sexta-feira, 22 de março de 2013

estórias da Terra- Júlio Antunes Pissarra


As Malaguetas
Entre, sensivelmente, meados das décadas de 50 e 60 o meu avô António Pissarra e minha avó Purificação detinham, em Vila Mendo, um pequeno estabelecimento comercial que se repartia por Mercearia e Taberna. A diversidade de produtos não era muita mas, sempre se encontravam Massa, Açúcar, Arroz, Conservas, Farinhas, Azeite, Pão, entre outras Miudezas. Na Taberna algumas Laranjadas e o Vinho eram reis.
O “gestor” deste espaço era o meu pai (José Pissarra) que repartia a sua atividade profissional entre o referido espaço e a colaboração, com meu avô, nas tarefas agrícolas e do negócio de gado.
O dia de maior clientela era o Domingo. Mas esse facto colidia com a vontade de meu pai acompanhar os seus amigos para um passeio dominical, que regularmente concluía com a visita a algum baile da região, e com a presença do fornecedor de pão. Este Senhor, que semanalmente se deslocava, de Burro, da Malhada Sorda até à nossa Terra, depois de descarregar os alforges fazia questão de beber vários “meios quartilhos” de vinho e antes do anoitecer não iniciava a viagem de regresso para a sua aldeia. Com o sucessivo repetir desta situação, meu pai e alguns amigos (Sr. José Vinhas, Sr. Clementino e Sr. António Vinhas) tiveram que encontrar uma forma deste honesto Moleiro deixar de perturbar as tardes de Domingo.
Depois de muita reflexão a solução foi encontrada!
O Domingo chegou e com ele regressou o Moleiro vindo da Malhada. Desta vez nem foi necessário, o senhor, pedir bebida já que o grupo de amigos fez questão de o obsequiar com uns “copos”. Com o líquido a subir à cabeça o Moleiro começou a dormitar, então meu pai e o Sr. José Vinhas iniciaram a “Operação Malaguetas”!
Enquanto, o Sr. José Vinhas, levantava a cauda do jumento, meu pai utilizando um pau, introduzia-lhe, no ânus, algumas malaguetas!!!
Com certeza a temperatura corporal do animal iniciou uma vertiginosa subida…! Subida essa que provocou uma tremenda reação que se manifestou no pular, urrar, dar coices ou rebolar pelo chão. Com este “chim-frim”, o seu proprietário, acordou. Desesperado com o comportamento do seu companheiro de tantas viagens, o Moleiro, tentava, em vão, consolar o animal. A chorar, “falava” com o animal e pedia-lhe para se acalmar, rezava a todos os Santos existentes e fazia promessas, a Deus, para que o animal não morresse! Volvida hora /hora e meia o sofrimento começou a decrescer e foi então que, já pela caída da noite, os dois companheiros seguiram viagem com destino à Malhada Sorda.
O Moleiro continuou a fornecer de pão, a Taberna, mas depois de contas feitas e de dois ou três “copos” bebidos lá regressava ao seu destino e desde então nunca mais o referido grupo de amigos viu prejudicadas as suas tardes e noites de Domingo.

P.S. Esta Estória foi-me relatada por meu pai (José Marques Pissarra).
                                                                       Júlio Manuel Antunes Pissarra

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