais de minhas férias de Verão, com meus pais e meus primos e tios. São recordações de tempos muito felizes, quase idílicos. 
Vejo a cidade da Guarda, onde volto frequentemente, como um local que fez um imenso progresso ao nível cultural, infraestruturas de educação e saúde, rodoviárias, entre outras. Devido ao grande salto das cidades médias do Interior, penso que qualquer habitante de Lisboa ou do Porto não desdenharia de na Guarda habitar e trabalhar. 

Uma pessoa que te tenha marcado na juventude?
Meu pai. Exemplo de trabalho. Disciplina. Abnegação e humildade. Um capitão de Abril, num golpe de estado, primeiro, revolução mais tarde, que democratizou e devolveu o poder à sociedade civil. Caso quase único na história política. 

Uma memória de infância? 
O Verão de 1975, no Adão, sem electricidade mas com meu avô Varandas, primos e muita alegria!

Que te diz Vila Mendo? 
Recordo com carinho meus primos e tios de Vila Mendo, e as tardes e serões que passámos juntos na minha meninice. 
Mais recentemente tive a surpresa de descobrir o entusiasmo da Capeia Arraiana num grupo de rapazes e homens de Vila Mendo! 
A existência deste blogue e dum conjunto de tradições comunitárias e de gentes da terra, ilustra bem o espírito e o orgulho dos Mendes (literalmente, os filhos de Mendo)! 

3 comentários:

paulo alexandre disse...

Obrigado pelo convite!

Luís Filipe Gonçalves Soares disse...

Agradecemos a tua receptividade.
Abraço

Anónimo disse...

Muito boa a qualidade dos entrevistados deste blogue.