As Malaguetas
Entre,
sensivelmente, meados das décadas de 50 e 60 o meu avô António Pissarra e minha
avó Purificação detinham, em Vila Mendo, um pequeno estabelecimento comercial
que se repartia por Mercearia e Taberna. A diversidade de produtos não era
muita mas, sempre se encontravam Massa, Açúcar, Arroz, Conservas, Farinhas,
Azeite, Pão, entre outras Miudezas. Na Taberna algumas Laranjadas e o Vinho
eram reis.
O
“gestor” deste espaço era o meu pai (José Pissarra) que repartia a sua
atividade profissional entre o referido espaço e a colaboração, com meu avô,
nas tarefas agrícolas e do negócio de gado.
O
dia de maior clientela era o Domingo. Mas esse facto colidia com a vontade de
meu pai acompanhar os seus amigos para um passeio dominical, que regularmente
concluía com a visita a algum baile da região, e com a presença do fornecedor
de pão. Este Senhor, que semanalmente se deslocava, de Burro, da Malhada Sorda
até à nossa Terra, depois de descarregar os alforges fazia questão de beber
vários “meios quartilhos” de vinho e antes do anoitecer não iniciava a viagem
de regresso para a sua aldeia. Com o sucessivo repetir desta situação, meu pai
e alguns amigos (Sr. José Vinhas, Sr. Clementino e Sr. António Vinhas) tiveram
que encontrar uma forma deste honesto Moleiro deixar de perturbar as tardes de
Domingo.
Depois
de muita reflexão a solução foi encontrada!
O
Domingo chegou e com ele regressou o Moleiro vindo da Malhada. Desta vez nem
foi necessário, o senhor, pedir bebida já que o grupo de amigos fez questão de
o obsequiar com uns “copos”. Com o líquido a subir à cabeça o Moleiro começou a
dormitar, então meu pai e o Sr. José Vinhas iniciaram a “Operação Malaguetas”!
Enquanto,
o Sr. José Vinhas, levantava a cauda do jumento, meu pai utilizando um pau,
introduzia-lhe, no ânus, algumas malaguetas!!!
Com
certeza a temperatura corporal do animal iniciou uma vertiginosa subida…!
Subida essa que provocou uma tremenda reação que se manifestou no pular, urrar,
dar coices ou rebolar pelo chão. Com este “chim-frim”,
o seu proprietário, acordou. Desesperado com o comportamento do seu companheiro
de tantas viagens, o Moleiro, tentava, em vão, consolar o animal. A chorar,
“falava” com o animal e pedia-lhe para se acalmar, rezava a todos os Santos
existentes e fazia promessas, a Deus, para que o animal não morresse! Volvida
hora /hora e meia o sofrimento começou a decrescer e foi então que, já pela
caída da noite, os dois companheiros seguiram viagem com destino à Malhada
Sorda.
O
Moleiro continuou a fornecer de pão, a Taberna, mas depois de contas feitas e
de dois ou três “copos” bebidos lá regressava ao seu destino e desde então
nunca mais o referido grupo de amigos viu prejudicadas as suas tardes e noites
de Domingo.
P.S.
Esta Estória foi-me relatada por meu pai
(José Marques Pissarra).
Júlio
Manuel Antunes Pissarra
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