É vê-la num afã quase que extasiante para refrear a impetuosidade dos dois cães (mais acostumados a lançar boca a uma lebre ou codorniz...) que providencialmente atados com duas guitas corriqueiras, se debatem para o livramento de tais amarras, até para eles incomuns. E grita com eles e ameaça-os que não volta a trazê-los à rua... para passado pouco se debruçar sobre eles e os festejar... para passado pouco voltar a vociferar alto e bom som, num ciclo que parece não findar. Atrás, as cabras e as ovelhas; seguem-na, quase que indiferentes, como se fossem espectadoras assíduas de um espectáculo costumeiro, já habituadas aos desmandes de tais artistas.
-Oh Maria, olha que as tuas cabras andaram outra vez no meu lameiro!
-Coitadinhas, estavam com tanta fome. - responde, lesta e com olhar tão cândido que inibe qualquer reacção mais intempestiva de quem quer que seja.
- E os cães Maria? Presos com esses baraços?
- ... Senão fogem-me. Psiu, quetos... - os cães, irrequietos, puxam-na uma e outra vez e lá vai ela, quase que arrastada...
- Cabras dum raio! Pr`a cá... olha que... - e afasta-se a praguejar, indecisa de deixar os cães para ir atrás das cabras que, fartas do alarde, trepam as paredes aventurando-se num terreno verdejante, certas de que, com o avanço tido, podem começar a matar a larica...
É a Maria "do Tróia".
1 comentário:
A ruralidade tem destas preciosidades que a maioria das pessoas da cidade já nem imaginam que aconteçam. Obrigado pela partilha.
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