De
nome próprio José Alves, este senhor, nasceu no dia 27 de Março do Ano da Graça
de 1924. As suas quatro primeiras décadas de vida passaram-se a trabalhar na
agricultura, a ganhar “o dia” e a
servir como Pastor. Muitas vezes vagueava pelos Mercados da zona onde procurava
trabalho. A esta sua busca Vila Fernando também não era alheia, já que
regularmente frequentava a Tasca da Mariazinha. Certo dia, meu Pai, estava no
referido local e por la apareceu o T´Zé Pôpo. Depois de alguns “copos” bebidos meu pai perguntou-lhe se
queria ir para Vila Mendo trabalhar como Pastor. Logo aceitou. Chegados a Vila
Mendo, meu Pai explicou a meu Avô [António Pissarra] o sucedido. Desde esse dia
o T´Zé passou a ser mais um funcionário da casa. Mas foi sol de pouca dura
visto que passados alguns dias, sem nada dizer, desapareceu. O tempo passou e
volvido, sensivelmente, um mês meu Pai reencontrou-o numa Taberna do Adão. Já
com o vinho a produzir efeito, quando viu meu Pai, começou a chorar e a
suplicar-lhe que lhe desculpasse e o deixa-se regressar a Vila Mendo, pois “nunca tinha sido tão bem tratado”. Mas
meu Pai disse-lhe que não podia prometer nada devido à forma como tinha ido
embora. No entanto lá foram para a nossa Aldeia. Mas meu Avô já não o queria
para Pastor devido à maneira como se tinha comportado. Apesar de tudo, com os
pedidos de meu Pai, meu Avô lá acedeu, mas logo o avisou que não tinha outra
oportunidade. Desde esse mês de Setembro de 1969 até à sua morte em 1994 esse
Senhor foi, em casa do meu Avô, tratado como mais um da família.
Sempre
foi uma pessoa simples, humilde, respeitadora, educado e, acima de tudo, muito
divertida. Estava sempre disposto para a chalaça, brincadeira ou uma, muito característica,
“mugafa” (carantonha). A minha Avó São e minha Madrinha
Marques eram, quase diariamente, alvo das suas brincadeiras. As duas irmãs,
regularmente, diziam: “”Rela-nos” a cabeça!”
Sempre
gostei muito dele e sei que também era meu amigo. Aliás ele dizia que as
pessoas de que mais gostava eram meu Avô, meu Pai e eu. Sempre o recordarei com
amizade e carinho, até porque, de entre outras estórias com ele, quando lhe
perguntavam há quantos anos estava em Vila Mendo, ele respondia: “São os mesmos que o Jú tem de vida. Vim
para cá um mês antes de ele nascer!”.
No
Rebanho que ele pastoreava existiam algumas ovelhas que lhe pertenciam. Então
no dia em que, pela primeira vez, fui nomeado Mordomo da Festa de Vila Mendo
ele disse: “Para o ano vamos matar, no
dia da Festa, o melhor Borrego que eu lá tiver!”. E assim foi!
Mas
o dia de que, ele, mais gostava era o de Consoada! Logo que eu, pela manhã,
chegava a Vila Mendo, a “piscar” o
olho, perguntava: “À noite vamos lá?”.
Depois de Consoarmos começava, tentando disfarçar, a dizer: “”Tou”
com uma soneira. Já vou para a
cama!”. Eu, então, fazia-lhe sinal e, ele, lá dizia “boa-noite” e descia as escadas. Depois de me esperar, lá iamos os
dois para a Fogueira de Natal, mas antes disso entregava-me, sempre, dinheiro
para “pagar a minha parte e a sua” - dizia. Por ser simpático e divertido toda
a gente gostava da sua presença, por isso essa noite terminava sempre com a
tentativa de lhe comprarem um Borrego e uma grande… borracheira! Várias vezes,
com a ajuda de alguns amigos, tive de o levar em ombros para a cama!
Uma
característica sua era gostar bastante de fumar e comer/beber coisas doces. Diariamente
fumava “Kentucky”, no entanto meu Tio
Victor Moura e meu Pai (mais regularmente) sempre que iam a Vila Mendo
ofereciam-lhe “SG Gigante”, então
cheio de felicidade fazia uma “mugafa”
das suas e exclamava: “Gosto! Gosto!
Gosto! Quando Gosto, Gosto!”. Mas os Doces eram a sua grande perdição!
Desde o café, ao refresco de café preto com água, das sobremesas, às Sopas de “Cavalo Cansado” tudo tinha que estar
carregado de açúcar. Muitas vezes, principalmente no Verão, quando carregávamos feno ou palha ele dizia: “Se cá
apanhasse um litro de água, um de vinho e um quilo de açúcar…! Ia tudo de uma
vez!!!”.
Mas
com o passar dos anos aliou todo este espírito divertido a uma preocupação: o
T´Zé Pôpo tinha medo que meu avô falece-se primeiro do que ele (o que não se
verificou). E só perdeu, em parte, essa preocupação quando meu Pai lhe prometeu
que se isso acontecesse ele iria trabalhar e viver para “a nossa Quinta de Vale de Estrela”.
Com
o aparecimento de problemas de saúde, que foram fulminantes, foi internado no
Hospital Distrital da Guarda. O Médico que o acompanhava logo informou de que
era situação irreversível e que o tempo de vida seria curto. Então minha Mãe
questionou o Médico sobre a possibilidade de lhe dar, diariamente, algo que o
satisfizesse e lhe aliviasse o sofrimento. O Médico concordou. Desde então,
diariamente, minha Mãe alimentava-o com um dos seus manjares prediletos: “Café Preto” bem doce! Para ele era reconfortante
e uma enorme felicidade!
Certo
dia enquanto eu e minha Mãe faziamos a visita, o T´Zé, com as lágrimas a correrem
pela cara, afirmou: “ Jú, obrigado por
me vir ver. Já nunca mais volto a Vila Mendo!”. Passados poucos dias,
faleceu…
Júlio Antunes Pissarra
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